Moraes, o rei do Filé, um restaurante centenário no centro de Sampa, resiste ao tempo e ao descaso das autoridades públicas
por Jorge Salim (com colaboração do grupo Vinho e Companhia)*
Como sobreviver ao abandono que os dirigentes políticos da nossa cidade estão promovendo pela falta de coragem de enfrentar e solucionar os problemas sociais? O centro pulsante da nossa São Paulo está definitivamente abandonado. Só sobrevive os guerreiros, herdeiros dos pioneiros que fizeram a verdadeira Pauliceia ferver em tempos atrás com seus restaurantes icônicos na região central.
O quadrilátero composto pelas regiões da Praça da República, Praça Duque de Caxias, região do Parque da Luz indo até o Anhangabaú, foi um celeiro de inúmeros e bons restaurantes, mas hoje conta-se nos dedos os que sobreviveram.
Tempo de Glória
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Bem próximo ao decantado e famoso cruzamento entre as avenidas Ipiranga e São João, na praça Júlio Mesquita, o Moraes, conhecido restaurante apelidado de Rei do Filé, ainda guarda os ares dos anos de glória. Até dizem que foi lá que Adoniran Barbosa compôs Saudosa Maloca. Fato sem confirmação. Em suas paredes várias publicações, enquadradas e emolduradas, da Folha de São Paulo, Estadão, Revista Veja e outros veículos da grande imprensa realçam o tempo de glória do endereço.
Visitamos a casa. Fomos lá fazer um resgate desse ícone, que ainda sobrevive, sofrendo as consequências do caos que a cracolândia provoca nessa região. Ana Regina, sócia-administradora do restaurante, nos conta que ainda vale a pena lutar para manter a casa em pé. Até antes da pandemia, tinham o restaurante no local próprio desde o início em 1929, tocados por seu tio e sócios, e mais tarde por seu pai e a mãe, deram continuidade. Além disso, tinham outras duas filiais. Em Pinheiros e próximo da Av. Paulista, na Alameda Santos. Ambos fechados em consequência da crise sanitária.
Regina é uma das vozes que compõem a cruzada de donos de estabelecimentos comerciais no centro de São Paulo. Ela não mais pede, ela exige providências: “Pagamos impostos! Precisamos de uma solução para o centro de São Paulo!”
Publicações, enquadradas e emolduradas
Como um Filé de Meio Quilo com Alho ficou famoso?
Um medalhão de filé mignon cortado e frito por alguns minutos de ambos os lados e tostando sua superfície e ao ponto no miolo. Segundo a lenda o nome ‘filé do Moraes’ deve-se ao chapeiro do restaurante que tinha este nome e atendia aos pedidos em alto e bom som: “Solta um filé, Moraes!”.
Histórias à parte, quando lá estivemos, fomos recepcionados pelo gerente, José Oscar Gonçalves com 48 anos de casa. Muito alegre, dizia que está feliz como se fosse a primeira semana de trabalho. Testemunhas da época áurea, fomos apresentados ao chef, nas dependências da cozinha. Por sugestão de um dos colegas, escolhemos o Bife a Cavalo, originalmente com dois ovos, acompanhado de batatas rosti.
Celebramos com garrafas de vinhos e finalizamos com o tradicional vinho do Porto.
Fim do almoço e o retorno à realidade
Foi uma tarde de viagem ao passado. Um regozijo efêmero, pois ao sairmos, nos confrontamos com a dura realidade. Apesar de da presença de um posto policial da Guarda Civil Metropolitana (GSM), ao lado do restaurante, o filé não funciona mais à noite servindo os tradicionais jantares. Uma pena!
Quando se erguerá um administrador público com coragem de enfrentar o problema de frente e resolver a situação do centro de São Paulo? Qual o interesse de se manter o coração da capital paulista sem a pulsação de outrora?
É preciso que os responsáveis pela administração pública acordem para esse clamor dos empresários da gastronomia paulistana do centro histórico da capital.
*O grupo Vinho e Companhia apoia os restaurantes e paga por seus serviços