por Fábio Steinberg*
Como uma orquestra surreal desprovida de maestro, que consegue misturar músicos talentosos com uma maioria medíocre, o turismo brasileiro é hoje uma soma de gente séria e bem-intencionada com livre atiradores que se dirigem de forma atabalhoada em direção ao Nada.
Com isto, num salve-se quem puder, cada um toca sua própria melodia, provocando um caos sonoro. Na maioria das vezes, prevalece quem berra mais alto. Desnorteados, os participantes tendem a se abraçar a lideranças equivocadas ou a modelos de negócio obsoletos, num trágico abraço de afogados.
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O resultado é a incapacidade de explorar o imenso potencial turístico do país. Falando claro: o Brasil patina há décadas em ridículos patamares de seis milhões de visitantes estrangeiros por ano, patrocinado por uma parceria público-privada catastrófica para o desenvolvimento do setor.
Matando um leão por dia para sobreviver, os empresários do turismo fazem o que podem. Aos sobressaltos, nunca sabem se vão acordar com um imposto absurdo, uma lei inviável, ou alguma nomeação política danosa ou declaração demagógica de pseudo-autoridades capazes de acelerar o caminho para o abismo.
Em contraste, há países dão aula de competência em turismo. Como o Chile, que teria tudo para dar errado. Primeiro, por sua localização no extremo oeste da América do Sul, longe de tudo e de todos. Sua área geográfica quase 12 vezes menor que o Brasil e uma população inferior à Grande São Paulo, convive com uma das formas territoriais mais esquisitas do planeta.
A extensão de 4.270 km de norte a sul e apenas 177 km de leste a oeste fazem do Chile o país mais estreito do mundo. Mas o pior é que está instalado sobre uma placa tectônica muito ativa, que contempla vez ou outra com violentos terremotos e maremotos. Basta dizer que em 1960, ali se registrou o maior sismo da história, que atingiu 9,5 graus na escala Richter, e provocou ondas de 10 metros de altura, causando sérios estragos ao país.
Diante de sua geografia desvantajosa, o que fez o Chile? Do limão fez limonada e com perspicácia transformou seu passivo em vantagem competitiva.
Diante de sua geografia desvantajosa, o que fez o Chile? Do limão fez limonada e com perspicácia transformou seu passivo em vantagem competitiva. Com programas eficazes e garra, recebe hoje quase 4 milhões de visitantes por ano, – ou seja dois terços do alcançado pelo vizinho gigante – e que trazem U$ 8.3 bilhões a este pequeno, mas valente país. Não vive apenas do imenso fluxo de mais de 2 milhões de argentinos e 1 milhão de viajantes brasileiros, mas cada vez mais de turistas que chegam de todas as partes do mundo.
Não poderia encontrar melhor anfitrião que o seu povo amável para apresentar suas diversificadas atrações naturais. Elas vão do árido deserto de Atacama aos cristalinos lagos do altiplano e do sul, dos vulcões e estações de esqui e Patagônia com suas natureza intocada e geleiras deslumbrantes, às ilhas de Chiloé e de Páscoa. Isto sem falar na gastronomia, vinhos e cultura chilenos.
Durante o Fórum Panrotas deste ano, um dos raros oásis de inteligência do setor no Brasil, a jovem e entusiasmada Subsecretária de Turismo do Chile, Javiera Montes Cruz, sintetizou a razão dos excelentes resultados obtidos em seu país. “Temos paisagens únicas que preservam a natureza em seu estado puro e inexplorado, que convida à aventura e o descobrimento, oferecendo múltiplas experiências cheias de emoções e sensações em locais seguros e confortáveis com sabores de uma cultura autêntica e acolhedora”.
O segredo aqui não foi promover ações isoladas, mas sim atender com consistência a um Plano Nacional de Desenvolvimento Turístico Sustentável, que prevê para 2016 investimentos no marketing internacional de US$15.8 milhões, dos quais US$ 1.9 milhão só para o Brasil.
No encerramento da sessão, tanto as autoridades turísticas do Chile como da Argentina presentes deixaram claro que ações integradas com o Brasil resultariam em sinergia muito vantajosa para os três países. Na ausência de um representante governamental brasileiro naquele momento (como, aliás, sempre), foi o inconformado empreendedor Guillermo Alcorta, presidente do Panrotas, que fez as honras da casa com uma pergunta pertinente: “O que ainda impede adotar uma abordagem integrada e estratégica para o turismo destes países voltados aos mercados internacionais? ”.
*Fábio Steinberg é jornalista e fundador do portal Viagens e Negócios