CONSELHO EDITORIAL DO DT (publicado dia 20 de agosto)
O atentado que fustigou a emblemática Barcelona e assombrou o mundo em 17 de agosto extrapola as marcas de sangue e desespero em La Rambla. A pronta reivindicação de autoria do Estado Islâmico não encerra a questão – ao contrário, abre campo para indagações que esperam respostas. Uma delas: até que ponto o EI tem controle sobre o modus operandi de seus adeptos? A matança bárbara de pessoas comuns, oriundas de diversas nações e de diferentes faixas etárias, entregues à liberdade de se divertir e exercer a cidadania, ultrapassa os limites da demência.
Ao trucidar inocentes em uma caixa de ressonância excepcional, onde a atividade turística é marca registrada e gera milhares de euros e empregos, o fundamentalismo impõe medo e semeia o desalento. Quem não estaria perguntando “quando e onde será a próxima matança”? Por que, afinal, canalizar toda a insanidade contra aquela que é considerada a ‘indústria da paz’?
Enquanto os corpos eram recolhidos e contados, os autores caçados ou mortos, lembra-se que desde 11 de março de 2004 a Espanha não conhecia nada igual no gênero. Porém, a tragédia traz à baila outras questões latentes que precisam ser levadas em conta. Uma delas diz respeito à situação política da Catalunha, que trava uma luta secular de cunho separatista.
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Esse viés político acaba pesando, porque a Catalunha tem sido, dentro da Espanha, um lugar de risco importante por ser um dos focos do jihadismo e radicalização, junto com Ceuta, Melilla e a área metropolitana de Madri. Será que a magnitude do crime do dia 17 de agosto não servirá para trazer a política catalã à realidade? Não teria chegado a hora de os governantes trabalharem em benefício dos verdadeiros e principais interesses dos cidadãos?
A luta contra o terrorismo requer alto grau de coordenação e unidade de ação entre as diferentes administrações e forças de segurança do Estado. Adicionalmente, cabe compreender melhor e adotar meios para desmobilizar movimentos considerados turismofóbicos, não só na Espanha como em outras partes da Europa. Essa ação passaria, seguramente, pelo reexame das contrapartidas da indústria turística para as comunidades impactadas. E, também, dos interesses de grupos poderosos, que enxergam o turismo como vetor de desassossego para clientes encastelados em suas mansões. Só a gestão competente de conflitos ratificará a atividade turística como uma autêntica ‘indústria da paz’.