Luciana Scherer, Secretária de Turismo de São Miguel das Missões (RS), fala ao DIÁRIO

Continua depois da publicidade
Recém empossada pelo prefeito de São Miguel das Missões (RS), José Roberto, a secretária de Turismo do município gaúcho, Luciana Scherer, é turismóloga, além de ter alguns requisitos indispensáveis para o cargo como conhecimento de mercado, capacidade de relacionamento com o trade turístico regional, estadual e nacional.
Com experiência anterior em cargos públicos, embora não executivos, Luciana foi gestora de projetos no Ministério do Turismo atuando na coordenação de convênios na estruturação do turismo brasileiro e, em Brasília, atuou como gerente da Federação de Convention & VIsitors Bureaux. A secretária tem também pós-graduação – nível lato sensu em Gestão Pública, o que a auxilia muito nos conhecimentos necessários para a função.
“Embora com experiência com gestão de convênios, em consultorias em projetos de governo federal, eu estreio como ocupante de cargo público diretamente na gestão pública, como Secretária de Turismo de São Miguel das Missões”, afirma a executiva nesta entrevista concedida ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen, confira:

DIÁRIO – São Miguel das Missões tem um Patrimônio Mundial declarado pela Unesco, o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo. Você é turismóloga com pós-doutorado em Turismo sob o tema Missões, certo?

A minha formação acadêmica iniciou com o Curso de Turismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde me graduei em 2001. O meu Trabalho de Conclusão de Curso teve como tema central a Rota Missões, que havia sido recém implementada e era um objeto de estudo bastante interessante para o contexto do turismo, não só nas Missões mas no Estado.

Concomitantemente ao curso de Turismo eu cursei o curso de Administração, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nesse curso, o meu TCC foi uma análise de posicionamento de marketing de um empreendimento hoteleiro de São Miguel das Missões.

Veja também as mais lidas do DT

Em 2005 completei o mestrado em Ciências Sociais, na PUC-RS, e minha dissertação foi uma análise do Plano de Turismo Viajando pelo Rio Grande, da gestão 1999-2002 da Secretaria de Estado do Turismo, sob a ótica das Redes de Políticas Públicas.

O doutorado em Desenvolvimento Regional, na Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul foi finalizado em 2019. O título da minha tese foi: “TURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: POTECIALIDADES E LIMITES PARA REGIÃO DAS MISSÕES”. Foi um amplo e intenso período de pesquisa e aprendizado sobre os posicionamentos possíveis da nossa região, sobre a percepção dos atores regionais, as avaliações dos turistas, e também de especialistas sobre o Turismo nas Missões.

Com a apresentação da tese, pensei na possibilidade de aprofundarmos as questões sobre o turismo nas missões, e então surge o Pós-Doutoramento com o tema do Caminho das Missões e seus impactos no desenvolvimento da região. Ainda estamos nessa pesquisa que tem sido muito gratificante para todos os envolvidos: eu como pós doutoranda e também para os empreendimentos que figuram como objetos de pesquisa.

“É preciso equacionar os interesses do mercado e a necessidade da preservação do patrimônio, com a “tônica do discurso”

DIÁRIO – Você já tem um plano para esse atrativo tão precioso à cultura rio-grandense, nacional e porque não dizer, mundial? 

São Miguel das Missões possui um Plano Municipal de Turismo para o período 2019-2029. Esse plano foi amplamente discutido na comunidade local, no setor público e privado. Esse será o instrumento que orienta as ações do turismo, e ele está baseado em duas perspectivas: aumentar a oferta (por meio da qualificação de destino) e aumentar a demanda (por meio da promoção e posicionamento do destino junto ao público interessado em viagem).

Essas duas perspectivas atendem a perspectiva do mercado turístico que requer oferta, demanda, considera o espaço geográfico e os operadores, todos considerados para formarmos – ou reforçarmos –  o mercado turístico para São Miguel das Missões.

Quando a equacionar os interesses do mercado e a necessidade da preservação do patrimônio, eu acredito que a “tônica do discurso” será sempre as avaliações técnicas sobre o que queremos, o que podemos e o que devemos fazer. Isso para os dois casos.

Acho importante não entendermos essas duas questões como polarizadas, e sim como complementares, com dois braços que equilibram esse contexto tão especial que é ser um município de pequeno porte, no interior do Estado, possuindo o único Patrimônio Mundial da Humanidade na Região Sul do Brasil. Isso nos dá uma oportunidade de mercado fantástica, e por outro lado, uma responsabilidade imensa de preservação e qualificação dessa memória cultural.

DIÁRIO – Pode nos adiantar alguns planos de sua secretaria? Ela é independente ou será ligada à Educação ou Esporte?

O órgão é SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO, DESENVOLVIMENTO E CULTURA. Não está hierarquicamente vinculada a Educação ou Esporte, mas o posicionamento da gestão é trabalhar conjuntamente com todas as pastas, integrando as equipes para alcançarmos os melhores resultados possíveis para o município.

Nossas ações futuras devem levar em conta o Plano Municipal sem desconsiderar as ações que estão em andamento.

Meu posicionamento é uma qualificação de projetos para captação de recursos, e como eu já mencionei, levanto em consideração as duas perspectivas colocadas no Plano Municipal: a oferta e a demanda. Essa estruturação é fundamental para um posicionamento desse destino no mercado turístico. Dentro dessas perspectivas estão a pesquisa de demanda com entendimentos sobre o perfil do nosso turista, as ações de qualificação do atendimento, novas perspectivas de lapidação da relação atrativo-produto-oferta, e as fundamentais ações de promoção e apoio à comercialização.

“É preciso qualificação de projetos para captação de recursos”

DIÁRIO – Como está a participação do empresariado de São Miguel nessa expectativa de retomada do turismo para 2021?

Uma questão importante para entendermos a dinâmica do Turismo como atividade socioeconômica é que precisamos da atuação do público e do privado. Turismo não se faz somente com o público, e sem sua a participação tem-se bastante dificuldade de se pensar o destino como um todo. Portanto há que se entender que o público faz a gestão do destino, a promoção, a captação de recursos, possíveis fluxos de lazer, estudos, eventos e negócios. O privado concentra-se nos seus respectivos negócios, em promoção e qualificação do seu ambiente especificamente. SE pensarmos em cooperação e colaboração e conseguirmos engrenar essa dinâmica, a chance de auferirmos resultados positivos é maior.

São Miguel das Missões possui um Conselho Municipal de Turismo muito atuante, composto por representantes do setor público e do setor privado.

Temos a Associação Comercial e Industrial do município, que representa o setor privado também é muito parceira das ações da Prefeitura Municipal.

Todos estão muito emprenhados e são cientes dos desafios e das necessidades de um trabalho conjunto.

Teremos, assim que passarmos pela “bandeira preta” da pandemia aqui no Rio Grande do Sul (pois agora há a impossibilidade de encontros presenciais) um grande momento de alinhamento, onde será necessário ouvir e pensar as importantes ações para o destino, principalmente nesse contexto de complexidade e incerteza que estamos vivendo em função da pandemia.

Temos muita expectativa em um trabalho conjunto entre o setor público e os nossos empreendedores locais.

Filme britânico A Missão (com Robert De Niro) retrata a história das Missões (divulgação)

DIÁRIO – Como você é especialista no tema Missões, o filme britânico A Missão (com Robert De Niro) é fidedigno à história real?

Na verdade, eu não sou historiadora e não me considero especialista em Missões, mas tento sempre estudar o turismo nas missões. Temos figuras importantíssimas na Região que possuem esse domínio e são muito mais preparadas para essa análise histórica do Filme a Missão.

Sabemos que existem muitas posições críticas sobre essa produção: sobre as disputas de poder entre as coroas, o papel dos jesuítas nesse contexto e também a forma como os índios são retratados. Acho que talvez as críticas se fundamentam no fato de que o filme tenta retratar um período de mais de 150 anos em um único conjunto de personagens / tempo histórico. Isso por si só já compromete a possibilidade de exercer um caráter fidedigno à história real

Eu tento sempre pensar pela ótica das potencialidades, das limitações, das relações. O que temos aqui, o que podemos fazer, como devemos fazer. De outro lado temos as dificuldades e então é importante pensar em como contorna-las.

Mas especificamente sobre o filme A Missão, uma produção de 1986 que vencedor da Palma de Ouro em Cannes. É uma produção muito importante na indústria cinematográfica e eu considero um instrumento de promoção do tema Missões. A trilha sonora premiada, os atores Jeremy Irons, Liam Neeson e o maravilhoso Robert De Niro são elementos encantam na produção cinematográfica.

Acredito que a indústria cinematográfica é importantíssima para os destinos turísticos, temos exemplos de destinos que exploram essa oportunidade. Um exemplo disso é a Nova Zelândia que lançou no mercado com roteiros especializados baseados nas trilogias “O Senhor dos Anéis” (2001 – 2003, Dir: Peter Jackson) e “O Hobbit” (2012 – 2014, Dir: Peter Jackson). Portanto eu acredito no cinema como um indutor de destinos, e acho que poderia ser uma ação muito pertinente em um cenário como as Missões.

Nota-se, vale a pena pautar, que a minha posição não é de avaliação do conteúdo cinematográfico, mas de avaliação das possibilidades de promoção de destino que uma grande produção cinematográfica pode oferecer para um destino e seu posicionamento no imaginário de uma demanda turística.

“A Companhia de Jesus chegou em São Miguel em meados de 2020”

DIÁRIO – Luciana, foi anunciado em setembro do ano passado (o DIÁRIO inclusive noticiou) o retorno da Companhia de Jesus à área dos 7 Povos das Missões. Como está esse processo, já chegaram? Quem os acolherá?

A Companhia de Jesus chegou em São Miguel em meados de 2020, e hoje estão estabelecidos aqui no município dois Padres e um Irmão Jesuíta. Há alguns meses, o Pe. Mieczyslaw Smyda, Providencial Brasileiro dos Jesuítas esteve em São Miguel das Missões, e rezou a 1ª Missa da Companhia aqui no município. E a partir daí iniciaram-se as organizações das ações, tanto relativas a própria igreja, organizando a paróquia e também nos distritos e capelas. Também pela atuação do Ir. Celso iniciou-se a presença nos projetos da região, pois além do Patrimônio da Humanidade aqui em São Miguel das Missões, a região tem também outros 3 Patrimônios Nacionais: São João, São Lourenço e São Nicolau, e mais cidades importantes como São Borja, São Luiz e Santo Ângelo que também tem relação, identidade e patrimônio relacionados com os jesuítas. Também capelas como a de Caaró e Assunção do Ijuí, portanto a Companhia tem muito interesse na nossa região.

Essa chegada foi muito comemorada, a região toda os acolheu e aqui em São Miguel é a Sede, mas também estão trabalhando pelas Missões como um todo. Podemos afirmar que estão atuando tanto nas questões da igreja, como também nessa relação histórico-cultural da cultura jesuíta-guarani. Importante pautar que os Jesuítas ainda são importantes para as nossas relações transfronteiriças Brasil-Argentina-Paraguai, no contexto dos 30 Povos, que extrapola o nosso território missioneiro do Rio Grande do Sul.

 

 

 

 

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade