As origens da festa de Parintins, que reúne, hoje, cerca de 16.000 pessoas por noite, são incertas
por Andrea Nakane*
É fato notório que os eventos culturais da região Sudeste, sobretudo do eixo Rio-SP, acabam por dominar a mídia e ganham projeção nacional, sendo os mesmos considerados representações plenas do Brasil.
No mês de junho, o foco muda e as festas folclóricas do Nordeste e Norte conquistam espaços midiáticos e a cultura popular é elevada ao protagonismo, evidenciando as belezas pueris, transgeracionais que narram histórias, lendas e vidas em comunidades.
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O Festival Folclórico de Parintins é um dos exemplos de tal exitosa configuração, considerada uma ópera a céu aberto, unindo música, lendas populares, danças, cenografias e muita paixão.
As origens da essência da festa, que reúne, hoje, cerca de 16.000 pessoas por noite de apresentação, totalizando três espetáculos por edição, são incertas, datando do início da segunda década do século passado.
O atual modelo, que consiste na disputa entre dois grupos folclóricos de Boi-Bumbá, o Caprichoso e o Garantido, em um espaço construído em 1988, batizado carinhosamente de Bumbódromo, reúne um trabalho artístico primoroso de tirar o fôlego com a sincronia de lendas, estruturas cenográficas articuladas de impacto e a alegria de seus componentes, cerca de 3.500 brincantes de cada boi.
Sem falar na integração perfeita com as “galeras”, suas torcidas fervorosas que se posicionam nas arquibancadas e são divididas nas cores azul (Caprichoso) e vermelho (Garantido) , prestigiando o evento, não mais local, mas já de alcance internacional, atraindo o interesse de turistas estrangeiros, assim como de visitantes de outras regiões do país, movimentando, ainda mais a economia da cidade nos dias da festa.
Cultura Popular
A cada ano, apenas um dos grupos é declarado campeão, porém a sensação é que todo o povo brasileiro é vitorioso por ter acesso a tamanha obra de arte oriunda das manifestações populares, que mantém vivo nosso folclore de raiz. E nesse ponto vale ressaltar a iniciativa da TV Cultura em realizar as transmissões da festa em 2018 para todo o território nacional, já que possibilita que mais e mais brasileiros conheçam, pelo menos eletronicamente, essa riqueza cultural pulsante em plena floresta amazônica.
Parintins, localizada a 420 km de Manaus, tem em seu principal evento de cultura popular, a miscigenação peculiar do Brasil, com toda a sua diversidade e autenticidade fomentadora de tradições que se renovam e a cada ano conquistam novos admiradores e fãs.
Em um país, no qual as mazelas produzidas pela corrupção e a improdutividade pública são hegemônicas, ter como patrimônio um festa folclórica como a de Parintins, revigora nossas mentes e corações de esperanças, pois quem tem um povo com tamanha sensibilidade e competência para criar um dos mais extraordinários espetáculos do mundo, certamente tem habilidades para retomar o rumo da nação, pois no âmago de seus cidadãos há força para ganhar batalhas, de todos contra poucos, pois quando a gente se une, saí de baixo.
É exatamente esse tipo de brasilidade que nos impulsiona a continuar na crença que merecemos muito mais e que podemos, como Nação, gerar ações que enalteçam nosso patriotismo e reflitam em um Futuro Melhor!
Por mais Parintins em nossas Vidas!
*Andrea Nakane é palestrante, professora e sócia do Mestres da Hospitalidade