Pesquisa do Sebrae aponta que os empreendimentos do enoturismo estão abrindo suas propriedades para visitas, além de investir na diversificação de produtos e serviços
Passeios de trator, cursos, artesanato, além do turismo de experiência em vinhedos. Uma pesquisa inédita do Sebrae revela que as vinícolas brasileiras estão apostando na combinação com outras atividades ligadas ao turismo para aumentar seu potencial competitivo e valor de mercado. A atuação com o enoturismo já é realidade para mais de 85% dos estabelecimentos desse setor que, para além de trabalhar somente com a produção de vinhos e derivados da uva, têm aberto suas propriedades para visitantes de todo o país.
A maioria das vinícolas (63,7%) adotam a estratégia de diversificação como um diferencial competitivo. Ao atuar em mais de uma categoria, a empresa pode se tornar mais atraente, agregar valor ao seu produto e aumentar os seus ganhos. A montagem de pacotes de visitação e degustação, por exemplo, geram um maior ticket médio, impulsionando os negócios do segmento.
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O levantamento do Sebrae utilizou como base dados do Ministério da Agricultura e informações coletadas junto dos estabelecimentos vitivinícolas que atuam com o segmento de enoturismo, ou turismo de vinhos – que leva em consideração a existência de estruturas para o turismo (como chegar, onde comer e dormir) e das peculiaridades e tipicidades de cada território.
“Podemos dizer que o setor do turismo e o do vinho são parceiros simbióticos e incorporados em um ecossistema produtivo altamente sustentável. O enoturismo permite a integração dos setores primário (vitícola/agricultura), secundário (vitícola/indústria) e terciário (comércio e turismo/serviços), além de destacar os atributos e particularidades de cada terroir“, explica Germana Magalhães, analista de Competitividade do Sebrae.
Perfil do setor
Segundo o estudo do Sebrae, dentre as vinícolas que abrem suas portas para visitação turística, percebe-se uma clara preferência por visitações agendadas, chegando a 58% das empresas entrevistadas. Nesse sentido, as vinícolas de médio e grande porte optam, em sua maioria, pela modalidade de visitação espontânea, com horários de funcionamento bem definidos e roteiros pré-estabelecidos e divulgados em suas redes sociais, por exemplo.
As vinícolas que ampliaram seu leque de opções para os turistas estão investindo em produtos e serviços sob medida para os visitantes. A lista é grande e conta com atrativos como colheita de uvas, passeio para os visitantes, participação na vinificação, harmonização de refeições, hospedagem familiar em sistema de pousada, degustação e comercialização de queijos, produtos de charcutaria e demais produtos associados e cursos teóricos de vinificação e de formação de sommeliers.
Oportunidade para agregar valor
Adriana Carvalho enxergou no enoturismo uma oportunidade há quase dez anos, no fim de 2014, quando era uma das sócias da Vinícola Pirineus, em Goiás. A intenção, conta a empreendedora, era agregar valor ao negócio. “Foi uma ideia que veio com pouco planejamento e o mínimo de recursos para infraestrutura. Mas como o cultivo de uva no Cerrado era uma grande novidade, o mercado nos empurrou a abrir as portas para os curiosos e deu certo. Inicialmente, abrimos para visitação nos parreirais e almoço harmonizado com os vinhos produzidos no local”, conta.
Depois de 16 anos, Adriana deixou a sociedade na vinícola e abriu a Calliandra Gastronomia Experiência Rural, que oferece caminhada nos parreirais e almoço harmonizado com vinhos da região. “Desde 2020, ainda no período da pandemia, foquei no enoturismo, turismo de experiência e turismo rural”, conta a empresária, que também é formada em Gastronomia. Após iniciar seu próprio projeto, Adriana buscou acompanhamento e, desde 2015, faz parte de um grupo de empreendedores assistidos pelo Sebrae.
Atendimento digital
Quando o tema é comércio de produtos e serviços, a pesquisa do Sebrae sinaliza que o mercado enoturístico segue a tendência geral, notadamente com o avanço do e-commerce e da mudança dos padrões de comportamento e consumo dos clientes. O levantamento indica que a distribuição e promoção de produtos desses empreendimentos se dá, quase que exclusivamente, via lojas on-line, ou tele-entrega, muitas vezes diretamente pelo Whatsapp – que responde por quase a totalidade (mais de 93%) da comunicação, vendas e agendamento dos empreendedores.
“O que percebemos é que, assim como em outras atividades e segmentos, o WhatsApp tem facilmente substituído a necessidade de um website para muitos pequenos negócios do enoturismo. É uma ferramenta com amplas funcionalidades, que pode receber cobranças, mostrar informações sobre horários de funcionamento e produtos, serviços e ofertas aos turistas”, exemplifica Germana.
No recorte por estado, o Rio Grande do Sul é líder absoluto em empreendimentos nesse nicho no país (222), respondendo por 55,5% das vinícolas que trabalham com enoturismo. Na sequência, vem a vizinha Santa Catarina, com 41 empresas. Juntos, os três estados da Região Sul têm 69% dos registros (Paraná aparece em sétimo lugar no ranking, com 13 negócios). O Sudeste também se destaca na classificação, com São Paulo (39) e Minas Gerais (32) em terceiro e quarto lugares, respectivamente.
Edição DT