Por Andréa Nakane
Sim… você pode até ter achado estranho…, mas o título em questão está correto e vem a celebrar a estação do ano no qual o frio domina, mesmo em um país tropical como o nosso.
Quando a abordagem é a temporada de inverno, geralmente quem quer ser mais radical, escolhe como destino turístico o sul do país, contando com as baixíssimas temperaturas para quem sabe apreciar uma pequena nevasca, que irá lhe proporcionar o contato com neve, que para registrar em fotos e na memória experencial.
Já aqueles que querem fugir do frio e são apaixonados pelo sol, investem no litoral nordestino para um cenário mais típico do Brasil, com direito a praia e calor, ainda não tão escaldante.
Veja também as mais lidas do DT
Porém quando deparamos com a oferta de um circuito que tem o frio um dos seus atrativos, sem exagero, no limite de curtir bem o que se é programado, pode soar como uma fantasia, mas é bem real.
Isso acontece na Paraíba, com o projeto Caminhos do Frio, que começou no último dia 03 de julho e irá até o dia 03 de setembro, reunindo 09 municípios do brejo paraibano, de forma ininterrupta.
Valorizando a identidade cultural nordestina de cada uma das regiões que integram esse projeto, o Caminhos do Frio, começou com o empreendedorismo gerido pelo SEBRAE/PB, inicialmente na região de Bananeiras e depois congregando mais municípios, tendo como objetivo atrair turistas, celebrar a cultura nordestina e intensificar a economia de cada cidade que promove a festividade.
Na edição de 2017 o circuito passa por Areia, Pilões, Serraria, Matinhas, Remígio, Alagoa Nova, Solânea, Alagoa Grande e Bananeiras, e em todo o seu traçado há uma oferta diversa de gastronomia, artesanato e intervenções culturais, demonstrando a força da economia criativa em sua tratativa colaborativa.
O começo foi em Areia, localizada a 42km de Campina Grande, com o slogan Frio, Cachaça e Arte tendo como ambiente principal a praça principal da cidade, com direito a coreto e igreja secular na paisagem cenograficamente verdadeira, sem nenhum tipo de alteração e explorando o clima bucólico e interiorano.
O evento na localidade explorou ao máximo sua produção artesanal de cachaça, destacando a de Jabuticaba e uma especialmente idealizada para o período, que foi batizada como “Puro Êxtase” – uma mistura de cachaça, amendoim, açúcar mascavo, catuaba e vinho. Muitos até comentaram seu poder afrodisíaco. Além disso, para quem não bebe nada, como eu, a gula foi nossa companheira constante passando pelos sabores quentes dos caldinhos, com destaque para o caldo verde e o de galinha, a comida de sustância com a carne de sol e seu delicioso acompanhamento de arroz de leite e o inhame cozido. Nas sobremesas, doces caseiros diversos e a já internacional tapioca doce, com destaque para a de rapadura aerada.
Muitos trabalhos de renda, crochê e de madeira sinalizavam o talento dos artesãos da localidade.
E shows gratuitos com personalidades da região – Chico Limeira e Lara Amélia – que levaram a todos, sem exceção, a arrastar os pés no mais autêntico e animado forró pé de serra, demonstrando o vigor de um dos ritmos mais típicos e encantadores de nossa riqueza musical.
A novidade desse ano no Circuito Caminhos do Frio está na oferta de um aplicativo específico com orientações completas aos visitantes para aproveitarem intensamente o período, além disso o site contém toda a rota –https://www.caminhosdofrio.com.
É uma experiência muito rica e de exaltação a brasilidade e sobretudo a simplicidade em fazer algo que remete a um tempo onde tudo tinha uma cadência mais vagarosa, onde as pessoas se conectavam com outras ao vivo e a cores e aproveitavam a vida, de forma singela, mas plena, com empatia e simpatia de ser somente feliz, mesmo que por uma única noite e isso, em Areia, foi entregue e certamente nas outras cidades participantes não será diferente.
Ainda dá tempo… já que o inverno ainda está no começo… e o inverno brasileiro, com temperaturas aprazíveis e o calor humano característico do nosso povo, por si só é uma atração imperdível, que aquece almas, corações e a própria economia.
*Andrea Nakane é educadora, autora de livros e diretora do Instituto Mestres da Hospitalidade