Mesmo com moeda enfraquecida, Cuba aposta na retomada do turismo

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Com o peso enfraquecido, a economia de Cuba ainda assim tenta reagir a níveis pré-pandemia.
O ministro da Economia do país, Alejandro Gil afirmou esta semana que “o Estado deve restabelecer o controle da taxa de câmbio e defender nossa moeda a uma taxa de 120 pesos para o dólar”, disse à Reuters.
Na quinta-feira, um peso cubano valia 155 dólares, seu valor mais baixo desde o chamado “Período Especial” em Cuba, conhecido como a profunda depressão econômica que se seguiu ao colapso de 1991, após a derrocada da União Soviética. Para saber mais detalhes sobre a economia do país e suas relações com o fluxo turístico, o DIÁRIO conversou com o cônsul de Cuba, em São Paulo, Raul González. Raul integra o corpo diplomático de Cuba no Brasil e no consulado é responsável assuntos relacionados aos negócios e ao comércio do país caribenho. A entrevista foi concedida ao repórter colaborador do DT, Raimundo Ruiz Jesus.

Após da reabertura do turismo em Cuba, em novembro do ano passado, quais são os desafios e medidas mais importantes que permanecem com o Covid-19, ou outras medidas sanitárias para garantir a tranquilidade dos turistas que visitam o país?

Raul Gonzáles – Depois da reabertura do turismo em novembro do ano passado foram tomadas estritas medidas de bio- seguridade e se estabeleceram protocolos que garantem a diminuição e contágio do retorno do vírus. Como parte deste processo se programou um certificado de turismo saudável e seguro, o qual é imprescindível para cada instalação hoteleira que entra em operações.

A partir da cobertura alcançada de mais de 90% da população totalmente vacinada e com suas doses de reforço, desde o passado 6 de abril, não existem restrições de ingresso a Cuba do exterior: só se requer passaporte vigente, a tarjeta de visto de turismo, um seguro de viagem com cobertura médica que inclua o Covid- 19 e completar a declaração de sanidade do viageiro.

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Qual a importância que o mercado brasileiro de viagens e turismo de negócios representa hoje em Cuba?

Raul Gonzáles – O turista brasileiro viaja a Cuba como turista dentre do segmento “Reuniões, incentivos, Congressos e Eventos”, e o Brasil tem sido durante anos um dos grandes emissores de visitantes a eventos e congressos que são de diversas categorias, como por exemplo: “Congressos de Pedagogia”, “Saúde para todos”, “Eventos de Solidariedade”, etc.

Também existe um segmente de alto nível vinculado a homens de negócios e amante dos “charutos cubanos”. Este segmento tem crescido consideravelmente nos últimos anos a partir do interesse cada vez maior do brasileiro no mercado cubano. Há mais de duas décadas também se realiza um grande evento internacional de consumidores e degustadores de charutos em Havana; onde o Brasil sempre tem uma boa participação.

Quais são os programas e destinos preferidos dos brasileiros na ilha?

Raul Gonzáles – O que mais demanda o turismo brasileiro são a praia, atividade de mergulho e algumas referências relacionadas com natureza (eco- turismo), música e folclore.

A maioria do turista do Brasil visita Havana e as praias, como Balneário de Varadero, outras praias de litoral norte e algumas ilhotas (chamadas de Cayos) ou seja, “turismo patrimonial e sol e praia”. Basicamente é um combinado de pacotes a partir de 5 dias e 4 noites e 7 dias com 6 noites aproximadamente (são os mais procurados). Mas às vezes ficam um pouco mais.

Eles também se identificam e encontram os atributos e condições no destino que são: segurança, pessoas cultas hospitaleiras e solidárias derivadas do nível educacional e cultural da população cubana, assim como a história local, nossas tradições e o nosso patrimônio nacional o qual pode ser apreciado nos 18 destinos turísticos que tem Cuba.

É relevante mencionar que o turismo brasileiro em Cuba foi se incrementando exponencialmente desde 2016 até 2018 onde alcançou o valor maior de turistas com mais 41 mil turistas que viajaram à ilha. Agora em 2022 se observa já mais de 2 mil 500 brasileiros visitaram o país e aguardamos que este número chegue ainda este ano a aproximadamente 4mil turistas.

“O turismo brasileiro em Cuba foi se incrementando exponencialmente desde 2016 até 2018 onde alcançou o valor maior de turistas com mais 41 mil turistas que viajaram à ilha”, afirma o cônsul na entrevista (Crédito: Raimudo Jesus Ruíz – especial para o DT)

Falando em turismo de negócios, quais são as redes hoteleiras estrangeiras mais representadas e qual foi o volume de investimentos no último semestre deste ano, incluindo reformas nos hotéis?

Raul Gonzáles – A partir da experiência obtida na “Havana Velha Patrimonio Cultural da Humanidade desde 1982” (UNESCO), nos últimos 15 anos se recuperaram mais de 65 edifícios para o turismo dentre deles 63 hotéis (instalações hoteleiras).

Os investimentos vão orientados especificamente ao melhoramento do conjunto habitacional, o desempenho de imobiliário vinculado para os “campos de golfe” e ao equipamento com formas renováveis de energia, exemplo: montagem de paineis solares, lâmpadas Led, tratamentos de residuais e plantas filtradoras de água salgada.

No país existem aproximadamente 100 contratos de administração hoteleira gerenciados por 20 cadeias estrangeiras. Com maior relevância 70 hotéis representam cadeias espanholas   como: Meliá, Ibero Star, Be live (Grupo Globalia), Roc e Barceló entre outras. As cadeias hoteleiras com maior representação em Cuba são: Meliá e IberoStar com 33 e 18 hotéis respectivamente cada uma. Até hoje, ainda não temos hotel de bandeira brasileira em Cuba, mas temos empresários interessados e com possibilidades nesses empreendimentos onde se realizaram conversações a respeito.

Neste último semestre de 2022, para atender a demanda do turismo, como tem sido o crescimento ou capacidade hoteleira neste verão?

Raul Gonzáles – A estrutura hoteleira em Cuba está composta por mais de 400 hotéis e mais de 75 mil 100 quartos. Sendo que um pouco mais dos 72% dos mesmos se encontram na categoria 4 e 5 estrelas.

Na recente Feria Internacional do Turismo FIT, em Havana, Cuba em maio de 2022, foi realizado o lançamento da campanha “Cuba Única”. E como parte da reativação do turismo, aguardamos pela perspectiva, de que ainda neste ano se chegue à cifra de mais de 78 mil 900 habitações. Isto representaria um aumento de 4,5% médio anual.

Atualmente, (neste último semestre de 2022) Quais são as principais companhias aéreas estrangeiras e suas conexões com Cuba? Você acha que elas melhoraram no transporte de passageiros?

Raul Gonzáles – Cuba está conectado ao mundo a través de 43 companhias aéreas. Dentre as mais importantes estão: Air Canada, America Airlines, Aeroflot, AeroMéxico Air China, KLM, Air Europa, Air France, Ibéria e Copa AirLines com sua linha de baixo custo “Wingo”. (preços económicos) que opera a partir de Colômbia.

Como dado adicional podemos dizer que em Cuba se retomou a compra de dólares norte-americanos e se mantém as outras moedas estrangeiras.  É possível usar cartões de créditos Visa, Mastercard, e algumas outras bandeiras não emitidas pelos Estados Unidos ou filiais das mesmas. Também existe a opção de cartões MLC (Moeda Livremente Conversível) válidas por dois anos que não são personalizadas e só precisam dum código de 4 dígitos para sua ativação e tem valores fixos em moedas livremente conversíveis que sevem para pagar serviços e compras nos destinos turísticos de Cuba, também se podem estabelecer pagamentos por códigos QR e o pre- cheque virtual para viageiros é possível.

Varadero , uma das preferências de brasileiros que vão a Cuba (Crédito: Getty Images)

Como Cuba está se preparando para a Feira Internacional de Havana em novembro deste ano?

Raul Gonzáles – A FIHAV é a maior e mais importante bolsa comercial de Cuba e o Caribe e uma das mais representativas na América Latina, depois de 2 anos realizadas em formato virtual, se celebra de maneira presencial, na sua sede habitual de Expo- Cuba do 14 ao 18 de novembro na sua 38 edição.

Apesar do bloqueio financeiro e econômico do governo dos Estados Unidos contra nosso país recrudescido em tempos de Pandemia, mesmo assim até a atualidade contamos sempre com a confiança dos empresários de todas as partes do mundo no mercado cubano, pelo qual aguardamos por uma grande participação nesta próxima feira. Na ocasião celebraremos o “Quinto Fórum de investimento”. Realizaram-se atividades de promoção de fundos exportáveis cubanos, que incluíram como aspecto novo à produção de formas de gestão não estatal que estão presentes em nosso país. Será criado um “Fórum Virtual” para que os empresários que não possam viajar a Cuba participem por esta via online.

No caso de Brasil já estão confirmadas a participação de mais de 20 entidades as quais estarão localizadas no Pavilhão 2 de Expo-Cuba (em Havana) e a promoção para o empresariado na feira se realiza através da Câmara Empresarial Brasil- Cuba e com a operadora Sanchattour.

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