Os Livros da Pandemia – por Bayard do Coutto Boiteux*

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O confinamento nos trouxe e continua nos trazendo disponibilidade para produzir. Com o teletrabalho implantado não perdemos mais horas no transporte público e podemos melhor organizar nosso tempo. No meu caso específico, tenho aproveitado para escrever artigos, crônicas, pensamentos e livros. Vamos entendendo que precisamos de alguma forma conversar com os outros e talvez com cada vez menos atividades presenciais, nos resta a escrita.

Escrevo como sei, numa linguagem simples que pode atingir um maior número de pessoas e possibilitar interação efetiva, além de uma troca de experiências o tempo todo. A vida só tem sentido quando vamos compreendendo que sabemos muito pouco, que temos que estudar sempre e que idade cronológica e relógio são muito subjetivos. A noção de tempo e espaço é hoje muito diferente e se concebe numa adaptação contínua e rápidas a tantas mudanças que ocorrem diariamente.

Minha pandemia fez nascer cinco novos livros. Foi a maneira que encontrei para nunca deixar que gatilhos negativos apenas enchessem minha razão. Cada um deles foi trazendo esperança, amor próprio, necessidade de compartilhar e de saber que nossa voz pode ter um eco no espaço longínquo da criatividade e da inocência das palavras, que merecem uma atenção especial, uma vez que cada uma tem um peso e um significado para nossos leitores. Nem sempre o que externamos é absorvido por nossos leitores como queríamos. Muitas vezes há um entendimento que vai muito além do que preconizamos mas em alguns momentos fica aquém ou com interpretações tão subjetivas que mudam a história ou a ideia que nos sensibilizou.

Ele vem carregado de emoção, de gritos de alerta, de fantasias itinerantes e de muito amor pelo outro e pela Humanidade

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Pela primeira vez, na Pandemia, resolvi fazer um evento de lançamento para um livro. O quinto, que se chama “Memórias da Pandemia de um carioca” e teve lugar no último sábado (21), pude conversar francamente com a apresentadora do lançamento, Viviane Fernandes e mostrar de coração aberto o quanto a pandemia me afetou no princípio e como fui me reinventando, com solidariedade e carinho dos que me cercam e acreditam nos meus propósitos. O livro foi construído de forma plural com depoimentos de outras pessoas amigas que tiveram também vivências duras. Ele vem carregado de emoção, de gritos de alerta, de fantasias itinerantes e de muito amor pelo outro e pela Humanidade. O evento digital com show, sorteios e depoimentos durou quase 1 hora e conseguiu reunir um número não habitual neste tipo de certame, inclusive, com pessoas que estavam em outras cidades do Brasil e no exterior. Me senti feliz em reunir amigos, que se dispuseram, num domingo, mesmo com compromissos a saborearem de longe  nossas travessuras criativas. Nos bastidores de uma editora existe um grupo de criadores que faz os textos virarem uma atração, com a capa, o papel, as fotos, a tematização, fora quem os revisa .

Acho que ainda teremos um livro histórico em 2020, o “Memórias dos filhos dos exilados”, que está no prelo e promete trazer uma retrospectiva de famílias que viveram no Exterior, durante a Ditadura Militar e que criaram laços fortes que os unem,de alguma forma ,até hoje.

Em 2021 a produção será bem menor: planejo três livros, sendo dois de fotos e um sobre o mundo pós pandemia. É bom acrescentar que sempre produzi livros didáticos com pouquíssimas exceções e que os cinco da pandemia apresentam um novo perfil de obra. São concisos e falam com o coração. Há duas maneiras que me encantam: quem fala com o coração e quem o faz sorrindo.


  • Bayard Do Coutto Boiteux, escritor, funcionário público, professor universitário, cidadão do mundo, trabalha voluntariamente no Instituto Preservale e na Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ.
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