Mortes também acontecem no jornalismo de turismo de viagens

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Pessoas caminham sobre o local de acidente aéreo na Etiópia — Foto: Tiksa Negeri/Reuters

É evidente que o DIÁRIO não ficou e nem fica indiferente às nuvens negras que se formam no Brasil e no mundo. Não somos um jornal de faz de conta. Lamentamos a falta de políticas e ações públicas para minimizar as enchentes urbanas, como a da Região Metropolitana de SP na última semana; lamentamos a queda do avião 737 MAX 8 e a morte de 157 passageiros, como nos sensibilizamos com a chacina de 5 estudantes, 1 comerciante, 2 funcionários da escola Raul Brasil e a morte dos 2 jovens autores da loucura.

Mas no nosso universo de jornalismo de turismo de viagens também acontecem mortes. A morte lenta, gradual e silenciosa de leitores do bom jornalismo. Mortes causados pelo mau gosto, pelo déficit de sensibilidade e pela obsessão pelo superficial.

Pseudos-profissionais do jornalismo e da comunicação vêm se utilizando cada vez mais de viagens para falar mais do mesmo. Promovem-se e utilizam de uma linguagem comezinha, preguiçosa e repetem jargões, clichês para atenderem – supostamente – um público que só quer ver fotos, micro-vídeos e memes. Somos reféns da informação instantânea e vitimas de um artilharia pesada que nos rapta a atenção e mata o nosso tempo.

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Veículos que se dizem produtores de conteúdo nada mais são que reprodutores da esterilidade rasa das mídias sociais.

E quando falamos de profundidade, não falamos de análise. O jornalismo de turismo de viagens não é terreno para isso. Falamos da capacidade descritiva de ambientes e paisagens, da agilidade narrativa de histórias de personagens no âmbito da reportagem. Falamos na forma não linear em que se organizam as ideias para atender públicos não lineares.

” imperdivel”

Vejam uma descrição feita por uma revista de turismo, em publicação recente: “O passeio pela manhã na cidade é imperdível, pois oferece bistrôs descolados”. Que horror! Essa informação não ajuda em nada e usa o termo imperdivel que é nulo de significado e o termo descolado que é pleno de superficialidade.

Outra pérola:

“À tarde a agência de viagem receptiva tem vários passeios legais.” (…) vejam a grande descrição da reportagem: “passeios legais”.

Questionamos a precariedade de conteúdo.

Hoje, verifica-se a pulverização mercadológica das redações (e não falamos aqui da redação no sentido físico e organizacional, hoje já raros). Mas das redações cara-tela de computador-teclado. As plataformas de bloguetes de autodenominados influenciadores têm ditado a regra de inúmeras empresas que querem visualizações e cliques. Não questionamos essa determinação da empresa, pois achamos que é legítima dentro de seu escopo de indústria que busca vender cada vez mais e gerar lucro.

Mas questionamos, sim, a precariedade de conteúdo.

Aliás, cabe lembrar que vivemos a era do content Marketing ou marketing de Conteúdo. E essa tendência consolidada encontra ressonância nos parâmetros de relevância estabelecidos pelo Google. Há orientações claras para se obter grau mais elevado de utilidade de textos jornalísticos e promocionais. Além do cuidado com a seleção de palavras-chave, textos mal redigidos, prolixos, com erros ortográficos e gramaticais, redundância recorrente e abuso dos clichês perdem posições na aferição do Google. E comprometem o sucesso junto à audiência.

Em suma: bom jornalismo se faz com a régua da razão e o fervilhar das emoções. Em se tratando do jornalismo de turismo de viagem essa dupla bem calibrada é indispensável. Pede envolvimento e gosto de quem escreve. A dimensão e qualidade do repertório são decisivos.

Jornalismo de turismo de viagens não combina com vícios relacionados à lei do menor esforço. Pode-se escrever com relativa rapidez, mas sem pressa… E o foco, da primeira à última linha, é atrair, seduzir e, se possível, encantar o leitor e mantê-lo vivo. Provocá-lo e não limitá-lo. Incitá-lo a descobrir como turista e viajante, e não matá-lo na leitura como se ele já não existisse.

O DIÁRIO nao subestima seus leitores, mas os respeita.

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