Em entrevista exclusiva à CNN, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o país com maior número de brasileiros aguardando repatriação é Portugal, onde ainda permanecem dois mil brasileiros, em meio à pandemia do novo coronavírus. “Pela negociação com várias companhias, já trouxemos quase 1.500 nesses últimos dias”, explicou.
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Segundo o ministro, a maior preocupação do governo brasileiro é “colocar os brasileiros em voos e fazê-los chegar ao Brasil”.
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Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Número de turistas brasileiros impactados pela crise do coronavírus: Começamos a crise com quase dez mil viajantes brasileiros no exterior, retidos por fechamento de fronteiras, cancelamento de voos etc. Já viabilizamos o retorno de cerca de três mil pessoas, em sua maioria de Portugal, Marrocos e Peru. Ainda há cerca de seis mil para trazer de volta ao Brasil.
Procedimentos sanitários na chegada: No momento, nossa maior preocupação é colocar os brasileiros em voos e fazê-los chegar ao Brasil. Aqui, deverão seguir as orientações das autoridades sanitárias (Ministério da Saúde, ANVISA). Os que tiverem teste positivo para o coronavírus deverão ficar em isolamento.
A assistência prestada pelo Itamaraty nessa crise: Ela ocorre de várias formas, numa geometria variável com cada país. Por exemplo, negociamos com países que impuseram restrições a voos – por exemplo, com o Marrocos conseguimos estender o prazo para fechamento do espaço aéreo. Com apoio das companhias aéreas que operam no Brasil (por exemplo, Gol, Latam, Avianca, Azul, TAP), do Ministério do Turismo e da Embratur, conseguimos trazer brasileiros que tiveram voos cancelados ou outros problemas específicos. Há casos de brasileiros que começam a não ter onde ficar (hotéis fechados e sem funcionários etc.), por isso, nossa prioridade é trazê-los de volta. Mesmo para assistência consular, nossa capacidade é limitada frente a problemas como esses, pois muitas vezes os brasileiros estão em hotéis que já não têm como operar.
Há estimativa de prazo para a chegada desses brasileiros que ainda estão no exterior? É difícil estimar, mas trabalhamos para ser o mais rápido possível. Isso muitas vezes depende da mobilização de companhias aéreas ou marítimas. Por exemplo, houve um navio de cruzeiro, com destino a Portugal, com 700 brasileiros a bordo, dos quais já conseguimos repatriar cerca de 500. Gostaria de dizer que a crise acabaria hoje, mas estamos trabalhando para ser o mais rápido possível.
Qual o país com maior número de brasileiros aguardando repatriação? No momento, é Portugal, onde ainda permanecem dois mil brasileiros. Pela negociação com várias companhias, já trouxemos quase 1.500 nesses últimos dias.
A CNN recebeu notícias e reclamações de dificuldade de atendimento em alguns consulados. Existe algum país onde os consulados brasileiros estejam fechados? Todas as embaixadas e consulados brasileiros estão funcionando. Em alguns casos, as repartições físicas devem obedecer restrições locais para fechamento de edifícios, bloqueios, toques de recolher etc. Onde algo está fechado, é por restrição local. Mas isso não quer dizer que não estejam trabalhando, muito pelo contrário, ajudam a negociar, avaliando, reunindo informações para saber quantos são e onde estão os brasileiros. Por isso, insistimos para as pessoas manterem atenção nas redes sociais do Itamaraty. Várias pessoas estão aqui em Brasília também. 1.500 diplomatas e demais servidores trabalhando pelo retorno dos brasileiros. Se as pessoas telefonam e encontram linhas congestionadas, saibam que estamos totalmente disponíveis e trabalhando insistentemente. Elas precisam mandar informações para mapearmos onde estão os problemas.
Como as famílias com parentes no exterior podem ajudar no processo de trazer de volta seus entes queridos? É fundamental termos informações e um telefone de contato. Os familiares devem procurar o grupo de crise, nos telefones que estão no site, dependendo da região onde está a pessoa, aí conseguimos contatá-la, colocá-la em nossas listas e informar onde há disponibilidade de voos e ações de repatriação.
Estará mantida a reunião do G20 por videoconferência, anunciada para esta semana? Que assuntos serão tratados? Sim, a presidência saudita do G20 quer fazer uma videoconferência nesta semana, com os Chefes de Estado. Consideramos muito útil uma discussão nesse nível. Por exemplo, já participei de três videoconferências com grupos menores de chanceleres e considero muito útil esse tipo de coordenação sobre o que os países estão fazendo, quais as políticas implementadas frente à crise, como, por exemplo, o que foi feito na Coreia do Sul, etc. Outra dimensão muito importante, é que o G20 ganhou relevância na crise econômica de 2008, por isso tem papel frente ao impacto econômico da pandemia na economia mundial e sobre como manter emprego e atividade econômica. Aqui, o Presidente e o Ministro da Economia já anunciaram medidas, mas outros países também têm preocupação em manter a economia global minimamente aquecida.
Existe algum registro de brasileiros infectados pelo coronavírus no exterior? Não até o momento, e esperamos que continue assim.
O Itamaraty presta algum apoio aos brasileiros no exterior em quarentena? Algum acompanhamento psicológico? Temos de nos concentrar na questão operacional de conseguir voos e transporte (terrestre, por exemplo, na Argentina) e estar atentos aos brasileiros que estão ficando sem ter onde ficar. Nossa capacidade é limitada. A rede de postos no exterior, por maior que seja, não está em todo lugar. Em algumas cidades, por exemplo, não há consulado próximo. Apesar das dificuldades, os brasileiros têm de ficar o mais confiantes possível, sabendo que conseguirão voltar para casa.
Qual o impacto do coronavírus nos acordos comerciais em andamento – por exemplo, no acordo Mercosul-UE, considerando uma grande vitória desta administração? Em todas as medidas tomadas, sempre temos o objetivo de não prejudicar o comércio, o trânsito de mercadorias, os transportes marítimo e aéreo. É importante o G20 se coordenar para impactar o menos possível o transporte marítimo e aéreo, para manter a demanda mundial em nível mínimo. Temos o compromisso de terminar negociações em curso (com o Canadá, Japão, Coreia do Sul, EU etc.). Quando a vida voltar ao normal, a agenda comercial certamente será um elemento importante para atingir o crescimento que esperamos para o Brasil.
Finalmente, ministro, como membro da comitiva presidencial aos EUA, o senhor fez o teste do coronavírus? Fiz dois testes, o resultado de ambos foi negativo.
Porque não coloca todos no navio que esta en Portugal e trás de volta a santos/sp onde iniciou o embarque, no navio cabe mais passageiros que em vários avioes.
Estou no navio!!!