segunda-feira, julho 21, 2025
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Embraer: Referência Global em Aviação e os Impactos das Tarifas Americanas sobre a Indústria Brasileira

Com quase cinco décadas de presença marcante no mercado norte-americano, a Embraer se vê agora no epicentro de uma tensão comercial que ameaça desestabilizar parte significativa de sua atuação internacional.

REDAÇÃO DO DIÁRIO com agências


O anúncio feito pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que produtos brasileiros seriam submetidos a uma taxa adicional de 50% a partir de 1º de agosto, reacendeu os holofotes sobre a fabricante de aeronaves – ícone da indústria aeroespacial brasileira.

A medida, ainda envolta em incertezas, acende um alerta especialmente no que diz respeito à aviação regional americana, segmento em que a Embraer atua com um protagonismo indiscutível. Estima-se que cerca de um terço dos voos regionais em grandes aeroportos dos EUA são operados com aeronaves da marca. Isso se deve, entre outros fatores, ao fato de seus jatos E1 se encaixarem perfeitamente na “scope clause”, cláusula que regula o tamanho das aeronaves em voos operados por companhias menores americanas.

Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer, foi categórico ao comparar o impacto potencial das tarifas ao da pandemia da Covid-19. Segundo ele, uma sobretaxa de 50% pode representar um custo adicional de R$ 50 milhões por aeronave, totalizando cerca de R$ 2 bilhões ainda em 2025 – e possivelmente R$ 20 bilhões até 2030. Os efeitos poderiam incluir desde cancelamentos de pedidos e adiamento de entregas até a redução de investimentos e a reavaliação do quadro de funcionários.

A Embraer, fundada em 1969 com sede em São José dos Campos (SP), carrega em seu DNA o espírito da inovação e da conectividade nacional. A história da empresa se confunde com a própria evolução tecnológica do setor aeronáutico no Brasil. O marco inicial foi o projeto do Bandeirante, avião turboélice que alçou voo em 1968, pensado para conectar regiões isoladas do território nacional.

A partir daí, a trajetória foi marcada por saltos ambiciosos. Dos primeiros modelos como o EMB-200 Ipanema, voltado para a agricultura, até o sofisticado EMB-314 Super Tucano para defesa, a Embraer construiu um portfólio diversificado e robusto. A década de 1980 marcou sua entrada no mercado internacional com o EMB-120 Brasília, ao mesmo tempo em que sua linha executiva nascia para atender um público cada vez mais exigente.

Nos anos 1990, a empresa enfrentou sua maior turbulência. À beira da falência, foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco. Essa nova fase trouxe uma guinada estratégica. Com a golden share ainda nas mãos do governo, a Embraer expandiu, lançou o ERJ-145 e criou os bem-sucedidos E-Jets, que hoje dominam o mercado de aeronaves de até 150 assentos.

A internacionalização ganhou força a partir de 2010, com unidades industriais nos EUA, México e Portugal, além de novos lançamentos como os jatos Praetor e o cargueiro C-390. Uma tentativa de fusão com a Boeing, anunciada em 2018, não se concretizou – rompida pela empresa americana em 2020, sob alegações contestadas pela Embraer, que mais tarde recebeu US$ 150 milhões em indenização.

Apesar das adversidades, a Embraer permanece resiliente e estratégica. A recente venda de 45 jatos E195-E2 para a Scandinavian Airlines (SAS), no valor de US$ 4 bilhões, evidencia seu apelo global. Como lembrou o economista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, o mercado de fabricantes é pequeno e restrito. “Você tem milhares de companhias aéreas e apenas três grandes fornecedoras. O poder está muito mais na mão da Embraer – e da Boeing e Airbus – do que o contrário.”

Mesmo diante da ameaça tarifária, a Embraer continua a ser peça-chave na engrenagem da aviação mundial. E, como tantas vezes na sua história, deve encontrar nos céus turbulentos a inspiração para seguir voando alto.

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