Certa feita, visitava uma cooperativa vinícola cujo enólogo principal era o italiano e professor Paolo Fenocchio, um grande mestre. Chegou nessa cooperativa um produtor de uva querendo entregar o seu produto em tambores de ferro; como não foi autorizado a descarregar pelos funcionários o gerente ligou para o Dr. Fenocchio perguntando se poderia receber a uva do produtor.
A resposta desse grande mestre foi sensacional: “Claro, sem problemas, eu vou para casa, pois nada mais tenho pra fazer aqui. E o presidente vem receber a uva e fazer o vinho, se puder ser chamado de vinho com uva armazenada em tais condições”…
Um dos problemas causados por esse tipo de transporte e armazenamento de uva era o fato de que o vinho se enriquecia em ferro e, muitas vezes, era preciso tratar o vinho com ferrocianeto de potássio, um produto tóxico que exigia registro do uso, para evitar a casse férrica, uma “doença” que os vinhos apresentavam. Lá se vão mais de 40 anos graças à introdução do aço inox na enologia.
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Um ensinamento inesquecível, obrigado Mestre Fenocchio.
Alguns anos depois, conversando com o Enólogo Carlos Abarzua, da Cave Geisse, disse a ele que não entendia um estudo comparativo entre a produção de uva Chardonnay com 20 t/ha em latada e 10 t/ha em espaldeira. disse-me então esse grande enólogo: “a gente aqui cultiva vinho e não a fruta uva, quem cultiva uva é engenheiro agrônomo, não o enólogo”.
Em outras palavras, qualquer agrônomo busca produtividade como busca também o teor de açúcar da fruta e isso vale para qualquer fruta. Não é o caso da uva para o vinho, pois além da maturação da uva e bom teor de açúcar, busca-se a maturação fenólica e para isso é necessário limitar a produção por planta para ter qualidade e não quantidade.
Outra pessoa que marcou muito a minha vida, foi o Dr. Dillor de Freitas da Villa Francioni. Certa feita ele pediu: “Preciso um enólogo que entenda de uva e de vinho”, foi quando contei a ele a conversa acima e fui à cata de alguém com este perfil. Não foi tarefa fácil, mas encontrei o Orglindo Bettu. Na noite de apresentação do amigo Orgalindo ao Dr. Dillor foi uma experiência marcante. Estávamos conversando e degustando maravilhosos vinhos, eis que aparece o meu amigo Antônio Barrichello e seu irmão Luis, produtor dos vinhos Villa Bari entre outros. Os dois empresários já se conheciam e a noite foi longa e muito agradável. Ao nos despedirmos e ao entrarmos no carro do Dr. Dilor, me disse: “Vou contratar esse enólogo, o cara é muito bom”. Dias depois, o meu amigo Antonio me falou: “Meu irmão entrou no carro e disse: perdi meu enólogo”. Pra quem conhece o Orgalindo Bettu, sabe muito bem que é outro grande enólogo.
A visão do Dr Dillor corrobora o ensinamento que recebi do Abarzua.
Por fim, acompanhando o Engº Dic Freire, que coordenava o projeto da Villa Francioni, participei de uma reunião em Santiago com o enólogo francês Paschal Marti. Na conversa comentei sobre ter duas linhas de vinhos uma de vinhos TOP e uma 2ª como fazem os grandes Chateaux. Então Marti me disse: “Não existe isso de 1º ou 2º vinho, tudo é vinho de 1ª, tudo é TOP, por uma questão de mercado, pra não exceder a oferta, etc. e tal, depois se define como serão vendidos, mas repito, é tudo de primeira”…
Como podem ver, é muito importante esse contato com os enólogos e assim se aprende a razão pela qual um vinho é a FELICIDADE ENGARRAFADA.