Não é preciso esperar dezembro para despertar a compaixão pelo próximo

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Por Ali Zoghbi*

Dezembro chegou e, com esse mês tão especial, vem também a necessidade de “se fazer o bem”, “ser caridoso”, “ajudar os necessitados”. É no último mês do ano que as campanhas de arrecadação de donativos – roupas, brinquedos, alimentos – se multiplicam e que as pessoas sentem-se mais propensas a dar um pouco do que têm àqueles que nada têm. São atitudes bonitas, de compaixão com o próximo e bastante valorizadas socialmente, que nos fazem ter aquele sentimento de dever cumprido, para podermos começar um novo ano mais leves e motivados.

Será necessário, entretanto, esperar o mês de dezembro chegar para praticar a caridade? Os muçulmanos brasileiros são muito unidos para realizar obras sociais. Somos cerca de 1,5 milhão de pessoas na comunidade. Em 2008, surgiu a iniciativa de realizarmos uma ação chamada Islam Solidário, com o objetivo de oferecer à população que vive em regiões mais carentes de São Paulo, e também da zona metropolitana, independentemente de religião, um dia para cuidar da saúde, realizando exames importantes; da autoestima, por meio de procedimentos estéticos; e da mente também, pois o visitante usufrui do prazer que proporcionam atividades culturais e de entretenimento

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Oferecemos, gratuitamente, exames de hipertensão, diabetes, colesterol, hepatite C e exame oftalmológico, com doação de óculos. Há, ainda, orientação nutricional, odontológica, além de ensinar às mulheres como se faz o autoexame de mamas, a fim de prevenir o câncer.

Mais de 200 profissionais de saúde – entre médicos, dentistas, fisioterapeutas, técnicos e auxiliares de enfermagem, enfermeiros e nutricionistas – participam do evento para atender a população. Casos mais graves são encaminhados para tratamentos ambulatoriais na região da ação realizada.

Além de cuidar da saúde, oferecemos serviços estéticos – como higienização de pele e cortes de cabelos – massagem relaxante e atividades culturais como apresentação de corais, de grafiteiros e rodas de capoeira, entre outras atrações. Enquanto os adultos se cuidam, as crianças se divertem em brinquedos infláveis, pintando o rosto ou fazendo escultura de balões, além de comer muita pipoca e algodão doce.

Nós não nos consideramos melhores do que os demais cidadãos, longe disso. Somos brasileiros comuns

De lá para cá, foram realizados mais de 850 mil exames e 170 mil serviços em prol da cidadania, tudo de maneira voluntária. Fazemos quatro ações sociais deste porte por ano e a última será realizada na zona Sul da capital no dia 9 de dezembro – ainda que não comemoremos o Natal e que o ‘espírito natalino’ não seja nossa motivação natural.

Nós não nos consideramos melhores do que os demais cidadãos, longe disso. Somos brasileiros comuns: professores, donas de casa, médicos, motoristas, advogados, jornalistas, estudantes, recepcionistas, servidores públicos, aposentados, mas, todos interessados em doar tempo, conhecimento e recursos em prol de quem precisa. Também faz parte do nosso grupo muitos refugiados, que encontraram no Brasil um lar para viver e reconstruir suas vidas dignamente – e que, agora, retribuem com amor tudo o que receberam do povo brasileiro.

Nossas ações sociais são patrocinadas por recursos da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil e de entidades beneméritas internacionais, a exemplo da Mohammad bin Rashid Al Maktoum Global Iniciative, dos Emirados Árabes Unidos, que tem nos apoiado grandemente. É uma referência em assistência social em todo o mundo, além de ser nossa grande parceira nas ações solidárias que realizamos anualmente em regiões carentes de São Paulo. Também somos incentivados pela Prefeitura de São Paulo, o Governo do Estado e o Governo Federal, que nos ajudam cedendo os locais para a realização dos nossos eventos e nos apoiando em todos eles.

Nós esperamos realizar muitas ações solidárias durante todo o ano. E gostaríamos de ter cristãos, judeus, representantes das religiões afros, espíritas, budistas e todos aqueles que desejam o bem-estar do próximo ao nosso lado. Por isso, convidamos a todos os brasileiros de bem a se juntarem conosco em mais uma grande ação, que busca ajudar quem, no momento de precisão, não tem raça, credo, gênero, idade ou classe social: simplesmente é um ser humano e, por isso, merece todo o amor que podemos oferecer.

*Ali Zoghbi é jornalista, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil – FAMBRAS.

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