Publicado originalmente em 25 de outubro
Por Paulo Atzingen
Um mergulho nas mais profundas águas dos mares e dos rios colombianos acompanhado de uma incursão socioeconômica sob as influências do realismo mágico. É difícil sintetizar em uma frase a enorme contribuição que o administrador de empresas Pedro Medina dá ao seu país, a Colômbia. Munido de uma caneta pointer laser, um retroprojetor e algumas dezenas de slides com informações econômicas do país do prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquez, Medina esteve na última sexta-feira (23) em São Paulo proferindo algumas palestras (uma delas, na Fundação Getúlio Vargas) e conseguiu mostrar a dezenas de brasileiros, empresários, empreendedores, jornalistas e estudantes porque a Colômbia é hoje o país que não só tem uma das economias mais estáveis na América do Sul, mas conseguiu devolver ao seu povo e aos seus dirigentes uma autoestima perdida após o ciclo histórico do narcotráfico entre os anos 80 e 2000.
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“Eu precisei vencer meus medos, vencer meus próprios paradigmas. Decidi há mais ou menos 10 anos quando lancei-me a este mergulho”, disse o executivo que passou um ano sabático em Harvard, depois de 20 anos construindo uma carreira empresarial que culminou na presidência da McDonald’s, em seu país. “Quero animar vocês que se lancem à Colômbia, que coloquem uma armadura e se lancem para vencer seus próprios paradigmas em seu país, mudando as perguntas para obter outras respostas”, afirmou em uma palestra para jornalistas.
Conferencista que já passou por várias cidades do mundo, Medina é o fundador da Ong YO Creo em Colombia (www.yocreoencolombia.com) . “Estava, em uma de minhas palestras esta semana falando sobre os períodos econômicos da Colômbia e em uma delas disse que em meu país, não vendíamos Colômbia não porque não sabíamos vendê-la, mas porque sempre nos prendíamos ao mal e não nos concentrávamos no bom”. Ele lembra que no auge do período negro do narcotráfico (1999) cerca de 400 mil colombianos deixaram seu país, maneira encontrada para fugir dos problemas que o Colômbia vivia.
Construção coletiva. Buscar causas e não culpados
Pedro Medina veio para São Paulo munido de uma inesgotável fonte de dados sobre o seu país. Apresentou não apenas estatísticas da economia, mas números curiosos do país sulamericano: “Temos mais de 1 mil ritmos folclóricos pois cremos na música. Temos mais de 55 mil espécies de plantas com flores, pois cremos na natureza. Mundialmente somos reconhecidos por nosso bom serviço, pois cremos no toque humano”, afirmou.
“Criamos um projeto de investigação, durante 18 meses envolvendo cinco universidades, cidades como Cartagena e Bogotá, porque cremos na Colômbia, integrada. Nosso projeto é uma construção coletiva“, afirmou o executivo com a convicção de quem crê profundamente no que ainda está por vir.
O objetivo de sua organização é desenvolver a capacidade de construção coletiva. “Durante muitos anos procuramos culpados. Agora proponho que achemos as causas. Troquemos as balas por um abraço, conectemos com um estranho e construamos novos vínculos”, afirma Pedro, também conhecido globalmente como o profeta do Macdonald’s.
500 mil norteamericanos
Com um Pib per capta que saltou de U$ 1.6 mil para US$ 7.8 nos últimos 10 anos, a Colômbia hoje recebe, segundo dados de Medina, 500 mil norteamericanos por ano. “Em uma década recebíamos 5 mil turistas norteamericanos, hoje recebemos meio milhão. Somos o país que movimenta um dos segmentos turísticos mais sensíveis do planeta, o birdwatching (avistamento de aves). Esta indústria seduz 150 milhões de pessoas no planeta e movimenta cerca de U$ 80 bilhões. Temos uma em cada cinco espécies de aves do mundo“, quantificou, sustentando, por meio de números, suas metáforas.
“Hoje temos uma missão compartilhada, nos sentimos orgulhosos de ser colombianos. Valorizamos a família, consideramos que a democracia é importante, somos conscientes, valorizamos e estamos buscando novos negócios, pois somos um país de empreendedores”, reforçou.
Executivo e monge
Ao final da palestra, em que prevaleceram algumas características de executivo, Pedro se transforma em uma espécie de monge e se aproxima de alguns de seus ouvintes. Retira, supostamente do cabelo de seus interlocutores, um pin com o símbolo da Colômbia pacificada: uma minúscula pomba da paz.
Sem nenhuma dúvida Pedro Medina é um discípulo de Gabriel Garcia Marquez. Apresenta a força, a leveza, a convicção e os enigmas inerentes do Realismo Mágico.