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O impacto dos acidentes aéreos na saúde mental dos sobreviventes

Aumento de acidentes aéreos acende alerta sobre saúde mental

Nos últimos anos, o número de acidentes aéreos no Brasil tem crescido de forma preocupante. Dados do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) da Força Aérea Brasileira revelam que, em 2024, 153 pessoas foram vítimas de acidentes aéreos, um aumento expressivo em comparação com os 77 casos de 2023 e os 49 de 2022.

Embora esse aumento gere discussões sobre a segurança na aviação, outro ponto crucial merece atenção: como ficam os sobreviventes emocionalmente após enfrentar uma situação extrema como essa?

O psicólogo e psicanalista Marcos Torati, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica como um acidente aéreo pode impactar a saúde mental dos envolvidos, gerando traumas complexos que exigem acompanhamento especializado.

O trauma psicológico de um acidente aéreo

Torati explica que os sobreviventes de um acidente aéreo enfrentam uma quebra abrupta de confiança no mundo ao seu redor. “Esse evento pode desencadear dois tipos de trauma psicológicos simultâneos: um social e outro pessoal”, aponta.

O trauma social acontece porque o avião, antes associado a lazer e progresso, passa a representar um risco de vida. Já o trauma pessoal está ligado à carga emocional do evento, tanto para os sobreviventes quanto para seus familiares, que lidam com as consequências psicológicas de uma experiência difícil de processar.

Para avaliar a profundidade do impacto psicológico, é necessário considerar dois fatores principais: a ocorrência do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e a vivência do luto por entes queridos perdidos na tragédia.

Acidentes aéreos: Como crianças e adultos reagem ao trauma?

A forma como um acidente aéreo afeta emocionalmente uma pessoa varia conforme sua idade e seus recursos psicológicos para lidar com a situação.

No caso das crianças, a vivência traumática tende a ser registrada mais no corpo do que na mente, pois os recursos simbólicos para elaborar o acontecimento ainda são limitados. Como explica Torati:

“Quanto menor for a criança, maior será sua dificuldade de elaboração simbólica. Dessa maneira, as marcas físicas e psíquicas provocadas pelo acidente ficam impregnadas no corpo, como uma espécie de tatuagem.”

Já os adultos possuem mais mecanismos para processar o trauma, mas isso não significa que a recuperação seja fácil. A complexidade das emoções envolvidas pode desencadear crises de ansiedade, depressão e dificuldades em retomar a rotina.

Acidentes aéreos: os impactos psicológicos a curto, médio e longo prazo

A jornada de recuperação emocional após um acidente aéreo ocorre em diferentes fases:

Curto prazo: os primeiros dias ou semanas costumam ser marcados por amnésia dissociativa, perda temporária da memória causada pelo choque emocional. Além disso, a vítima pode apresentar um estado de torpor e incredulidade, dificultando a assimilação do que aconteceu.

Médio prazo: conforme o sobrevivente se apropria da realidade da tragédia, inicia-se um período de instabilidade emocional. O luto, as perdas e a necessidade de reconstrução da vida podem gerar episódios dissociativos e crises de ansiedade.

Longo prazo: nesta fase, a principal dificuldade é equilibrar a necessidade de seguir em frente com as cicatrizes emocionais deixadas pelo trauma. Muitos sobreviventes relatam um sentimento de estranheza ao retornarem ao cotidiano, como se estivessem saindo da escuridão para a luz repentina.

acidentes aéreos
A jornada de recuperação emocional após um acidente aéreo ocorre em diferentes fases – Image by Gerd Altmann from Pixabay

A importância do suporte psicológico na recuperação

A superação de um trauma dessa magnitude exige acolhimento profissional, além do apoio de amigos e familiares. O acompanhamento psicológico pode ajudar o sobrevivente a reelaborar sua identidade, ressignificar a experiência e reconstruir sua confiança no mundo.

Para Torati, o processo de cura envolve tanto o enfrentamento do ambiente externo quanto o gerenciamento do próprio mundo interior, onde as lembranças do evento podem se tornar invasivas.

“Além dos esforços para tolerar a relação com o ambiente, a pessoa traumatizada encontra também a pressão de lidar com seus conteúdos interiores, especialmente quando está sozinha, sendo invadida por pensamentos intrusivos e rememorações do evento traumático.”

Acompanhamento psicológico, apoio emocional e um ambiente acolhedor são essenciais para que o sobrevivente consiga retomar sua trajetória de vida após uma experiência tão extrema.

(Redação do DIÁRIO com assessorias) 

 

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