Raphael Jafet, do hotel San Raphael: “Temos localização, serviço e o conceito da hotelaria”

Continua depois da publicidade

REDAÇÃO DO DIÁRIO

O hotel guarda as características de um tempo áureo, período em que a hotelaria era muito mais glamourosa do que hoje, embora menos opulenta e exibicionista. Quem tem menos de 30 anos provavelmente desconhece a grande Hotelaria do passado. Hotelaria com H maiúsculo, mesmo: a arquitetura inspirada nos prédios e nos movimentos artísticos das cidades europeias, a decoração e os móveis que remetem a um sentimento de solidez de coisa bem feita,  os funcionários que trabalhavam no hotel tratando os hóspedes pelo nome e os donos do hotel tomando chá no lobby com os clientes. Outros tempos. “Nosso hotel recebeu Édith Piaf, serviu de Central de Jornalismo para a transmissão das provas de Fórmula 1 na década de 70. Roberto Carlos e Erasmo Carlos moraram cerca de sete ou oito meses aqui e compuseram muitas músicas aqui dentro.  Fomos o melhor hotel de São Paulo durante um bom tempo“, enumera Raphael Jafet, fundador e proprietário do hotel San Raphael em entrevista exclusiva ao DIÁRIO.

Com formação em Engenharia Civil, Jafet exercia a atividade de engenheiro até meados dos anos 70 quando começou a se apaixonar por hotelaria,  então entrou definitivamente no ramo: “Em 1970, continuei na parte industrial, origem da minha família, mas coloquei um pé aqui dentro com o propósito de reformar o hotel, que, infelizmente não estava em boas condições quando foi entregue.  Depois, comecei a receber propostas das redes internacionais, porque, depois que começamos a administrá-lo, o San Raphael era considerado o melhor hotel de São Paulo, seguido pelo hotel Esplanada, que ficava atrás do Theatro Municipal…“, recorda o hoteleiro com uma precisão de detalhes impressionante. Acompanhe a entrevista concedida ao editor do DT, jornalista Paulo Atzingen:

Veja também as mais lidas do DT

DIÁRIO – O senhor pode contextualizar o Hotel San Raphael, relacionando-o com a trajetória da hotelaria paulistana?

RAPHAEL – O hotel San Raphael foi o hotel mais tradicional de São Paulo. Se levarmos em conta o que é hoje o conceito de hotel, vê-se no San Raphael que ele preenche as condições mais básicas e importantes como empreendimento que se destina a hospedar pessoas que vêm a São Paulo em busca de tratamento médico, negócios, entretenimento, gastronomia.

Já dizia um dos ícones da hotelaria, o Conrad Hilton, que atribuía o sucesso do hotel, em primeiro lugar, à localização. Em segundo lugar: localização. Em terceiro lugar: localização. O San Raphael preenche as três respostas do Hilton, porque estamos situados na área nobre do centro de São Paulo. Ao sair, vê-se uma praça arborizada, completamente calma, tranquila, sem barulho, com possibilidade de estacionamento, segurança, próxima de tudo, cercada de condução, estações de metrô, ao lado de secretarias de governo, Theatro Municipal, Academia Brasileira de Letras, Museu da Língua Portuguesa…

Em segundo lugar, temos a tradição em serviço, um hotel que foi fundado nos idos de 1950. Em 1950 construímos o hotel. De 1950 até 1970, arrendávamos um hotel para um outro estabelecimento hoteleiro. Em 1970 rescindimos o contrato de locação e assumimos, quando então nasceu o San Raphael Hotel.  Temos empregados com idade média de casa em cerca de 20 anos. A segunda vantagem é essa hotelaria tradicional, hospitaleira. O hóspede não é um número.

Em último lugar, o prédio foi construído especificamente para ser um hotel. Não temos um apartamento de fundo, são todos de frente para o Largo do Arouche e para a Avenida São João. São apartamentos vastos. Enquanto hoje temos vários empreendimentos imobiliários, uma espécie de quitinete adaptada para servir a uma hotelaria mais simples e modesta, com cerca de 30 metros de área total, só os nossos apartamentos, de área, têm mais do que isso.  Temos localização, serviço e o conceito da hotelaria. Estes são os elementos básicos para um estabelecimento hoteleiro. Naturalmente, isso tudo precede um estudo de mercado. É preciso um mercado que seja receptivo ao negócio de hospedagem para dar margem comercial.

Não temos um apartamento de fundo, são todos de frente para o Largo do Arouche e para a Avenida São João (Foto: arquivo DT)
“Não temos um apartamento de fundo, são todos de frente para o Largo do Arouche e para a Avenida São João” (Foto: arquivo DT)

 

DIÁRIO – Como vocês conseguem manter esse padrão diante de um mercado tão agressivo e competitivo?

RAPHAEL – O segredo é gostar do que se faz, em primeiro lugar. Em seguida, valorizar muito o seu colaborador. Por isso tenho a média de tempo de casa nas alturas, maior que 20 anos. Eles conhecem o San Raphael, conhecem o hóspede pelo nome. É um serviço muito personalizado. O nosso funcionário é muito valorizado porque ele que está em contato com o hóspede. Temos muito cuidado no treinamento do funcionário. São treinados constantemente.

E não paramos no tempo. O nosso hotel de Itu, o Itu San Raphael Country, foi premiado recentemente como hotel de excelência número um do interior pelo TripAdvisor.

DIÁRIO – O [San] Michel nasceu depois do Raphael? Para atender outro tipo de público?

RAPHAEL – Sim, nasceu em 1985. É mais um hotel boutique, para atender outro tipo de público, um hotel menor, muito sofisticado. Todos os apartamentos são suítes com hidromassagem. Nos baixos do San Michel temos o famoso restaurante Tascas do Arouche, um dos melhores de comida portuguesa em São Paulo.

Tudo vem pelo amor e dedicação do funcionário e, naturalmente, dos proprietários, de quem conduz o negócio. Eu peguei essa questão da hotelaria em 1970. A minha formação é engenharia civil. Exerci a atividade de engenheiro, fizemos muitas construções, muitos loteamentos. Quando entrei no ramo praticamente da construção civil, ficou sob os meus cuidados o hotel, que estava alugado. Então, veio à tona esse sentimento de convívio com muita gente diferente, problemas diferentes. Eu, na vida acadêmica, fui presidente do centro acadêmico, eu gostava de movimento, debates, que talvez seja uma coisa que me fez ir para a hotelaria. Em 1970, continuei na parte industrial, origem da minha família, mas coloquei um pé aqui dentro com o propósito de reformar o hotel, que, infelizmente não estava em boas condições quando foi entregue. Depois, comecei a receber propostas dos melhores, das redes internacionais, porque, até então, 1970, o San Raphael era considerado o melhor hotel de São Paulo, seguido pelo hotel Esplanada, que ficava atrás do Theatro Municipal. Tinha também o Excelsior, mas de outro patamar. Nos altos do San Raphael tínhamos a boate, onde estiveram grandes atrações internacionais, orquestras, Edith Piaf, Pedro Vargas. A Hebe Camargo começou a vida dela como cantora aqui, Roberto Carlos e Erasmo Carlos moraram cerca de sete ou oito meses aqui e compuseram muitas músicas aqui dentro. Hospedamos aqui várias delegações esportivas, governadores. Me lembro da seleção de basquete russa, uma jogadora com 2,10 metros de altura, tivemos que fazer uma cama especial para ela poder dormir.

"O San Michel nasceu em 1985. É mais um hotel boutique, para atender outro tipo de público, um hotel menor, muito sofisticado" (Foto: divulgação)
“O San Michel nasceu em 1985. É mais um hotel boutique, para atender outro tipo de público, um hotel menor, muito sofisticado” (Foto: divulgação)

DIÁRIO – Na sua opinião, a profissão do hoteleiro está muito mais concretizada no Brasil do que a do turismólogo, por exemplo?

RAPHAEL – Sim. Ela envolve outras atividades. Se tem um departamento de compras enorme, um departamento de pessoal enorme. Um escritório de turismo, não menosprezando ninguém, às vezes se restringe a uma sala, um computador e ponto final. Também temos a parte de alimentação, a parte de almoxarifado, conservação, eletricidade. Considero as três profissões mais difíceis: em primeiro lugar, a hospitalar, que une a hotelaria com o serviço médico. Em segundo lugar, a hotelaria propriamente dita. Em terceiro lugar, dizem que é administrar um aeroporto. Tudo se vence quando se faz com amor e dedicação.

DIÁRIO – Além dos discípulos profissionais deixados, você tem filhos seguindo carreira na hotelaria?

RAPHAEL – Sim. O Michel segue a hotelaria com muito cuidado e também se dedica à área imobiliária. Mas seu tempo é absorvido na maior parte com a hotelaria. Também tenho netos que seguem a carreira na hotelaria.

"E não paramos no tempo. O nosso hotel de Itu, o Itu San Raphael Country, foi premiado recentemente como hotel de excelência número um do interior pelo TripAdvisor (Foto: divulgação)
“E não paramos no tempo. O nosso hotel de Itu, o Itu San Raphael Country, foi premiado recentemente como hotel de excelência número um do interior pelo TripAdvisor” (Foto: divulgação)

DIÁRIO – O público sempre foi o mesmo ou mudou com o tempo?

RAPHAEL – Naturalmente, a cidade de São Paulo e a localização do empreendimento dá uma determinada orientação ao público. São Paulo: cidade industrial, comercial, e ultimamente tornou-se uma cidade de diversão, de gastronomia. Temos de diferente estes últimos hóspedes, que vêm em busca de diversão e gastronomia, aos finais de semana. Durante a semana, os que vêm a trabalho. Tem também um outro público que vem para tratamento médico. Observamos estas mudanças à medida que São Paulo começou a oferecer mais opções ao visitante. Houve essa mudança. Em hotéis afastados, vão mais em busca de negócios, mas quem vem à zona central tem um enorme número de opções.

www.sanraphael.com.br

 

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade