A linguagem do ódio social, fazendo-o derivar para a baixaria cívica e a ignorância política
Mário Beni*
O desenvolvimento entre os brasileiros é fruto do estupor de ver o país repleto de políticos, estadistas, magistrados e procuradores da república que não cumprem seu papel constitucional, e, ao longo das últimas décadas perderem surpreendentemente a qualidade, alienaram-se das mudanças sociais, criaram atritos impregnados de ódio retórico. Foram se desmoralizando e, ao mesmo tempo, forçando a população digerir a raiva e a combatividade manifestadas nos embates eleitorais como muito bem nos lembra o professor Marco Aurélio Nogueira titular de Teoria Política da UNESP.
A linguagem do ódio social, fazendo-o derivar para a baixaria cívica e a ignorância política. Basta atentar para as intervenções apopléticas que infestam as redes sociais. Vinda de uma esquerda que não sabe como agir longe do poder, tal postura alimenta uma direita grosseira e violenta repleta de convicções regressistas. E vice-versa.
As consequências inevitáveis estão aí. A intolerância que leva a incompreensão do valor das alianças e negociações.
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Gente de esquerda a radicalizar a pretexto de recusar a “conciliação”. O próprio PT campeão das últimas “conciliações”, prega que haverá uma “rebelião popular” caso Lula seja condenado no dia 24 de janeiro. Ameaça com a “desobediência civil” como se as massas estivessem furiosas e prontas para a resistência. Fala em conspiração das elites e do judiciário apostando numa saída nacional popular que iria além das regras do jogo democrático e sanearia o País.
Lado A versus Lado B
Na verdade estamos pagando o preço do opção feita pelos políticos de criar na sociedade a percepção de que tudo se resolveria quando o lado A sobrepujasse o lado B.
Parece que redescobriram o fantasma do neoliberalismo, a perversão do “comunismo” a maldade das elites brancas e emponderadas, a fantasia paradísica alienante do presidente “igualzinho a você” que distribuiria riquezas e benesses a bel prazer.
Tanto fizeram que cresceu a sensação de que o país está cindido em dois pólos incomunicáveis. Trocaram o fundamental pelo perfunctório, o trabalho político pertinaz pela agitação irresponsável, o reformismo progressivo pela estridência de promessas fáceis, o contato virtuoso com a população pelo jogo cínico dos bastidores e pela conclamação demagógica da “rebelião”.
*Professor Titular (aposentado) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo