Em contraste com as previsões anteriores, ele moderou as expectativas, referindo-se ao objetivo declarado da Tesla de produzir 20 milhões de carros por ano até 2030, como uma “aspiração” e não uma meta fechada
FINANCIAL TIMES
Poderia a compra do Twitter ser um ato de arrogância que coloque em risco o império de startups de Elon Musk? Nas duas semanas desde que o conselho de administração da rede social aceitou sua oferta de US$ 44 bilhões, surgiram temores de que o homem mais rico do mundo pode estar dando um passo maior que as pernas.
Essas preocupações vão desde a possibilidade de ele estar se forçando demais ao assumir outra companhia, os riscos de ele vender parte de sua participação pessoal na Tesla, chegando até os temores de uma reação política por causa do absolutismo da “liberdade de expressão” que ele prometeu dar ao Twitter.
Em uma entrevista concedida na terça-feira no seminário Future of the Car Summit, promovido pelo “Financial Times”, Musk rebateu perguntas sobre se o Twitter pesará sobre seus interesses comerciais mais amplos enquanto ele lida com os grandes problemas enfrentados pela fabricante de automóveis Tesla.
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Estes incluem as tensões decorrentes do gerenciamento do que ele descreveu como a companhia manufatureira de crescimento mais acelerado da história, em meio a uma grave crise mundial nas cadeias de suprimentos e o crescente abismo geopolítico entre os Estados Unidos e a China.
Ele rejeitou a alegação de que controlar o Twitter é algo que contribuirá para aumentar os riscos já enfrentados por seus negócios atuais. Perguntado se seus planos controvertidos para a rede social poderão de alguma forma resvalar na Tesla, sua resposta foi: “Estou confiante de que seremos capazes de vender todos os carros que pudermos fabricar”.
O chefe da Tesla falou longamente este ano sobre como lidar com uma situação em que “a demanda supera a produção num grau ridículo”. Na terça-feira, ele sinalizou uma nova ideia: cortar temporariamente as novas encomendas. “Na verdade, provavelmente vamos limitar isso – parar de aceitar pedidos por qualquer coisa além de um determinado período de tempo”, disse ele.
Depois, há os complicados cálculos políticos que podem vir quando se é o dono do Twitter. O bilionário rival Jeff Bezos está entre aqueles que levantam a possibilidade da dependência que Musk tem de Xangai para fabricar seus produtos possa deixá-lo exposto a pressões de Pequim para censurar o Twitter. O sempre irascível CEO mal piscou ao rebater a alegação: “Não vejo nenhuma indicação nesse sentido”.
Musk se mostra muito feliz por superar falhas políticas que outros líderes empresariais têm evitado. O chefe da Tesla destacou o atual “lockdown” em Xangai por causa da covid-19 como um risco imediato para o sucesso da Tesla. Ilustrando suas relações próximas com o governo chinês, Musk disse que teve discussões que aliviaram suas preocupações.
“Tive algumas conversar com o governo chinês nos últimos dias e está claro que os lockdowns serão suspensos rapidamente”, disse ele, adotando um tom mais moderado do que o usado quando ele desafiou uma ordem compulsória de fechamento de sua fábrica na Califórnia. “Então, eu não espero que isso seja um grande problema nas próximas semanas.”
No cenário político fraturado dos EUA, ele não faz rodeios ao atacar o que alega ser um viés de esquerda no Twitter e defende a reversão do banimento permanente de Donald Trump da rede social. Seu objetivo, afirma, é fazer inimigos nos dois extremos do espectro político.