30.000 pessoas continuam fora de suas casas enquanto a tempestade se dirige à Louisiana
EL PAÍS –
Pela primeira vez em muito tempo Houston viu o sol nesta quarta-feira pela manhã. A luz trouxe um pouco de calma aos moradores, mas também deixou ver com maior clareza a magnitude dos danos do Harvey, um “dos piores desastres na história do Texas”, nas palavras da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA). As cifras são ainda bem provisórias, quando nem sequer o nível da água começou a baixar significativamente. Nesta quarta-feira 30.000 pessoas continuavam fora de suas casas em 320 abrigos dentro e fora da cidade. As autoridades haviam confirmado até esta quarta 31 mortes relacionadas com a tempestade.
Os Estados Unidos estão comovidos com a história de seis membros de uma mesma família que ficaram enredados em um carro sob a água. Dois avós com quatro netos, de idades entre 6 e 16 anos. Tentando fugir entraram na rua errada e a água engoliu o veículo. Quem dirigia era Sammy Saldívar, o pai das crianças, que conseguiu sair do carro e o viu afundar quando tentava resgatar a família, segundo contou à CNN Eric Saldívar, seu irmão. “Podia ouvir as crianças gritar e chorar, tentando sair da van.”
Quando o resgataram, chegou a dizer: “O carro está aqui embaixo”, mas tinha desaparecido. As equipes de resgate o encontraram nesta quarta-feira. Outra vítima foi um policial, Seteve Perez, de 60 anos, que morreu após ficar preso pela água em seu veículo quanto tentava entrar na cidade para as tarefas de ajuda.
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Durante a noite, Houston se converteu em uma cidade fantasma. O prefeito decretou toque de recolher entre a meia-noite e as 5 da manhã diante das informações de que estavam ocorrendo saques nas casas abandonadas às pressas. Houve casos, informaram, de pessoas que se fizeram passar por agentes da polícia exigindo que os moradores saíssem para depois roubarem as casas. “Não vamos tolerar que pessoas explorem outras no ponto mais baixos de suas vidas”, disse o chefe de polícia da cidade, Art Acevedo. Pelo menos 14 pessoas foram presas por saques.
Cerca de 30% do condado de Harris, onde residem 4,5 milhões de pessoas, está debaixo d’água. As casas afetadas pela tempestade continuam inundadas, enquanto as barragens de Barker e Addicks, que na terça-feira transbordaram pela primeira vez em sua história, continuam liberando água de modo controlado. Na terça, a área de Houston bateu o recorde de chuvas nos Estados Unidos por duas vezes. Cedar Bayou, nos arredores, acumulou 1.317 milímetros de chuva. É mais do que o que cai na cidade de Nova York em um ano inteiro.
Ainda não está claro quando as pessoas prejudicadas poderão entrar em suas casas para avaliar a gravidade dos danos. As autoridades têm falado em semanas para que a água saia completamente dos setores mais afetados. O juiz do condado de Harris Ed Emmett afirmou que entre 30.000 e 40.000 casas ficaram destruídas.
O Harvey chegou à costa do Texas na sexta-feira pela noite como furacão de categoria 4, o primeiro dessa magnitude desde o Wilma, em 2005. Em 24 horas o vento perdeu intensidade e ele se reduziu a uma tempestade tropical, mas as piores previsões do Serviço Nacional de Meteorologia se confirmaram quando ficou parado sobre Houston deixando chuvas torrenciais e se alimentando da água quente do Golfo do México durante quatro dias, em vez de passar ao largo. A tempestade recuou por volta da terça-feira, uns 100 quilômetros na direção do mar, e nesta quarta retornou a terra em Cameron, Louisiana, na divisa com o Texas, a caminho de Nova Orleans, a cidade que o Katrina assolou há 12 anos e onde causou 1.800 mortes.
As previsões meteorológicas indicam que as precipitações podem deixar entre 7 e 15 centímetros de chuva na Louisiana, onde, no entanto, não se espera que permaneça neste território por muito tempo, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional de Lake Charles. A projeção é que saia pelo Noroeste em um dia, já como tempestade muito enfraquecida.