por José Justo (FrontDesk – de Porto Alegre)*
Só faltou o prefeito Fedoca Bertolucci prometer prêmios para os residentes de Gramado ajudarem a manter os protocolos e as recomendações de segurança em saúde, tanto próprias como pelos turistas que estão chegando em bom número a cada final de semana na cidade.
Uma pequena parcela do empresariado da cidade bate de frente com os protocolos e sua maior preocupação é o faturamento. No entanto, a maioria se mostra preocupada com as ações de controle do governo do estado, que não atenta para as particularidades de cada comunidade e gerencia a crise geograficamente. Por ser o estado dividido em “regiões sanitárias”, levando em conta a “caminhada do vírus” e não a economia, gera descontentamento em lideranças locais e essas ações estão sendo
politizadas de olho nas eleições municipais do final do ano. Daí para a repetição da tragédia é um passo, pelo que se depreende da fala do prefeito de Gramado.
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“Não estamos bem. Caminhamos a passos largos para ter problemas se relaxarmos” e convoca: “vocês são nossos fiscais. Chame atenção das pessoas que não estão usando mascaras ou desrespeitando o distanciamento”. E dá uma pista de como está se configurando o mapa de suas preocupações: “a grande incidência dos contaminados vem dos comerciantes e isso significa que os protocolos de segurança não estão sendo obedecidos, seja pelos colaboradores, seja pelos próprios chefes dos estabelecimentos de comércio”.
Nada a festejar
Fedoca fecha a cara e franze a testa para admoestar os desavisados: “esse risco de colapso de Gramado não pode ser levado como uma brincadeira” e faz cara de espanto para reforçar o apelo: “há gente que festeja o fato de nós termos na cidade 19 leitos de UTI como se isso fosse um passaporte para se contaminar e, na verdade, estamos tratando é de dar saúde para a população e não esperando que ela se contamine para podermos tratar, ao contrário, nosso desejo é que esses leitos nunca sejam utilizados”.
Enfático: “se não estivermos juntos, vamos entrar em colapso”, apela ele em vídeo divulgado no site da prefeitura de Gramado que repercutiu nas redes pelas redes sociais na tarde de sábado, 27.
Gramado não teve nenhum óbito até agora e tem três internados em suas UTIs, vindos de outras localidades devido ao colapso do sistema de saúde em suas cidades de origem.
Na cidade, alguns potenciais candidatos a cargos eletivos, alinhados ou não com o prefeito, verbalizam ataques ao governo do estado por causa das atitudes classificadas como dúbias, por causa do “abre-fecha” constante, alternando a região em bandeiras laranja e vermelha, porém, do lado dos visitantes.
Hospedagem e gastronomia
Isso tem efeitos menos drásticos na intenção de viajar para Gramado. Em contato com turistas, chegando no aeroporto da capital e embarcando para a cidade, eles afirmam que não estão preocupados com as “bandeiras” e, sim, com hospedagem e gastronomia. Os “passeios”, em forma de visitas a parques e atrativos naturais também fazem parte dos desejos destes turistas de fora do estado que chegam regularmente pelos voos oriundos do centro do país na retomada tímida das empresas da aviação comercial regular.
Portoalegrenses com intenção de ir a Gramado curtir o final de semana no tradicional point de inverno dos gaúchos, ouvidos pelo Frontdesk durante a semana, não estão preocupados e alguns são enfáticos em não atentar para com quaisquer protocolos de segurança, higiene ou saúde. Porém, todos declaram que “cumprem as regras por civilidade e educação, desde que se exija, é claro”. Pelo histórico recente, a desobediência se dá tanto dos moradores, que se aglomeram em ônibus e em grupos como em visitantes (sejam turista ou não), quanto ao uso de máscara, afastamento, compartilhamento de objetos, máquinas e utensílios tipo copo, cuia e celular. Para a maioria dos gaúchos, é martírio a ausência do chimarrão passando de mão em mão.
A cidade respirou aliviada ao descobrir que, mesmo com “bandeira vermelha”, um gatilho no decreto estadual, permite que receba seus turistas dentro das restrições de carga que os protocolos exigem.
*José Justo é engenheiro, jornalista e diretor de Planejamento e Executivo da ABIH-RS