Em um movimento que abalou os alicerces da diplomacia e das relações comerciais internacionais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país norte-americano, a partir de 1º de agosto.
CONSELHO EDITORIAL DO DIÁRIO*
Mais que um gesto isolado de protecionismo econômico, a medida carrega implicações profundas e imediatas para diversos setores da economia brasileira – e atinge, com contundência, um setor particularmente sensível: o turismo.
Enquanto os holofotes se voltam aos impactos sobre o agronegócio, a indústria de base e o comércio exterior, é imperativo destacar o efeito dominó que se insinua sobre a cadeia turística. Afinal, o turismo é, por natureza, um reflexo direto das condições macroeconômicas – e, nesse cenário, a instabilidade gerada pelo tarifaço tende a respingar com força sobre a confiança do investidor, o apetite do consumidor estrangeiro e a competitividade do Brasil como destino global.
A medida de Trump, disfarçada sob o manto de um suposto “desequilíbrio comercial”, ignora as estatísticas oficiais que indicam superávit dos EUA na balança com o Brasil por quase duas décadas. Mais que isso, traz embutida uma narrativa ideológica, ao misturar comércio com política interna brasileira, mencionando decisões do Supremo Tribunal Federal e manifestações de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para o turismo, o impacto é triplo. Primeiro, há o câmbio: o anúncio já pressiona o dólar para cima, encarecendo viagens internacionais para brasileiros e tornando o Brasil, por tabela, um destino mais barato para estrangeiros. Mas este “benefício” aparente é ilusório: ele vem acompanhado de um contexto de insegurança jurídica e volatilidade que afasta grandes operadores e investidores do setor.
Em segundo lugar, os reflexos indiretos sobre o consumo afetam diretamente a aviação, a hotelaria e os serviços de alto padrão. Com o agronegócio pressionado, commodities encarecidas e cadeias logísticas em alerta, o Brasil pode experimentar um desaquecimento econômico que atingirá em cheio o turismo corporativo e de eventos, uma das principais engrenagens do setor.
Por fim, a imagem internacional do Brasil sofre. O país que vinha se reposicionando como destino sofisticado, sustentável e aberto ao mundo – especialmente nos segmentos de luxo e experiências autênticas – agora corre o risco de ser visto como um território instável, sujeito a reações imprevisíveis das grandes potências.
Neste contexto, é essencial que o governo brasileiro articule uma resposta firme, estratégica e diplomática. A retaliação tarifária, embora prevista na legislação, deve vir acompanhada de um plano de resgate da confiança internacional e de estímulo ao turismo doméstico e de nicho – setores capazes de reagir com agilidade à crise.
O tarifaço de Trump não é apenas um embate comercial. É um teste de maturidade para a diplomacia econômica do Brasil e um alerta para a necessidade urgente de diversificar mercados, fortalecer a imagem do país no exterior e proteger os pilares da indústria do turismo – um setor que representa mais de 8% do PIB nacional e que não pode ser refém de disputas geopolíticas.
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