La Casa de Papel: um saque de recebíveis ou um ato pró Catalunha?

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por Paulo Atzingen*

Eram oito assaltantes vestidos de macacão vermelho muito bem armados e pasmem! Todos com a máscara de Salvador Dali, o pintor catalão! Mal havíamos nos recuperado do susto da explosão e da tomada de assalto do banco – e nos obrigaram a nos vestir como eles e usar as máscaras do pintor surrealista.

Não estavam nervosos e se tratavam por nomes de cidades. Pude ouvir, logo de cara, os nomes: Tóquio, Nairobi, Rio e Berlim. Falavam espanhol e havia duas mulheres no bando.

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Não eram violentos, mas o armamento pesado nos botava medo. As normas aos reféns foram ditadas por Berlim, o chefe da quadrilha. Antes nos revistaram de forma um tanto brusca e confiscaram nossos celulares. Berlim não queria conversas paralelas, choramingos de mulheres e que fosse mantida a calma pois não queriam nos fazer mal. Éramos cerca de 50, incluindo uma turma de alunos de uma escola particular britânica.

“Estamos aqui apenas para fazer uma transferência de liquidez!”; essa frase soou confusa, demorei para entendê-la, mas vou usá-la no tribunal, se for necessário e se meu advogado achar conveniente.

Fomos levados em fila indiana para uma ante-sala, quase abaixo da grande escadaria que leva ao segundo andar da Casa da Moeda. Fomos amontoados, em grupos de cinco ou seis.

Ao meu lado, com as mãos amarradas com um lacre de plástico, o diretor geral do Banco, Arturo Román. Soube seu nome porque Berlim ameaçava-o de hora em hora, exigindo informações, como senhas de cofres, dados sigilosos do sistema interno de segurança.

Aquela decisão do bando em usar máscaras do pintor Salvador Dali me fez crer que eles eram mais que ladrões de banco; esse grupo poderia estar representando o governo da Catalunha que queria a todo custo se emancipar da Espanha. Isso deve ser anunciado no tribunal. No El País não li nada a respeito.

Seria o início de um golpe de estado? Pensei.

Me aproximei do ouvido de Arturo e cochichei: “Será que são catalães a mando do governo de Barcelona?” Arturito me olhou com aquele olhar de peixe morto. Estava borrando-se todo. Em choque, e sem raciocinar, respondeu:

“Será? Disse-me sussurrando amedrontado.

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https://diariodoturismo.com.br/la-casa-de-papel-a-transferencia-de-liquidez-relatada-pelo-refem/

Fui liberado na primeira leva de reféns – 15 para ser exato. Após ouvido pela polícia espanhola e examinado por médicos fomos dispensados permanecendo à disposição da justiça por alguns dias.

Voltei ao Brasil na semana seguinte e agora, dois anos depois, retorno à Madri para o julgamento da metade do grupo que foi presa. A outra metade, incluindo o professor, ainda não foi encontrada.

Como escrevi acima, estou do lado dos Robin Hoods modernos. Eles foram os primeiros  a alertar, denunciar e agir contra os lucros obscenos dos bancos. Eles foram os primeiros, talvez no mundo, a se posicionarem contrários à extorsão camuflada, a riqueza acumulada em cima da dívida pública de um país, alimentados por recursos do estado, benefícios fiscais, financiamentos a custo baixos e isenção tributária transferida para a população. Estou do lado dos mascarados de Salvador Dali e vou depor a favor da absolvição deles, afinal, só fizeram justiça à moda de Robin Hood!.

Enquanto isso aguardo o julgamento caminho por uma Madri alaranjada por este sol de início de verão. Calhes floridas exalavam ares mornos de uma metrópole radiante. Cosmopolita, sua juventude circula de bicicleta, bebe nos bares, ou toma capuchino em elegantes cafés.


*Paulo Atzingen é escritor e jornalista

**Esta história é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência – Leia os outros capítulos desta novela nas edições futuras do DIÁRIO DO TURISMO.

 

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