Portugal surpreende – por Osvaldo Alvarenga*

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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”
Alberto Caeiro.

Por cá, aos poucos, vamos deixando o confinamento. As cidades vão se abrindo e os hotéis estão preparados para receber os hóspedes com bastante segurança. Fomos ver – nessa hora é importante apoiar o turismo. A escassez de estrangeiros, a abundância de ofertas, a comemoração do meu aniversário, tudo convergia para a viagem. O Minho não conhecíamos; só Guimarães. Viajamos. Uma semana inteira de andanças. Ponte de Lima foi a vila escolhida como base. Pela própria e por ficar equidistante de todas as aldeias, outras vilas e cidades que queríamos conhecer: Estorãos, Arcos de Valdevez, Sistelo, Ponte da Barca, Soajo, Rouças, o Santuário de Nossa Senhora da Peneda, Lindoso, Castro Laboreiro, Valença, o Castro de Santa Trega, na Galícia, Caminha, Viana do Castelo, o Santuário de Bom Jesus do Monte, Braga e Barcelos. Na volta ainda fizemos um desvio por Tomar.

Portugal surpreende, disse o Bob quando viu os vídeos que compartilhei pelo Whatsapp. As paisagens ora remetem ao Peru, a terraços incas, ora ao norte da Escócia, com suas estradas sinuosas e estreitas, alternadas por castelos em ruínas, ora ao que eu esperava ver no Minho, suas vinhas exclusivas e aldeias de pedra. País tão pequeno e tão diverso de natureza, de cultura e de culinária, o Minho tem sotaque e léxico próprios, com palavras novas e outras conhecidas que ganham sentido diverso: espigueiro, inverneira, branda, parola, mordoma… e para não esquecer, maduro se o vinho for tinto, o tinto verde é muito mau. Também própria é a gastronomia com pratos cujos nomes são bem peculiares: arroz de pica no chão, papa ou arroz de sarrabulho, frigideiras, rojões à minhota, lampreia à bordalesa, arroz de lavagante, bacalhaus, cabritos e borregos variados; quase todos muito calóricos, pratos que pedem o inverno como acompanhamento. Fora os rojões em Viana do Castelo, ficamos no trivial, as refeições foram leves. É que o verão está de matar!

A Iêda observou, e bem, como nós no Brasil vamos perdendo os nossos rios. Aqui, parece, eles permanecem na alma da pessoas.

Para tanto calor, não faltam aos minhotos, as praias fluviais e cachoeiras. Cruzamos não sei quantos rios, encontramos tantas fontes, água limpa e fresca onde matei a sede, atravessamos pontes medievais, perdi a conta de quantas, vimos gente e vida nas várzeas. A Iêda observou, e bem, como nós no Brasil vamos perdendo os nossos rios. Aqui, parece, eles permanecem na alma da pessoas. Às margens jardins e praias. Nos dias quentes o banho, a brincadeira n’água, o caiaque, a pesca com vara, o prazer de desfrutar do rio no coração da cidade e da memória que ele representa como marco da cultura e de influências. No Brasil, parece, vamos esquecendo dessa interação; vamos matando, cobrindo e secando os nossos rios. Sobra o esgoto.

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Dei minhas primeiras braçadas no Velho Chico, em Pirapora, Minas, na década de 70. A vazante do rio, mesmo controlada na represa de Três Marias, era tanta no verão que as águas tudo cobriam e invadiam a parte baixa da cidade. Largo, foi preciso uma ponte de 700 metros de extensão para cruzá-lo. A velha Marechal Hermes continua lá como cartão postal das cidades nas duas margens. Se antes o rio São Francisco ia bater no meio do mar, agora é o mar que avança sobre o Velho Chico. A época das enchentes frequentes passou. O coitado anda franzino, fraco e degradado. Se fomos capazes de deixar assim o rio da integração nacional, quanto mais a ribeira que corre no nosso bairro. Nem damos por sua existência. Cobicei todo o Minho, rios, praias, fontes e cachoeiras, para mim.

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