Mais enólogos, mais sommeliers e menos blá-blá-blá

Continua depois da publicidade

por Werner Schumacher*


Mais enólogos! Mais sommeliers! Muito resumidamente, podemos dizer que estes dois profissionais estão no front. O Enólogo, em contato direto com o viticultor e na elaboração do vinho e o Sommelier orientando o serviço do vinho para que o consumidor possa usufruir a melhor qualidade deste prazeroso produto.

Desde que o vinho deixou de ser um alimento e passou a ser considerado, na maioria dos países, uma bebida fruto de um processo padronizado de industrialização, assim é a cerveja hoje em dia também, os valores intrínsecos foram substituídos por aqueles extrínsecos.

Veja também as mais lidas do DT

Isto significa que a garrafa de vinho que foi para a prateleira do supermercado, em questão de segundos sua apresentação precisa impressionar e encantar o consumidor para ele a agarrar e levar. Surgiram então formatos, cores, rótulos e o design.

Mas isto não era o suficiente, pois o Marketing é a ciência de se fazer vender um produto por si só e um produto padronizado, como o vinho moderno, precisa ter uma imagem tradicional, terroir e tudo o mais, contraditório, não?

Para isto é preciso ter formadores de opinião, críticos e escritores de vinhos, um verdadeiro exército bombardeando a mídia diariamente com conteúdo, notas de degustações, um exército de apresentadores do produto com pitadas hilárias: vinho crocante, com aromas de folhas caramelizadas de outono, coruja condimentada e assim por diante…

Diante de impressionantes notas, artigos, apresentações, pontos precisos e algumas medalhas, o consumidor, sob esse encanto, compra essas notas, esses artigos, esses pontos e medalhas. Na verdade, lá no fundo, não compra vinho, determinam o que ele deve comprar, construindo assim a:

DITADURA DO GOSTO

Mas isto parece não ser percebido, há pouco, justo um desses caras disse que a indústria vinícola brasileira, com o pedido de salvaguardas, estava querendo determinar o que o consumidor deveria beber, ou seja, obrigá-lo a beber vinho brasileiro.

Um tanto quanto ridículo isto, pra não dizer outra coisa.

O enólogo, antes de engarrafar um vinho, às vezes diante de um longo processo de guarda, faz a análise sensorial do produto a fim de engarrafá-lo, preferentemente, sem nenhum defeito, ou que uma sensação inicial possa evoluir com o tempo e não ser percebido pelo consumidor. Enfim, todo o cuidado para levar ao consumidor com a maior e melhor qualidade possível.

Já o sommelier, seleciona o vinho que irá oferecer ao consumidor, armazena-o em condições ideais, sugere pratos que possam melhor harmonizar com o vinho e estipula um valor que proporcione melhor custo benefício para o seu cliente.

Poderíamos falar muito mais desses valiosos profissionais, mas, infelizmente, eles estão em segundo plano, pois os verdadeiros DITADORES DO GOSTO levam os méritos, pois são alimentados e muito bem pagos por esta indústria que fabrica vinho.

E por trás, toda uma estratégia de marketing para vender o PADRONIZADO, o igual, a mesma coisa, a mesma …

Isso tudo me faz lembrar de um dos pais da padronização. “Compre um Ford, desde que seja preto”. (Crédito: arquivo digital DT)

Viva a liberdade e a livre escolha do consumidor! Desde que o vinho seja aquele que eles recomendam, o que me faz lembrar um dos pais da padronização. Compre um Ford, desde que seja preto.

Santa Lúcia do Vale dos Vinhedos, 30.06.2020


Werner Schumacher estudou Economia na PUC/RS e é um dos responsáveis pela profissionalização da vitivinicultura no Brasil.


 

 

 

Glossário:

Intrínseco – adjetivo1. que faz parte de ou que constitui a essência, a natureza de algo; que é próprio de algo; inerente.

“a dependência é i. ao amor”; 2. que é real; que tem importância, significação por si próprio, independentemente da relação com outras coisas.

Antônimo – extrínseco, que é externo

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade