Por Zaqueu Rodrigues
O Diretor Executivo da ICH Administração de Hotéis, Marcelo Marinho conversou com o DIÁRIO sobre os impactos da pandemia na cultura hoteleira e os caminhos da retomada.
O turismo de negócios não será o mesmo, aponta Marcelo, que projeta uma dinâmica híbrida mais equilibrada entre o trabalho no escritório e home office, as viagens e as reuniões virtuais.
O cenário político instável representa um desafio a mais para a retomada do turismo, diz ele. “O nosso segmento corporativo é muito focado na economia, no PIB brasileiro. A gente viu uma evasão de investimentos internacionais muito forte”.
Sobre o turismo doméstico, diz Marcelo: “O Brasil está tendo uma oportunidade de descobrir o Brasil”.
Como a rede ICH está após um ano e meio de pandemia no Brasil?
Marcelo Marinho: Hoje a gente está mais resiliente. A gente voltou a aumentar as equipes e a contratar. Já temos hotéis performando melhor do que em 2019. O Nordeste está indo muito bem. O lazer continua forte. Em agosto foi o primeiro mês em que o número de clientes CNPJ foi maior do que CPF. Já começo a ver, de certa forma, o corporativo voltar. Hoje estamos em outra fase. Eu sinto o Brasil mais esperançoso com as pessoas sendo vacinadas.
Qual é o perfil dos hotéis da ICH?
Marcelo Marinho: Eles são hotéis urbanos. Nossos hotéis em São Paulo, por exemplo, atendem a shows, casamentos, lazer, business. Nosso negócio, antes da pandemia, era 60% business e 40% individual. Na pandemia isso inverteu. Ficou 70% individual e 30% business. Agora está 53% business, que está começando a ganhar espaço de novo. São 41 hotéis todas as regiões do país.
Como você visualiza a recuperação do turismo?
Marcelo Marinho: Eu não acredito mais em conto de fada. Mas eu vejo que estamos no melhor momento da pandemia. Eu coloco muito mais fé e esperança no verão. As companhias aéreas precisam voltar. Os voos estão lotados, mas não é lotado porque voltamos ao patamar inicial da pandemia. Estão lotados porque não tem frota aérea, porque tem avião no chão. Para a hospedagem, o B2C está muito bem no Brasil. Fala-se, e eu acho que é fato, que vai ser um verão histórico. As pousadas e grandes resorts inseridos na natureza estão surfando uma onda muito boa e viram suas diárias medias subirem. O Brasil está tendo uma oportunidade de descobrir o Brasil. Agora o público está conhecendo lugares como a Chapada dos Veadeiros, Alter do Chão, Chapada Diamantina, Parque do Jalapão. Eram destinos nichados; agora está todo mundo indo.
Como a pandemia mudou o turismo de negócios?
Marcelo Marinho: É um cenário que vai ter uma mudança. Tem um estudo do The Wall Street Journal bem estruturado que fala que 20% a 30% das viagens vão ser impactadas. E é justamente essas individuais, dentro da empresa… A pandemia deixa algumas cicatrizes no segmento corporativo que a gente vai levar um tempo para tirar.
Isso aqui (entrevista via Zoom), com três pessoas, funciona muito bem. Agora, bota mais pessoas para ver como fica: é um rolo. É o áudio que está ruim, a câmera que está torta, tem riso aqui, uma piada ali… Isso cansa. Eu acredito que cada um vai cansar em um momento diferente.
Já tem muitas empresas saindo do home office. As pessoas estão cansadas de ficar sozinhas. A gente perde muita coisa na reunião virtual, como o gesto, o cheiro, o olhar, a percepção. Imagina na relação de trabalho, que você lê muito a linguagem corporal. Essa relação pessoal será muito valorizada.
Vai continuar sendo híbrido. Um pouco escritório, um pouco home office. Um pouco viagem, um pouco virtual. Eu acho que vai ficar assim. Os eventos e convenções estão voltando. Estamos recebendo muitas cotações para eventos, pois as empresas estão precisando voltar após passar muito tempo longe. Eu acho que vai ter um destrave nesse sentido, uma necessidade de viajar, de fazer negócio face to face, mas não a curtíssimo prazo.
Como retomar em um cenário político instável?
Marcelo Marinho: A gente precisa de uma estabilidade política e econômica para que a economia do nosso setor volte. Hoje se gera muita instabilidade, muita volatilidade das bolsas, da confiança do empresariado. Isso é muito ruim. Fomos lá [Brasília] em comitiva. A gente também se posicionou sobre a pandemia, mas o governo não está muito pronto para falar dessa pasta. O meu medo é que, quando abrir as fronteiras de vez, haja uma evasão desse público que está aqui porque está preso. Se isso acontecer a diária vai cair. Nada acontece nesse país se não tiver a junção da iniciativa privada com a pública. O Brasil não tem uma economia pujante, uma facilidade de locomoção pujante. A pandemia causou uma recessão generalizada. Com uma economia forte, volta mais rápido. Estamos num momento pré ano de eleição, uma taxa cambial muito alta. O nosso segmento corporativo é muito focado na economia, no PIB brasileiro. A gente viu uma evasão de investimentos internacionais muito forte.
A experiência é a palavra da vez no turismo. A hotelaria está atendendo a essa demanda?
Marcelo Marinho: A hotelaria é muito chuveiro e cama ainda. A experiência tem que existir. Com ela, o design se torna mais democrático. Estamos abrindo um hotel no próximo mês, o Tru By Hilton, lá em Criciúma. Ele é muito legal. Ele é econômico, mas é super cool. Ele é uma experiência: pratos coloridos, cada andar de uma cor. Muitos lugares, como Porto Alegre, estão renovando o cenário gastronômico focados na experiência. É uma tendência em todos os outros setores. Agora, o quanto a hotelaria vai acompanhar isso… ela ainda é conservadora no Brasil.
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