REDAÇÃO DO DIÁRIO
Valter Patriani é mais que um vendedor, é um comunicador de primeira linha que tem a palavra e os números como matéria-prima; Valter Patriani é mais que um vice-presidente de uma empresa; é um executivo educado que responde a e-mails, telefonemas e aceita ou declina convites com justificativas muito claras e objetivas. Ele sempre tem muito a falar já que está à frente da maior operadora de viagens do país que só em reservas confirmadas, no segundo trimestre deste ano, teve uma alta de 6,6% na comparação com o segundo trimestre de 2015, totalizando R$ 1,32 bilhão de entradas. Em entrevista exclusiva ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen, Patriani fala sobre as aquisições da Rextur-Advance e Submarino Viagens, analisa o fretamento do navio Sovereign (Soberano), da Royal Caribbean para a próxima temporada mesmo em uma época de águas turbulentas, fala a respeito dos investimentos que a CVC faz em plataformas tecnológicas (sem revelar o total) e, muito gentil, se justifica por não ter aceitado o almoço-entrevista, e, por isso – em razão de sua agenda apertada – ter atendido à reportagem por telefone. Não é à toa que está no topo.
DIÁRIO – Em que nível a compra da Rextur-Advance e da Submarino Viagens e aquisições de outros empresas do mercado impactam ou colaboram com a imagem da CVC?
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VALTER PATRIANI – As aquisições colaboram sim. São empresas importantes. A Rextur, por exemplo, é líder no setor de consolidação, muito respeitada. O Marcelo Sanovic é um executivo também muito respeitado e a vinda da Rextur para a CVC acrescenta valor à CVC e realmente essas aquisições foram muito boas, uma coisa bacana.
A Submarino é uma empresa mais jovem mas foi adquirida de um grupo econômico muito grande, ligado ao grupo B2W Companhia Global de Varejo. É uma empresa que já não é tão grande na área de online, mas vem agregando valor e vem crescendo, além de, evidentemente, ter muito bom nome, a Submarino. Essas aquisições sempre agregam.
DIÁRIO – Patriani, os Jogos Olímpicos trazem benefícios comerciais à CVC.
VALTER PATRIANI – Vou ser sincero. A CVC não participa desse setor. Acredito que deva trazer benefícios para o Brasil, mas a CVC não está trabalhando os Jogos Olímpicos e também posso dizer que a nossa procura nas lojas de turistas que queiram ir ao Rio de Janeiro pensando nos Jogos Olímpicos é muito pequena. Nós não sentimos esse movimento. Entendemos que o Rio de Janeiro estará lotado no período dos jogos em função do que chamamos de trade da Olimpíada. Só de jornalistas, são 20 mil. Considerando que ficam dois em cada quarto, já são 10 mil quartos. Se pensar que as federações, presidentes de federações de todos os países vêm também, considerando que quem paga isso normalmente são os governos, acredito que de quartos de hotel, mais uns 10 mil serão ocupados pelo pessoal ligado ao esporte pelas federações. A Vila Olímpica hospeda os atletas, mas não as federações. Acredito que o Rio de Janeiro estará lotado com o Trade da Olimpíada, da organização. Só pessoal envolvido com a Olimpíada, parentes de atletas, imprensa, staff, pessoal de federações, deve usar mais de 20 mil quartos. Turistas, que vão para curtir o Rio de Janeiro durante as Olimpíadas, praticamente não observamos esse movimento nas lojas.
DIÁRIO – As reservas confirmadas da CVC cresceram 6,6% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o balanço apresentado. Patriani, comente este crescimento em um momento que o país atravessa uma grave recessão…
VALTER PATRIANI – Nessa hora vale a força de 44 anos de história. Já embarcamos um número próximo de 30 milhões de clientes. Com um banco de dados com este número e uma empresa de 44 anos, toda essa história e clientela, nessas horas de dificuldade, a CVC torna-se um porto seguro para o turismo e para o cliente. A equipe da CVC é a melhor equipe do turismo brasileiro, com profissionais de alta qualidade, mas pesa também, além disso, os 44 anos e os milhões de clientes que a empresa transporta. É preciso também saber como navegar na crise, o que a CVC sabe. Já pegamos crise muito piores do que essa. O Guilherme (Paulus) está na companhia há 42 anos. Eu estou há 38 anos. Já pegamos crises piores do que essa. Em 2009, por exemplo, nem teve crise. Dura foi a época da inflação. Os piores momentos foram os problemas de câmbio, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, na desvalorização do real. Pegamos época de depósito compulsório, quando tinha-se que pagar um alto valor para sair do Brasil. Pegamos inflação de 80%, com cheque pré-datado. Essa empresa sabe navegar em momentos de dificuldade. Não que os mares não sejam turbulentos, mas os comandantes daqui já navegaram neles.
A CVC sabe navegar em momentos de dificuldade. Não que os mares não sejam turbulentos, mas os comandantes daqui já navegaram neles.
DIÁRIO – A CVC anunciou na semana passada a rota fretada do navio Sovereign (Soberano). Com a queda na oferta de navios e roteiros para o mercado brasileiro a operadora não está apostando alto? Quais ações e quanto serão investidos para a promoção dessa rota?
VALTER PATRIANI – As armadoras não estão deixando o Brasil. Houve também uma oportunidade na China. Por que as armadoras não estavam vindo para o Brasil? Porque a temporada brasileira é complementar à temporada do Mediterrâneo. Os navios não têm muito serviço entre os meses de novembro a março no Mediterrâneo devido ao inverno europeu. Com isso, as companhias mandavam os navios para o Brasil, que trabalhava bem, tanto que sempre teve muito boa ocupação no Brasil. Neste cenário, abriu o mercado da China, que ficou mais atrativo do que o mercado brasileiro durante esse período. As companhias tiveram a opção de mandar esses navios para a China. Por isso não mandaram para o Brasil, foi uma questão de escolha. Nós achamos que tem mercado no Brasil e que as coisas funcionam bem por aqui. O Brasil tem problemas, assim como outros países. Conversamos com a Royal Caribbean, que é a dona da Pullmantur. Sabe os navios que eles trazem todos os anos para o Brasil? Estão todos lá na China. O que eu quero dizer é que como a CVC estava com pouca oferta, conversamos com a Pullmantur, uma divisão da Royal na Europa e fretamos o navio, mas diferentemente do que a CVC fazia em outras épocas quando fretávamos os navios e colocávamos refeição, comida, diversão, tudo dentro por conta da CVC. Dessa vez não estamos utilizando esse modelo. O modelo é só de venda. A Royal/Pullmantur opera o barco. Toda a operação é da Royal e a venda é da CVC. Não há uma gestão da CVC na operação do produto.
DIÁRIO – Em que medida os avanços tecnológicos impactam no modelo de negócio da CVC e, consequentemente, influenciam nas ações de marketing da operadora?
VALTER PATRIANI – O maior investimento da CVC é em plataformas tecnológicas. Quando alguém monta uma loja da CVC, um franqueado ou um agente de viagens que revende CVC, tem a empresa dentro dele através de um terminal de computador. Quando um franqueado monta uma loja, o que ele leva para ela é o terminal de computador. Com esse terminal, ele tem tudo que a CVC precisa. Evidentemente, se não tivermos uma boa tecnologia, não investirmos em plataformas de tecnologia, a própria expansão da rede e a própria revenda para os agentes estará comprometida. Diferente de uma loja de varejo ou de departamentos, que se leva o estoque para dentro, o nosso estoque é levado através de uma tela de computador e evidentemente essa tela precisa ter conteúdo, tecnologia para que a informação chegue até a tela. Hoje o principal investimento anual da CVC é em tecnologia. Não é possível ter uma loja CVC ou não é possível nosso produto chegar às agências de viagens sem que tenhamos tecnologia para isso. Não dá para viver sem.
Quando um franqueado monta uma loja, o que ele leva para ela é o terminal de computador. Com esse terminal, ele tem tudo que a CVC precisa
DIÁRIO – Valter, é possível fazer um prognóstico de como a CVC fechará o ano de 2016?
VALTER PATRIANI – A CVC é uma empresa de capital aberto e não podemos falar sobre números. Não podemos antecipar números ao mercado se não for pela forma organizada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Há 44 anos a CVC vem crescendo ano após ano. Tivemos um crescimento de vendas superior a 6% no primeiro semestre deste ano. Nosso desejo, alvo e desafio é continuar crescendo. Agora, quanto crescerá, como crescerá e se crescerá, não temos a resposta e não podemos sequer fazer projeções. O que podemos dizer é que estamos trabalhando fortemente e estamos amplamente dedicados a entregar bons resultados aos nossos acionistas e, principalmente, entregar muita qualidade e felicidade ao nosso cliente.