Quais os rumos que o Turismo Brasileiro irá tomar, seja sob o ponto de vista do setor público por meio da escolha de um novo Ministério, nova Embratur etc; seja sob a luz das empresas do segmento que sofreram uma revolução em sua estrutura após a crise sanitária mundial. O ano de 2023 bate à porta e trará as respostas.
Após as perdas monumentais (e incalculáveis) causadas pela pandemia e as passagens de Marcelo de Álvaro Antônio, de Gilson Machado Neto e de Carlos Brito pelo Ministério do Turismo sob o governo de Jair Bolsonaro, o mercado de viagem se prepara para conhecer o novo representante da pasta sob o novo governo Lula, que inicia seu terceiro mandato como presidente do Brasil em janeiro de 2023.
Por Zaqueu Rodrigues (Colaboração Especial com EDIÇÃO DO DT)
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Ao jornal DIÁRIO DO TURISMO, algumas das principais vozes do setor compartilham as suas expectativas e apontam as prioridades para o desenvolvimento do turismo brasileiro.
País bom para o turismo
O presidente da Resorts Brasil, Marcelo Picka Van Roey, examina a conjuntura do país numa perspectiva ampliada e sublinha que é fundamental ter uma economia forte que favoreça o segmento. “Um país que melhora cada vez mais é um país que é bom para o turismo. A gente espera que o país tenha um crescimento descolado do resto do mundo, mas que chegue ao ponto de a economia e as condições, em geral, não interferirem na demanda do turismo”.
A expectativa de Marcelo é a de que os novos governantes nas diferentes esferas compreendam a pluralidade e o potencial do turismo como gerador de empregos e renda. “Quero que o turismo tenha a importância que ele precisa ter em um país como o nosso. A gente espera que os governantes entendam o papel e a importância do turismo para o todo, pois quando falamos de turismo, falamos do táxi, do Uber, do restaurante, do supermercado, da barraquinha de coco, do aeroporto, do hotel… O turismo tem a virtude de conectar todos os setores”.
Mais reuniões
Para Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), uma análise detalhada depende das políticas aplicadas pelo novo governo e de quem será o novo ministro do Turismo. Algo, no entanto, já começa a se desenhar no horizonte, identifica: “A gente já pode deduzir que vai ter muito mais reuniões do Conselho Nacional de Turismo e o turismo de base municipal vai ser prestigiado”.
Alexandre ressalta que há pautas complexas no setor e que precisam ser encaradas, como o preço das passagens aéreas. “Precisamos resolver de uma vez por todas o imposto sobre as passagens aéreas para diminuir esse preço, e o Lula sempre falou isso”, pontua ele, que projeta uma retomada da popularização de passagens aéreas no país. “A expansão de companhias aéreas estrangeiras no Brasil pode ajudar nesse processo”, diz o presidente da FBHA.
Continuidade
A CEO da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association), Simone Scorsato, se mostra otimista e lembra que o ministério do turismo foi criado em 2003 no primeiro governo Lula. “Eu acredito que exista uma continuidade de um plano instituído lá atrás com inovação, e uma estratégia de promoção internacional, planejamento e fortalecimento da atividade interna com foco em sustentabilidade, turismo mais responsável e atraente aos investidores”.
O cenário, contudo, requer manter os pés no chão, orienta Simone Scorsato, que chama a atenção para a escassez de verba do ministério do Turismo. “Tanto essa como outras pastas não possuem recursos suficientes para que possamos implementar todas as promessas de campanhas ou as ações identificadas como prioritárias. Acredito que há bom interesse, mas que, por questão orçamentária, não consigamos implementar isso já de imediato na transição”, projeta a CEO da BLTA.
O enxugamento no orçamento do ministério do Turismo também preocupa a presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Mariana Aldrigui. Ela enfatiza que o turismo precisa de resultados rápidos e diz ser importante que o novo ministro do Turismo “seja bem articulado politicamente e que monte uma equipe técnica qualificada para compensar as perdas e equívocos dos últimos quatro anos. Será muito importante que as ações sejam muito bem pensadas para que o parco orçamento disponível seja usado de forma inteligente e com resultados rápidos”.
Unir Forças
Membro do Grupo de Transição do governo Lula para a área de Turismo, presidente executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau e presidente da Unedestinos, Toni Sando joga luz sobre o papel das associações para integrar os esforços das iniciativas pública e privada “seja para unir forças, seja para endossar pautas que precisam ser discutidos no legislativo e no executivo e que resultem em melhoria para o setor de turismo”.
Toni vê a possibilidade de construção de um futuro breve promissor para o setor nas diversas esferas. “É um setor com alta capacidade de gerar emprego e renda em curto, médio e longo prazo. O importante agora é gerar um diálogo pleno, no qual sejam mantidas as boas práticas e projetos, e que também sejam criadas novas ações que estimulem a atividade”.
Muitas frentes
A presidente da rede Blue Tree Hotels, Chieko Aoki, afirma que “há muitas frentes a serem melhoradas pelo novo governo. O turismo, pela sua relevância, certamente fará parte desta lista”. Para ela, é fundamental “a rápida geração de empregos, planos de incentivo ao empreendedorismo, existência de diversidade de destinos prontos, qualidade das características locais em gastronomia, artes, cultura e atrativos a fim de receber turistas nacionais e internacionais. Precisamos divulgar o nosso destino com informações aprofundadas porque os turistas, cada vez mais, querem conhecer o local em detalhes antes da tomada de decisão”.
Chieko destaca que o Brasil tem um enorme potencial para atrair turistas do mundo inteiro. “É um país continental, centro da América Latina, com belezas naturais, cultura abrangente e diversa e com profissionais bem preparados. Segundo dados divulgados pela Embratur, entre janeiro e agosto deste ano, o Brasil recebeu 1.064.468 turistas internacionais – número muito abaixo do que precisamos. Com a atuação conjunta do ministério do Turismo e Embratur, órgãos competentes, com profissionais técnicos e com visão, preparados e com verba para a elaboração de programas atraentes, podemos contar com o crescimento do nosso Turismo”.
Rumos do Turismo
Simone Scorsato entende que a promoção internacional é prioridade para o desenvolvimento do potencial turístico do Brasil. Ela destaca que é preciso investir “em estratégias de mercado e em segmentação, trabalhando a sustentabilidade, questões climáticas, ESG, focando em turismo mais responsável e que se possibilite ser usufruído por todas as camadas sociais”.
Em sua análise, Mariana Aldrigui aponta a importância de mais “clareza e transparência nas ações previstas pela Embratur [Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo] e a construção de política de credito atraente para as pequenas e médias empresas de turismo”. Na pandemia, um dos maiores desafios das empresas do setor foi ter acesso a linhas de créditos.
Desoneração da folha
Alexandre Sampaio, por sua vez, ressalta que a regulamentação das plataformas de hospedagens é outra prioridade. “A questão do Airbnb e outras plataformas de hospedagens precisam ser regulamentadas não só sob o aspecto tributário, mas também sob a ocupação diária dentro dos municípios”. O presidente da FBHA vê a oportunidade para avançar pautas como “tributação de restaurantes e hotéis em face do Perse [Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos], e a desoneração da folha de pagamento para grandes empregadores, caso da hotelaria. Temos uma possibilidade de evoluir”.
Toni Sando constata que há uma série de pautas que precisam ser continuadas, iniciadas ou até mesmo reiniciadas pelo turismo brasileiro. Entre as prioridades para alavancar o setor, ele aponta a “capacitação de profissionais, principalmente frente à grande debandada de mão de obras para outros setores por conta da crise causada pela pandemia da COVID 19”, acesso à crédito, taxação e impostos, política eficiente de promoção dos destinos nacionais, tanto regionalmente quanto nacionalmente, legislação como o Perse, legalização dos cassinos, imposto de remessas ao exterior e de importação de equipamentos para parques temáticos, infraestrutura, educação, captação de eventos e avanço no ranking da ICCA – International Congress and Convention Association”.
Informações aprofundadas
Chieko Aoki avalia como essencial a construção de um plano que contemple as singularidades do país. “Sendo o Brasil um país de tamanho continental, com clima tropical e costumes diversificados de norte a sul, assim como com nível de desenvolvimento em estágios diferentes, precisamos de planos prioritários adequados para cada região e a realidade do destino. Todos os destinos precisam de investimentos para melhorar o básico e viabilizar oportunidades sadias para pequenos e médios empreendedores. Em turismo, os pequenos negócios são fundamentais para toda a indústria, sobretudo em destinos remotos. Precisamos divulgar o nosso destino com informações aprofundadas porque os turistas, cada vez mais, querem conhecer o local em detalhes antes da tomada de decisão”.
Entre as diretrizes de Chieko estão melhorias em “infraestrutura, digitalização, geração de emprego, qualificação profissional, oportunidades e financiamentos acessíveis e a criação de uma legislação adequada para o turismo que atua em horários e com sazonalidades. O Turismo é o setor que beneficia cerca de 60 setores da economia e precisa contar com apoio do governo local – e Federal – para criação de um plano de Estado consistente, por um período de no mínimo 10 anos, a fim de garantir seu desenvolvimento de forma firme. Há uma perda considerável de espaço do Turismo brasileiro – que lida com as gangorras do investimento e, muitas vezes, com a falta de incentivos – no cenário global”.