Como se faz a reconstrução de um destino? Muitos podem dizer que com dinheiro público investido em obras, financiamento a projetos de capacitação e inclusão, além de apoio à mão de obra especializada é possível começar um processo de retomada etcetera e tal. É preciso mais do que dinheiro e menos blá, blá, blá. É preciso pessoas.
Por Paulo Atzingen* (originalmente publicado dia 21 de janeiro de 2021)
Algumas reações espontâneas, não coordenadas, mas empurradas pela própria necessidade da vida e da economia começam a acontecer em Salvador. Hotéis têm faixa de ocupação em torno de 50,88% nos finais de semana, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH-BA, e os voos aos poucos também retornam, inclusive os internacionais – em dezembro passado – como os de Madri, Buenos Aires e Santiago do Chile.
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Mais do que isso, o que se destaca desses dados apresentados é que as pessoas, principalmente elas, é que fazem a diferença em suas próprias vidas e não dependeram exclusivamente do governo com seus auxílios emergenciais.
“Diante da pandemia, que se instalou, fiquei sem nenhum tipo de atividade autônoma. Não pude também avançar com a agência a qual prestava serviço”, me adianta por telefone a guia de turismo Silvana Ros.
Silvana tem o Cadastur/Mtur como Guia Regional Nacional e América do Sul, além disso é turismóloga e pós-graduada em Arte e Patrimônio Cultural e História da Bahia, e Guia de Turismo pela Faculdade Cairu e São Bento.
Inspiração em Promoção Antiga
A profissional me explica que ao perceber que o seu principal ganha pão – o turista nacional e internacional – iria estiar como chuva no agreste – elaborou um plano inspirado em uma promoção antiga chamada Bahia para os Baianos. Silvana não tem certeza se essa roda foi inventada na época que Paulo Gaudenzi era o presidente da Bahiatursa. Mas isso não importa.
“O público que eu tinha mais proximidade ia demorar muito para retornar. Os grupos agendados para 2020, foram todos agendando para 2021. Conclui que o turista externo não iria voltar de um dia para o outro com rapidez. Vi que precisava olhar para o público interno, não só o da Bahia, mas o público soteropolitano”, narra a profissional.
Entendo quando Silvana afirma que o próprio baiano não conhece sua cidade. Dei um exemplo recente ao pegar um Uber ao Cosme Velho, no Rio para ir ao Corcovado. “O motorista, de uns 40 anos, aproximadamente, nunca tinha ido ao Cristo Redentor”, falei. O Brasil não conhece o Brasil, concordamos.
Caminhando no Pelô
Silvana então conta que baseada em sua experiência em Salvador e diante das circunstâncias da pandemia, montou o projeto Caminhando no Pelô.
“São passeios a pé para grupos de duas a até 10 pessoas. Entendi que com a pandemia não deveria trabalhar em vans. Os encontros são na praça Castro Alves e são dois roteiros: O Bahia para os Baianos e o Salvador para o Soteropolitano”, adianta a guia.
Entusiasmada, Silvana recorda que quando começou a fazer as chamadas nas redes sociais começou a ter uma demanda enorme de solicitações de pessoas querendo conhecer Salvador, querendo conhecer a Bahia.
Realfabetização histórica
“O objetivo é provocar o sentido de pertencimento patrimonial, levando as pessoas para o local para que elas sintam e percebam que são pertencentes a Salvador, são integrantes da história”, ensina acrescentando que faz recortes e relatos sobre urbanismo e urbanidade, arquitetura colonial e republicana, mobilidade, entre outros assuntos.
Quero saber o que Silvana fala aos turistas sobre as muralhas e os fortes de Salvador, já que a cidade foi fortemente atacada e invadida ao longo de sua história. Ela me responde na hora, na ponta da língua:
“Contextualizo o século XVI onde faço um recorte das muralhas da cidade de Salvador. Começamos na (praça) Castro Alves, e terminamos no (Largo do) Pelourinho onde os turistas visualizam e vivenciam os resquícios da muralha original feita no período de Tomé de Souza. Contextualizo, o período Colônia, a República e vou fechar do outro lado com os Resquícios da muralha de Salvador, a primeira cidade portuária do Brasil”, enumera e completa: “Tivemos mais de 10 Fortes, hoje os principais são: Forte de Santo Antônio da Barra, Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, Forte de São Pedro, Forte de São Diogo, Forte Santa Maria, Forte de São Marcelo, Forte de Santo Antônio Além do Carmo”.
Silvana, a guia de turismo de Salvador, é um exemplo de gente que não dormiu em serviço, se preparou na adversidade e como uma fortaleza, ajuda na reconstrução de sua cidade e na retomada do turismo na capital da Bahia.
Serviço:
Caminhando no Pelô
Bahia para os Baianos e Salvador para o Soteropolitano
Preço por Pessoa: R$ 50
@GuiaSilvanaRos – Guia Silvana Ros Instagran – Guia Silvana Ros facebook
Agência Vivência Turismo
Whatsapp – 55 71 9172-6386
*Paulo Atzingen é jornalista