Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, o vinho melhorou a qualidade nas últimas décadas, boas praticas enológicas de produção foram alcançadas, graças a grandes avanços tecnológicos e a melhor capacitação dos enólogos.
Em nosso país, o primeiro investimento foi nas vinícolas, com grandes tanques de inox, equipamentos modernos e o envase em condições a dar estabilidade ao vinho engarrafado.
Com o tempo os produtores se deram por conta que o importante era investir em vinhedos, afinal, 80% ou mais da qualidade de um vinho vem da uva. Novas regiões foram encontradas e um manejo adequado das vinhas permitiu essa impressionante evolução.
Com certeza outras inovações serão encontradas, no entanto, nós brasileiros, seguimos reativos, ou seja, esperamos a água bater ao queixo para se buscar soluções para as nossas dificuldades.
Outros países, tratam de ser proativos – aos poucos isso será melhor entendido graças ao futebol, pois está na moda falar de time reativo ou time proativo – sendo a Alemanha e a Itália bons exemplos, senão vejamos:
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O Sommelier Billy Wagner disse certa vez: “é preciso remover a poeira das garrafas” e seu colega Gerhard Retter seguiu “a rigidez do mundo do vinho pouco a pouco vem sendo eliminada”, ambos creditam esse avanço à rede Geração Riesling.
Geração Riesling é uma plataforma criada na Alemanha, que comporta jovens com no máximo 35 anos, que recebem excelente treinamento, orientação internacional e se tornam aptos a assumir responsabilidades na indústria do vinho alemã.
Esses jovens passam a ter ATITUDE perante a vida e para esse propósito passam a socializar, desenvolver ideias, realizar ações conjuntas, mas sob o teto comum a todos, provam a sua individualidade e se envolvem em assuntos de interesse comunitários.
A Geração Riesling é sinônimo de Alemanha e produtores de outros países (outras cepas e vinhedos) participam. Possuem atualmente pouco mais de 500 membros em seus pouco mais de 15 anos de existência.
Na Itália, por sua vez, acabam de lançar um curso de pós-graduação para futuros gestores de consórcios, como são chamadas as entidades que regulam e controlam os vinhos de Indicação Geográfica (IGT, DOC e DOCG).
A FEDERDOC, a federação que envolve tais consórcios, oferece 10 bolsas para jovens selecionados. Seu presidente Riccardo R Curbastro afirma: “A consciência dos desejos e objetivos de realização profissional deve ser sempre acompanhada de preparação e estudo”.
Segue Curbastro: “Para atuar na gestão cada vez mais complexa de Consórcios de proteção de vinhos em DO, é necessário um conhecimento profundo da realidade vitivinícola italiana, da legislação e das áreas operacionais em que atuam”.
“Voltamo-nos para os jovens com o intuito de estimular uma mudança geracional – continua Ricci Curbastro – esperamos que desses cursos surjam novos profissionais especializados, que possam atuar com essa consciência e dar um contributo de novas ideias, entusiasmo e métodos tão inovadores, com competência e responsabilidade, em particular sobre os desafios do futuro ligados às grandes questões do ambiente e da sustentabilidade”.
Oxalá sejam os primeiros dez de muitos outros!
Para gerir uma associação de produtores de vinho com indicação geográfica é preciso tirar a poeira das garrafas e diminuir ou eliminar a rigidez do mundo do vinho, o que cabe a jovens dispostos a quebrar paradigmas com atitude.
É preciso socializar o lugar, realizar ações conjuntas sob um mesmo teto, sem perder a individualidade de cada um e isso só se consegue com uma grande capacitação desses jovens.
Se o Brasil quer ser um país de destaque positivo no cenário mundial, deve investir e muito em seus recursos humanos e tem tudo para fazer isto acontecer com escolas de viticultura e enologia em todo o nosso território, além de ter um centro de pesquisa nacional da uva e do vinho que coordena todas as unidades de pesquisa.
Não está na hora do setor vinícola brasileiro investir em seus recursos humanos para este grande salto? Fica a pergunta.
Referências para o artigo:
https://www.generationriesling.de/ueber-uns/
*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.