Leia o artigo de Otávio Novo para o DIÁRIO sobre o fim de emergência da Covid-19, e as lições que a pandemia trouxe
Fim de emergência significa fim da crise? A Covid-19 nos ensina mais uma.
Dia 05 de maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde declara fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) para a pandemia de Covid – 19. Esse status de nível de relevância da circulação do vírus teve início em Janeiro de 2020 e depois de 7.000.000 mortes no mundo e mais de 700.000 no Brasil, um dos países com o maior número proporcional de vítimas da doença, se encerrou. Mas, de modo geral, o fim da emergência significa fim da crise? A Covid-19 nos ensina mais uma. Vejamos a seguir.
A lógica do método de definição de níveis de importância para, por exemplo, os surtos de doenças globais, traz consigo uma forma de demonstrar como o problema deve ser encarado nas diferentes regiões já que, a forma com que cada país faz a gestão da situação, irá definir os resultados internos e os reflexos para o restante do mundo, tendo em vista a atual ampla circulação de pessoas por diferentes nações e regiões.
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E diante do conhecimento técnico especializado, a sistemática de definição de níveis de emergência define, por intermédio de recomendações, quais os procedimentos adequados em cada fase do problema e com que nível de esforço as ações devem ser colocadas em prática.
Países do mundo inteiro participaram do enfrentamento do problema recebendo informações e diretrizes e também fornecendo dados e expertise para difusão em prol do todo. Investimentos, pesquisas e decisões locais foram viabilizados levando em consideração a determinação da OMS quanto a fase e a sensibilidade da pandemia.
Essa definição do que fazer, difundida de forma clara, embasada por especialistas e acessível aos envolvidos é um dos objetivos e diferenciais da gestão de crises, seja numa pandemia ou outro caso que pode nos afetar gravemente. É essa coordenação que ditará o que cada nível de decisão deve buscar em suas ações em cada fase da situação sensível em curso.
No jargão da gestão de crises é comum dizermos que a primeira hora é a “hora de ouro”. O momento inicial é uma janela de oportunidade para a tomada rápida de boas e importantes decisões visando acertos e, principalmente, menos erros para minimizar os impactos do problema. O seja, é o momento de por em prática procedimentos e usar a preparação existente.
Mas a gestão de crises não é só a tomada de decisões no momento mais agudo da situação. Inclusive nesse caso, chamamos de gerenciamento de crise o momento das primeiras reações a uma ocorrência grave, ou seja, a atuação de resposta imediata diante de uma crise que surge.
Assim, a gestão de crises, além do gerenciamento da crise, requer um trabalho prévio de antecipação de cenários e mapeamento de riscos, além do acompanhamento da situação e aprendizado depois do momento mais crítico e imediato. Os diferentes momentos da crise exigem acompanhamento e medidas adequados que deverão sempre ser treinados e testados em tempos de normalidade. Assim, será possível que as pessoas saibam o que fazer diante de um problema importante.
No caso da Covid 19, apesar de nesse momento ter havido, por parte da OMS, uma mudança de nível de atenção e de prioridade de providências a respeito do tema, a situação ainda requer ações em diferentes frentes.
O monitoramento dos novos casos; as consequências psicológicas, físicas e econômicas individuais e coletivas, mediatas e imediatas devido ao grande número de infectados e mortos; os impactos e prejuízos para o sistema de saúde e para os negócios; a possibilidade de recorrência, são algumas das questões a serem acompanhadas e tratadas nesse momento.
Esse acompanhamento posterior ao momento emergencial é parte fundamental da gestão de crise. No mesmo sentido, o aprendizado também deve fazer parte dessa organização para que os dados e experiências (positivas e negativas) colhidos durante a crise sejam usados como insumo para a adequações necessárias, prevenção de recorrências e no gerenciamento de novas situações equivalentes.
Portanto o fim de uma emergência não significa o fim da crise.
Assim como depois de um incêndio é necessário fazer o rescaldo para evitar novos focos de fogo, verificar riscos estruturais, garantir atendimento adequado às vítimas, estudar a retomada do negócio e etc, para qualquer risco é necessário haver um procedimento pós pico de gravidade de cada situação.
No caso de pandemia de importância mundial e suas restrições a possibilidade de recorrência é uma realidade tendo em vista a manutenção das condições de potencialidade do risco, ou seja, pouco mudou substancialmente, por isso não há motivos para não acontecer novamente. Isso pode ocorrer também para outros riscos, especialmente quando as crises são tratadas apenas nos seus momentos de alta gravidade e emergência.
Ao acompanhar, tratar e discutir as medidas seguintes às ações emergenciais, toda a organização se fortalece e pode realizar medidas que impedirão, de forma responsável, casos equivalentes.
De forma geral, a gestão de crises, em qualquer situação, nos prepara para sair da nossa zona de conforto, tomar providências adequadas e fazer as mudanças e adaptações necessárias de maneira organizada e continua.
E diante da nossa realidade desafiadora, é certo que teremos muitas oportunidades de colocar esses conhecimentos em prática para exercitar e realizar o desenvolvimento necessário em nossas atividades.
*Artigo por Otávio Novo.