Mariana Sodré Santoro Batochio recebeu o DIÁRIO DO TURISMO no escritório da Hotel Resort & Golfe Clube dos 500, em São Paulo e contou a história do hotel, que se entrelaça com a sua história de hoteleira.
por Paulo Atzigen, de São Paulo*
Sabíamos de antemão que o Hotel Clube dos 500 nasceu da visão de Orozimbo Roxo Loureiro, um banqueiro e homem de muitas conexões que, nos anos 1950, idealizou um clube exclusivo para 500 amigos. Na época, o Rio de Janeiro ainda era a capital do Brasil, e o hotel se tornou uma parada obrigatória para personalidades que viajavam de carro até a cidade.
“Durante sua construção, grandes nomes da arte e da arquitetura se uniram: Di Cavalcanti, Oscar Niemeyer, Burle Marx… Uma obra que se destaca entre tantas é o painel de Di Cavalcanti, pintado em 1951. Ele morou no hotel e contam, que pagou sua estadia com a própria obra”, diz Mariana, ressaltando o valor histórico da peça. Outro destaque arquitetônico são as alas projetadas por Oscar Niemeyer. “Inclusive, o Niemeyer frequentou o hotel um pouco antes de morrer”, relembra ela.
O jardim original, concebido por Burle Marx, também é um patrimônio preservado que reflete o espírito sofisticado e naturalista da época. “A gente tem uma parte histórica muito importante ali”, afirma Mariana, ressaltando a conexão do local com seu espírito de hoteleira e amante da arte.

A transição: do Bradesco à Reabertura
Na década de 1970, o Hotel Clube dos 500 foi incorporado à rede hoteleira do Bradesco, tornando-se, mais tarde, um centro de treinamento da Fundação Bradesco. Após esse período, o hotel ficou fechado ao público, habitado apenas por funcionários responsáveis pela manutenção da vasta área de 600 mil metros quadrados.
Naquela época, o hotel ficou sem funcionar, mantendo apenas a manutenção do espaço e havia apenas alguns funcionários que moravam lá para cuidar do espaço”, recorda Mariana. “É uma área enorme, com 300 mil metros só no campo de golfe e outros 300 mil na parte do hotel.”

O renascimento sob nova gestão: um sonho de família
A história da família Sodré Santoro com o hotel começou em 1991, quando o Bradesco decidiu leiloar a propriedade, mas não houve ninguém interessado.
Passado algum tempo, Luís Fernando de Abreu Sodré Santoro, pai de Mariana, comprou a propriedade, pois sempre foi um amante da Arte.
“Me lembro da primeira vez que entrei lá’ , fiquei impressionada com a beleza daquele lugar, relembra Mariana. “Meu pai sempre uma ligação emocional com o Hotel. Ele sempre fez questão de cuidar e preservar o patrimônio histórico do Hotel”, completa.
A paixão pelo jardim também foi um fator essencial na revitalização. “Minha mãe, Dora Sodré Santoro, sempre teve uma conexão forte com plantas. Desde pequena, estava sempre com uma pá na mão, mexendo na terra”, conta Mariana. Dora encontrou na paisagista Ruth Mascelani uma parceira para revitalizar os jardins do hotel, criando espaços exuberantes e acolhedores. “Após a morte da Ruth minha mãe quis homenagear lá e construiu uma passarela de plantas que leva o seu nome dela.

A revitalização: a retomada do sucesso
Após dois anos de intenso trabalho de reforma e revitalização, o Hotel Resort & Golfe Clube dos 500, completamente revitalizado reabriu suas portas. “Foram reformados os 70 apartamentos para garantir conforto e elegância aos hóspedes”, destaca Mariana.
Nos anos 1990, o hotel viveu um novo auge, com atrações que marcaram época. “A boate do hotel, chamada Disco – Clube dos 500, era um sucesso. Chegou a receber 300 pessoas nas noites mais animadas”, conta ela, com um sorriso nostálgico.

A vocação hoteleira: um despertar pessoal
A vocação de Mariana pela hotelaria surgiu de forma inesperada. “Um dia, meu pai marcou uma reunião com um possível gerente, mas acabou me passando a tarefa de recebê-lo. Eu tinha uns 20 e poucos anos e não sabia muito o que esperar daquela reunião”, lembra ela.
O candidato, chamado José Carlos, falava com paixão e detalhamento sobre o hotel, descrevendo sua importância histórica e seu potencial. “Eu fiquei encantada com a emoção dele ao falar sobre o hotel e, mesmo tendo filhos pequenos que me tomavam bastante tempo, achei que poderia contribuir, de alguma forma, para resgatar essa história ou parte dela'”, revela Mariana.
Foi ali que a jovem Mariana percebeu que seu caminho estava traçado na hotelaria, motivada não só pelo legado familiar, mas também pelo desejo de manter vivo o brilho do Clube dos 500.
*Por Paulo Atzingen – jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO