Netflix perverteu a ordem das coisas, e abriu ainda mais o fosso que separava o consumidor da tevê aberta, e logo depois da própria tevê por assinatura
por Fábio Steinberg*
Nem mesmo o espaço aéreo foi poupado da avalanche devastadora de conteúdo de filmes e séries que tomou conta do mundo desde 1997. Devagar e sempre, a Netflix perverteu a ordem das coisas, e abriu ainda mais o fosso que separava o consumidor da tevê aberta, e logo depois da própria tevê por assinatura.
A reação veio através do vídeo por demanda, ao permitir acesso à programação na hora que quiser. Teve vida curta, pois serviu só para as tevês por assinatura darem uma paradinha para respirar. A vantagem se derreteu na velocidade de um efervescente em copo d’água. Foi quando a Netflix permitiu a gravação de seu conteúdo em dispositivos móveis, tanto para a família Android como Apple (iOS).
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Ou seja, o assinante ganhou liberdade total para assistir off-line à programação na hora e onde quiser, sem internet. Para isto, faz download daquilo que escolher em qualquer dos 130 países onde a Netflix opera.
Então, para que serve o entretenimento oferecido a bordo nos aviões? As companhias aéreas adoraram a novidade. Afinal, esta é a oportunidade para o passageiro trazer o próprio tablet ou smartphone, e assim se livrar de telas individuais e cabeamento intenso nas aeronaves, e que envolvem altos custos de manutenção e atualização tecnológica.
Do lado do passageiro, nada contra a novidade. Por que não usar o seu equipamento, muitas vezes com qualidade superior à dos aviões, e assistir ao que realmente o interessa?
O assinante ganhou liberdade total para assistir off-line à programação na hora e onde quiser, sem internet. Para isto, faz download daquilo que escolher em qualquer dos 130 países onde a Netflix opera
Quanto à Netflix, à medida que ganha músculos, amplia seu poder de barganha junto à indústria cinematográfica, não só para não produzir filmes exclusivos, como aumenta o portfólio em melhores prazos dos existentes.
A chiadeira veio de quem depende diretamente do serviço. Além da turma do “deixa disso” que vive do entretenimento a bordo nas companhias aéreas, há os interessados em garantir hora extra para o serviço agora já taxado de obsoleto, e ainda por cima assegurar uns trocados a mais pela cobrança de internet a bordo.
Este grupo de resistência aposta em duas limitações. A primeira é que nem sempre o passageiro consegue se programar com a devida antecedência com estoque de gravações antes de pegar o avião. A segunda é que nem todos os dispositivos dispõem de memória suficiente para acumular conteúdo durante o percurso.
“Não perdemos o jogo completamente para a Netflix, mas com certeza isto marca uma nova era para o entretenimento a bordo”, reconhece Eric Lauzon, responsável pela área na Air Canada. Ele sabe muito bem que fatores circunstanciais podem atrasar o progresso, algo que certamente o tempo corrigirá.
*Fábio Steinberg é jornalista – https://www.blog.steinberg.com.br/