Não nego que os guias elaborados pelas editoras especializadas em viagens são importantes e oferecem dicas muito boas sobre os destinos, mas confesso que o “Alma do Rio – The soul of Rio” da carioca Cynthia Howlett passou dos limites. Dos bons limites.
Por Paulo Atzingen
O livro é um manifesto de amor à Cidade Maravilhosa. Bilíngue (português-inglês) descreve mais de 20 bairros e quase uma centena de pontos turísticos do Rio de Janeiro de forma leve, escritos como um diário, pouco usual e oposto aos guias tradicionais. A autora fala como carioca não somente para os turistas, mas também para o morador da cidade: “O Rio é uma cidade com alma. Uma cidade que se expressa, que tem opinião própria. Suas ruas falam, e é preciso ouvi-las para ser carioca; é preciso participar de suas histórias. Uma cidade feminina, uma cidade com forma de mulher, sensual, sedutora…”, escreve.
A segunda edição do Alma do Rio é da Réptil Editora tem a coordenação editorial de Luiza Figueira de Mello e a produção editorial de Amanda Meirinho. O prefácio é assinado por Joaquim Ferreira dos Santos.
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Mergulha e contextualiza
Além de descrever os bairros, pontos turísticos; apresentar os serviços como restaurantes, shoppings, bares e tudo o mais que compõem a cesta de um visitante, o roteiro do guia mergulha na história da cidade e mais do que apenas citar, contextualiza nomes que marcaram época em sua cultura, andaram por suas ruas: Carlos Drummond de Andrade ao associá-lo a Copacabana; Vila Isabel ao associá-lo a Noel Rosa; São Conrado ao associá-lo ao arquiteto Oscar Niemeyer , que desenhou o desativado Hotel Nacional, e a Barra da Tijuca associa-se ao urbanista Lúcio Costa que assinou o plano piloto nos idos de 1967. E claro, Ipanema e sua relação umbilical com a dupla Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Beco das Garrafas
As indicações para restaurantes é de um alto refinamento; vejam: “O Lá Fiducia é tipico restaurante fino italiano, no qual podemos harmonizar pratos como o penne all’arrabiata com rótulos escolhidos entre as mais de duzentas opções (são mais de 1500 garrafas). Tudo isso ao som de um piano ao vivo. A casa fica ao do lendário Beco das Garrafas, na rua Duvivier, onde surgiu a bossa nova e onde foram realizados shows memoráveis nos anos 1060, de bambas como Nara Leão, Dorival Caymmi e Elizeth Cardoso,” descreve a autora.
Outro traço que destoa o Alma do Rio dos guias de bancas e de consumo rápido é que a autora, que é carnavalesca, aponta lugares pouco comuns para o turismo convencional como por exemplo o bairro de Madureira onde se erguem duas grandes escolas de samba do Rio de Janeiro: Portela e Império Serrano.
Sem superficialidades
Em papel pré-reciclado, com inúmeras aquarelas no lugar daquelas imagens fotoshopadas o guia é autêntico e escrito em primeira pessoa: “Gostaria de mostrar o Rio na sua essência, o que é ser carioca de verdade”, essas palavras são muito sinceras e estabelecem uma relação muito próxima com o leitor, muito mais intensa àquela oferecida por guias e revistas de turismo especializados em superficialidades.
E como eu disse lá no começo. Este guia-livro-diário passou dos limites. Como o próprio Rio de Janeiro que passa dos limites com sua overdose de beleza natural e com um povo autêntico, alegre, brasileiramente lindo e em sua essência, ilimitado.
Serviço:
ALMA DO RIO – The Soul of Rio
Autores: Cynthia Howlett, Rita Capell e Rachel Almeida
Reptil Editora Ltda
280 páginas – Preço Sugerido: R$ 50,00
2ª Edição – 2016