Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO TURISMO, Marcelo Marinho, diretor da ICH Administração de Hotéis, destacou o bom desempenho da rede Intercity em 2024, impulsionado pelo aumento da diária média e pela retomada do segmento corporativo. “2024 foi um ano de crescimento significativo, principalmente no que diz respeito à conquista da diária média, ainda que a hotelaria em geral registre atrasos em relação à inflação”, afirmou. Eventos como o Rock in Rio e o G20 contribuíram para resultados expressivos, especialmente no Yoo2, que se posiciona como uma referência no segmento de luxo.
Apesar dos avanços, o ano também trouxe desafios, como as enchentes no Rio Grande do Sul, que impactaram gravemente o turismo regional. Ainda assim, a ICH manteve sua estratégia de renovação, com reformas importantes em unidades como o Intercity Aeroporto Porto Alegre e avanços em tecnologia, incluindo melhorias no Orange App e no programa de descontos Clube Orange. Segundo Marinho, a força empregadora do setor e iniciativas como o PERSE reforçaram o potencial da rede para continuar crescendo e investindo. Confira a entrevista concedida ao editor do DT, jornalista Paulo Atzingen:
DIÁRIO – Marcelo, como foi a performance de ocupação dos hotéis da rede Intercity no primeiro e no segundo semestre de 2024?
Veja também as mais lidas do DT
MARCELO MARINHO: Vivemos o residual do pós-pandemia. 2024 foi um bom ano, de crescimento significativo, principalmente no que diz respeito à conquista da diária média, apesar de a hotelaria, de forma geral, ainda registrar atrasos comparado à inflação. Mas por uma questão de movimento represado, principalmente evento, e de um pequeno aumento no volume de vendas corporativas pós-pandemia, foi dada à hotelaria global a possibilidade de aumentar a diária média.
DIÁRIO – Houve algum padrão sazonal relevante, como queda ou aumento em períodos específicos?
MARCELO MARINHO: No nosso caso, o padrão é mesmo dos hotéis urbanos – picos de terça a quinta-feira, finais de semanas com fluxo de lazer, e picos durante grandes eventos, seja no segmento corporativo ou de entretenimento. No RS, infelizmente tivemos o fechamento do Aeroporto Salgado Filho causado pelas enchentes, o que prejudicou imensamente a indústria do turismo e eventos na região Sul do Brasil.
DIÁRIO – Quais foram os principais fatores que impactaram o faturamento e o RevPAR durante o ano de 2024?
MARCELO MARINHO: Acredito que o ganho de diária média sem perda de ocupação foi o grande responsável, mas sempre quando falo em diária média, lembro que a hotelaria ainda sofre tantos valores abaixo da indexação da inflação. Contudo, os grandes eventos são os grandes responsável pela alavancagem do REVPAR.
DIÁRIO – Alguma estratégia de precificação ou promoção foi implementada para alavancar esses números?
MARCELO MARINHO: O grupo ICH trabalha com um calendário promocional anual. Começamos o ano com a Summer Season, que pega o verão e férias escolares promovendo nossos destinos com preços convidativos, depois vem carnaval, férias de julho, temporada de Black Friday, sem falar nos períodos de Páscoa, Dia das Crianças, Dia de Finados, ou seja, todo feriado que tem uma possibilidade de se transformar em feriadão, trabalhamos o B2C de forma estratégica e com bastante atenção. Inclusive, este é um trabalho feito há alguns anos, mesmo antes da pandemia, uma vez que a ICH posiciona a Intercity como uma rede de hotéis urbanos, independente do motivo da viagem do cliente, seja ela lazer, corporativo, eventos sociais, shows. Somos uma empresa hoteleira com mais de 50 unidades e reconhecida em todo o território nacional.
DIÁRIO – O lucro líquido da rede em 2024 pode ser comparado a anos anteriores? Se sim, quais?
MARCELO MARINHO: Nosso resultado foi impulsionado pelo PERSE, uma ajuda extremamente importante para o nosso setor. A iniciativa do Governo Federal mostrou que se tiver incentivo, o reinvestimento acontece, como foi em nosso caso. Para nós, o PERSE acarretou em melhores resultados hoteleiros e a possibilidade de investimentos no ativo e mão de obra. E não podemos esquecer da força empregadora e o efelto multiplicado do turismo na economia.
DIÁRIO – Alguma unidade da rede INTERCITY teve resultados que se destacaram positiva ou negativamente? O que contribuiu para isso?
MARCELO MARINHO: O Rio de Janeiro com nossos dois hotéis – Intercity Porto Maravilha e Yoo2 – sem dúvida são os grandes destaques de 2024 pelos excelentes números de ocupação registrados, contudo, Yoo2 teve um ano ímpar, principalmente em virtude das realizações do Rock’n Rio e, recentemente, do G20 – Fórum de Cooperação Econômica Internacional. Este hotel tem se posicionado de maneira muito interessante no segmento de luxo, com faturamentos recordes, principalmente no último mês de novembro.
A outra praça de destaque é São Paulo, cidade que tem um calendário bastante robusto de grandes eventos, o que a faz ser um atrativo para muitos visitantes, tanto brasileiros quanto estrangeiros.
DIÁRIO – Quais foram os principais desafios enfrentados no mercado em 2024, considerando tanto fatores econômicos quanto concorrenciais?
MARCELO MARINHO: A Intercity é uma rede genuinamente gaúcha, com 10 hotéis no Rio Grande do Sul, então sem dúvida o grande desafio foram as enchentes que castigaram o estado e sua economia. Esta foi uma catástrofe jamais vista, tendo gerado graves consequências para a indústria do turismo, que representa 5% do PIB do estado e é um dos principais vetores econômicos da região. Somado a essa tragédia natural, ainda ficamos sem o Aeroporto Salgado Filho por seis meses, o que prejudicou ainda mais os nossos negócios.
DIÁRIO – Houve investimentos significativos em melhorias de infraestrutura, tecnologia ou serviços em 2024? Quais foram os impactos percebidos?
MARCELO MARINHO: Sim. Este ano, vários hotéis da rede Intercity foram reformados, com investimentos significativos em infraestrutura, entre eles o Intercity Paulista, Intercity Nações Unidas – ambos em São Paulo -, o Intercity Salvador, o Intercity Aeroporto Porto Alegre. Aqui vale um destaque para este último, que depois de um período fechado, reabriu as portas totalmente de cara nova. A reforma foi significativa no lobby, restaurante, área de eventos, o que lhe conferiu um ar de hotel novo, recém-inaugurado. É importante frisar que a rede apresenta um trabalho contínuo de renovação do ativo junto aos conselhos.
Já em tecnologia, avançamos com o Clube Orange, nosso programa de descontos, e seguimos fazendo investimentos contínuos em nosso aplicativo, o Orange App, que está vinculado ao clube. Além disso, desenvolvemos projetos de tecnologia de automação, de processos, como por exemplo, check in e check out, impactando positivamente na percepção do hóspede.
DIÁRIO – Aconteceram mudanças significativas no perfil do cliente durante 2024? Como isso impactou as operações da rede?
MARCELO MARINHO: Na verdade mantivemos o que já tínhamos. No pós-pandemia, já trabalhávamos o cliente de lazer, que é bastante significativo e tem tudo a ver com o posicionamento da Intercity, de ser uma rede de hotéis urbanos, e isso continuou. Também temos uma presença forte do segmento de grupos e eventos, que é muito importante para nossos negócios.
DIÁRIO – Quais segmentos (corporativo, lazer, eventos) foram mais representativos no ano? Algum comportamento surpreendente?
MARCELO MARINHO: Feiras, eventos e corporativo foram os segmentos mais representativos, tendo em vista que o corporativo este ano voltou a ser o maior. Este resultado não surpreende, aliás, era bem esperado, uma vez que grande parte do público de Intercity é constituído de clientes corporativos, que também nos procuram em seus momentos de lazer. E o segmento de lazer também não pode ser ignorado para nós, ele é vital e estamos presentes em vários destinos turísticos de família.