Nem todo mundo quer a árvore de Natal carioca

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Will Connors -The Wall Street Journal

A árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas foi recentemente destruída por um vendaval e agora os organizadores estão trabalhando para recuperá-la para o Natal.

Durante os últimos 20 anos, a cada temporada de fim de ano, milhares de pessoas se reúnem em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, um pitoresco cartão postal carioca, para assistir à iluminação da maior árvore de Natal flutuante do mundo.

A árvore metálica — cuja altura este ano teve de ser reduzida de 91 metros para 53 depois de ser parcialmente destruída por um vendaval — normalmente flutua durante várias semanas em uma plataforma em movimento em torno da Lagoa, iluminada por mais de três milhões de lâmpadas minúsculas que exibem diversas imagens natalinas. A cerimônia de iluminação, repleta de celebridades, é exibida por canais de TV em todo o país e só fica atrás da festa de Réveillon e do Carnaval na lista dos eventos mais assistidos da cidade, segundo os organizadores.

Mas nem todo mundo está contagiado pelo espírito natalino.

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Um time de beisebol local alega que, para construir o palco onde a cerimônia de iluminação da árvore é realizada, a empresa encarregada todo ano toma conta de seu campo — o único espaço público dedicado ao esporte na cidade — deixando para trás desordem, pregos enferrujados e ocasionalmente destruindo as cercas. Alguns moradores reclamam que o evento atrai lixo e um excesso de pessoas, e as ruas já engarrafadas pelo tráfego ao redor da lagoa se tornam ainda mais intransitáveis.

Em um popular parque para cachorros, túneis e outros brinquedos são removidos para que geradores de energia e vagas de estacionamento para os convidados especiais da cerimônia possam ser instalados. Um gramado plantado por frequentadores do parque foi destruído após as festividades do ano passado.

“Para ser honesto, ninguém aqui gosta muito”, diz Janildo Santana, de 45 anos, um treinador de cães que faz a manutenção do parque enquanto cuida de um boxer chamado Thor. “O evento é barulhento, traz um monte de tráfego, é uma loucura.”

A cerimônia de árvore é organizada pela cidade e pela empresa de eventos Backstage. A Backstage afirma que o evento é feito com o apoio da cidade do Rio, que tem a responsabilidade pelo tráfego e pelo lixo. Ela acrescenta que não constrói qualquer estrutura no parque de cachorros e faz inspeções antes e depois do evento para garantir que o campo de beisebol seja deixado na mesma condição.

A prefeitura do Rio informou que iria ocupar o campo de beisebol por menos tempo nesta temporada e substituirá as cercas destruídas. Ela não fez comentários sobre o parque de cachorros.

O vendaval em novembro acrescentou ainda mais drama à cerimônia da árvore deste ano. Uma parte da árvore desabou durante a tempestade. Os organizadores dizem que estão trabalhando dia e noite para fazer os reparos necessários e que vai tê-la pronta antes do Natal.

A imagem da árvore parcialmente destruída circulou nas redes sociais e inspirou a campanha “Deixa assim”, em que internautas pediam que a árvore não fosse consertada para simbolizar o ano difícil para o país. Em meio a uma onda de escândalos de corrupção, uma recessão profunda e um desastre ambiental épico em Minas Gerais, o meme ganhou milhares de seguidores no Facebook e no Twitter.

Mas campanha não deve inviabilizar a cerimônia no Rio, onde as celebrações de Natal são um grande negócio. A cerimônia de iluminação, que custa cerca de US$ 1,3 milhão, marca uma espécie de início não oficial da temporada turística de férias na cidade. O varejo cobre suas lojas de decoração natalina; bares e hotéis passam a cortejar os milhares de turistas de outros Estados e do exterior que migram para a cidade.

O tititi em torno da árvore flutuante não é muito diferente do inspirado pelo evento da árvore de Natal do Rockefeller Center, em Nova York. Só que em vez de patinação no gelo, no Rio, os visitantes usam pedalinhos em forma de ganso para passear pela lagoa. Famílias inteiras e casais jovens se reúnem nas margens da lagoa para comer pipoca e fazer selfies.

Jorge Olinda de Oliveira, de 46 anos, vendedor de água de coco e outras bebidas na lagoa há 10 anos, diz que o evento é positivo para o seu negócio.

“Para mim, ajuda muito”, diz Oliveira. “Muitas pessoas vêm visitar e eu ganho mais dinheiro. Eu nunca reclamo.”

A árvore também passou a simbolizar uma espécie de divisão entre os ricos e os pobres do Rio. O evento acontece na lagoa, que é cercada por alguns dos bairros mais abastados do Brasil. Os moradores que se queixam frequentemente não escondem o desdém pelas multidões que vêm apreciar as festividades.

“Para nós, que vivemos aqui? É uma m…”, diz Mario de Andrade Neto, 50, proprietário de um bar na beira da lagoa. “É como convidar toda a cidade para visitar sua sala de estar por 30 dias. Você gostaria que as pessoas jogassem lixo e usassem sua sala como um banheiro?”

Neto diz que as multidões não ajudam seu negócio porque o bar é para “um público mais sofisticado”.

Para Erick Nakano, treinador dos Cariocas, um time de beisebol semiprofissional, a árvore significa a perda do campo de beisebol do Rio durante quatro meses, enquanto o palco para as festividades de iluminação da árvore é construído. Quando tudo termina, ele diz que o time passa semanas limpando detritos e preenchendo buracos no gramado.

Ainda assim, Nakano insiste que não é contra o espírito de Natal, só não o quer em seu campo.

“Nós gostamos da árvore. Mantenha a árvore”, diz Nakano. “Nós apenas queremos jogar beisebol.”

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