Empresários e gestores do turismo da Bahia ignoram receptivo de Salvador

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José Queiroz*

Se o turismo de Salvador dependesse apenas de eventos e negócios já teria parado há muito tempo! Ou existiria apenas para os empresários do setor e os gestores públicos. É emblemática a maneira como os detentores do dinheiro e das instituições maiores, e do poder, ignoram solenemente o conhecimento e as necessidades dos milhares de pequenos empreendedores e profissionais da cadeia do Turismo Receptivo, especializados em turismo de lazer e cultural, os quais têm sustentado o receptivo da cidade, principalmente nos últimos anos, já que não tem havido eventos em Salvador!

No último dia 11 de junho, o Conselho Baiano de Turismo organizou uma manifestação em defesa da permanência e recuperação do centro de convenções da cidade, com a presença de empresários, políticos do estado e do município, sindicalistas, agentes de viagens, guias de turismo, sindicalistas e imprensa. Mais uma vez, o Conselho que deveria trabalhar e proteger todos os segmentos do turismo no estado, e as peculiaridades de cada município, reiterou sua prioridade no turismo de eventos e de negócios, conceitos discutíveis, porque evento e negócio é trabalho, não é turismo!

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Perguntem a um participante de evento se ele se sente turista! Não! Ele está longe da família, para ensinar ou aprender, sob pressão, por pouco tempo, e não gasta como um turista de férias por uma semana em todos os ambientes e locais ao redor da cidade. Por causa disto, as instituições culturais, por exemplo, estão vazias, negócios fechando. Lugares como Morro de São Paulo, Recôncavo Baiano, e a própria Praia do Forte que prometia ser o paraíso dos eventos, estão esvaziando, pois as pessoas que tem tempo de passear querem ir ao Pelourinho, ao Mercado Modelo, comer um acarajé, falar com baianos – não com organizadores de eventos! – ser chamado de ‘meu rei’, etc.!

Há uma indústria por trás dos eventos e negócios que gera muito dinheiro e rápido, desde a organização, inscrição e vendas de stands, passando pelo rico negócio das passagens, translados e hospedagens, até a propriedade de hotéis e centro de convenções. E o milionário negócio dos shows ‘corporativos’, que são mais caros para empresas e governo! Porém, do 1,035 bilhão de pessoas que viajaram pelo mundo em 2013, apenas 0,7% passaram pelo Brasil – número não confiável! – por falta de infra estrutura, segurança e conhecimento dos interesses do turista moderno. Quase 30% desses turistas estão entre França, Espanha, Estados Unidos e China. E o brasileiro que quer viajar no país fica prejudicado pela ausência de investimentos em turismo de férias, e são direcionados para viajar ao exterior, outro negócio monumental para operadoras.

Há alguns anos, iniciativas de empreendedores e profissionais do Pelourinho e do Turismo Receptivo vêm tentando sensibilizar o Conselho Baiano de Turismo e os governantes do estado e do município para as necessidades do setor, que não funciona apenas três meses no ano, como disse Luiz Leão, presidente do Conselho, não depende exclusivamente do centro de convenções, como disse José Alves, presidente da ABAV Bahia, nem foi negligenciado por governos passado, como disse o deputado estadual Alex Lima. O turismo baiano foi desvirtuado, sim, pelas instâncias do turismo e pelo governo do estado desde 2007! Salvador precisa do centro de convenções, mas precisa de outros cuidados, assim como as demais cidades turísticas do interior da Bahia.

Entretanto, a Prefeitura de Salvador finalmente se sensibilizou com a situação do turismo local, seriamente afetado pela falta de aeroporto, do centro de convenções e de segurança no Centro Histórico, atribuições do governo, e resolveu capitanear um verdadeiro mutirão de recuperação, cooptando o próprio Governo do estado que, por sua vez, está usando os recursos federais que dispõe. Está sendo feito um trabalho abrangente com o comércio de rua que incomoda baianos e turistas, e o Governo da Bahia reativou a Polícia Turística, com pessoal e equipamentos modernos. Melhorou sensivelmente! Mas, falta muito!

Falta, principalmente, o trade supostamente profissional e representativo, fazer o mesmo esforço pelo turismo de férias em toda a Bahia! Cuidar dos atrativos, preparar e fiscalizar a mão de obra, transporte de qualidade, segurança, publicidade, acesso, bons hotéis, etc. Na verdade, faltam empreendedores e profissionais, de cada município, organizarem-se e lutarem por seus negócios, e cobrar de gestores privados e públicos o retorno das taxas e impostos que eles pagam e só enriquecessem alguns!

*José Queiroz é guia de turismo em Salvador

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Nota do Editor – Os artigos assinados não expressam, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação, sendo o conteúdo e informação de inteira responsabilidade de seus autores.

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