por Paulo Atzingen**
Comprei três apartamentos no coração de São Bernardo do Campo em três torres coladas uma na outra: um no ibis, outro no ibis Budget (é assim que escreve?) e outro no Adagio. São para minhas três filhas: Maria Clara, Maria Antonia e Maria Lúcia. A decisão em vender um lote de gado em Codisburgo foi minha, mas a idéia de comprar, reconheço, inicialmente, foi de minha companheira, Maria Stella. Não sou afeito a esses investimentos imobiliários, mas depois que minha mulher me provou que a construtora era uma das mais sérias do país e que a rede hoteleira era uma das mais respeitadas aqui e no estrangeiro tirei o pé de trás.
Ora veja, os tempos são outros e como diria meu conterrâneo¹, a vida está hoje muito deslumbrável, de modo que minhas três meninas já alcançaram idade para seguir a trilha de si mesmas.
Cotas estavam rareando
Sai da fazenda, fiz um voo de 60 minutos, encontrei com elas no ABC, onde estudam, e vim ver com os olhos cada um dos apartamentos, antes da abertura oficial que aconteceu no último mês. As cotas estavam rareando e se antes pensava em comprar um, arrematei três de uma vez só. Maria Clara ficou com um no ibis Budget (é assim que escreve?), Maria Lúcia com um apartamento no ibis e Maria Antônia com um no Adagio. Minhas três meninas adoraram porque o hotel fica colado ao shopping center Metrópole.
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Visitamos um apartamento pronto no Adagio. E não é que ele tem cozinha completa, incluindo lava-louça, varanda e armário embutido, (closet para os sofisticados). O hotel ainda tem uns penduricalhos como lavanderia e academia de ginástica. E não é que minha mulher me convenceu de ficar com mais um para nosso uso pessoal quando retornássemos ao ABC?
Minhas meninas
Minhas três meninas ficaram felizes. Não tenho senso do uso que vão fazer de cada unidade, já que elas agora estão com a maior idade completada. Maria Lúcia estuda Direito, Maria Clara, Engenharia Civil e Maria Antonia, jornalismo. São muito estudiosas e fazem um contrapeso hoje do desinteresse que tive pelos livros na minha juventude.
Transparência de riacho
Creio que foi – depois dos meus negócios na agricultura e na pecuária – a melhor coisa que fiz para alegrar minhas filhas. O contrato diz que o retorno do investimento é em médio prazo. Apostei, pois como disse lá em cima, a construtora e a empresa hoteleira me passam uma confiança e uma transparência que eu só vejo nas águas dos meus riachos.
Volto pra Codisburgo com a impressão de dever de pai cumprido. Agora minhas meninas tomam seu rumo e, como as Três Marias do céu, sei de seus caminhos toda noite, onde nascem e onde desaparecem no meio desse manto azul em cima de nossas cabeças.
*(Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, fatos, pessoas ou lugares será mera coincidência)
¹ João Guimarães Rosa
**Paulo Atzingen é jornalista
