Preparem-se: vem aí o Vinho Novo em Odres Velhos

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Nunca deixará de existir aquele que diz: todo vinho que não vem numa garrafa de vidro, quanto mais pesada melhor e com uma rolha de cortiça, não é vinho.

por Werner Schumacher*


No entanto, algumas “inovações” vêm surgindo, mas uma espécie de Vinho novo em odres velhos.

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A “Screwcaps”, a tampa rosca para nós, começou a ganhar força na virada pra este século, mas não é nenhuma inovação para o mundo das bebidas, portanto, não se pode creditar ao vinho tal inovação.

O uso da lata, somente agora em crescimento no mundo do vinho, na verdade foi usada por 1ª vez em 1935, pela cerveja da Gottfried Krueger Brewing Company de Richmond Virginia, nos EUA, três anos antes do primeiro refrigerante, “Clicquot” Club Ginger Ale.

Não é de hoje também a apropriação indébita de nomes.

O surgimento do BAG-IN-BOX! Ou simplesmente BIB

Na década 60 se vendia ácidos para bateria em sacos plásticos “metalizados”, alojados em caixas de papelão e o australiano Tom Angove teve a ideia de fazer o mesmo com o vinho, inicialmente sua bolsa era selada com uma cavilha, mas em 1967 Charles Malpas e o grupo Penfolds Wines introduziram a torneira patenteada com a qual todos nós nos familiarizamos.

Austrália e Nova Zelândia adotaram a embalagem para metade dos seus vinhos nas décadas de 80 e 90 e na Austrália ajudou a triplicar consumo de vinho em três décadas, de 10 litros por cabeça para espetaculares 30.

Mas este crescimento teve também outra invenção australiana, pois na época foram inventados os ‘ESKY’ cooling boxes, as caixas de resfriamentos, que aqui denominamos de “coolers” construídas propositadamente que permitiram que os “barris”, como os australianos chamavam o BIB fossem levados para churrascos e praia, e pela prontidão de produtores como Yalumba e Brown Brothers em colocar bom vinho em barris de dois litros de design atraente.

Os britânicos batizaram o produto como Bag-In-Box, com embalagens de 3 litros de vinho de mesa, mas que não cabiam nas geladeiras médias dos europeus, mesmo assim o consumo de vinho cresceu 10%.

Nos Estados Unidos não foi muito diferente e duas marcas se destacaram a Black Box e Bota Box, esta uma alusão aos odres espanhóis.

Impressionante é aprovação do BIB na Escandinávia, onde as qualidades ambientais são muito valorizadas, que faz metade de todo o vinho ser consumido nesta forma na Súecia, Noruega e Finlândia.

Mais recentemente, o BIB, como é chamado na tradicionalíssima França, pulou de menos de 10% nas vendas em hipermercados em 2004 para 39,5% em 2017.

Ainda na terra do Asterix surgiram varejistas especializados em BIBs, como a cadeia BiBoViNo, já com 20 lojas na França, Suiça e Caribe.

Enquanto nos supermercados franceses um BIB é vendido por Eu 2,75 o litro, na BiBoViNo é vendido por Eu 10,00 um Bourgueil, ou “Chateau le Tap” orgânico.

A onda também está indo para BIBs de vinhos “Premium”.

O MW Justin Howard-Sneyd acaba de lançar um novo negócio chamado BIB WINE Co que está vendendo bons Pinot Noir alemães em elegantes caixas de 2.250ml, com um Fleurie em caixa no caminho.

BIB está tendo um crescimento particularmente forte em uma época em que as pessoas têm bebido mais em casa, beneficiado pela pandemia de Covid-19.

Durante março, por exemplo, enquanto a LCBO registrou vendas globais 35% mais altas do que em 2019, os vinhos boxeados subiram 77%.

LCBO (Liquor Control Board of Ontario)

LCBO (Liquor Control Board of Ontario) é uma empresa do governo de Ontário e um dos maiores compradores e varejistas de bebidas alcoólicas do mundo. Através de mais de 660 lojas de varejo, catálogos, comércio eletrônico, serviços de pedidos especiais, perto de 400 LCBO Convenience Outlets, que oferecem acesso econômico, conveniente e socialmente responsável aos consumidores rurais, e como atacadista a quase 450 mercearias, a LCBO oferece mais de 28.000 produtos anualmente, de mais de 80 países, aos consumidores e estabelecimentos licenciados.

Vantagens do BIB

Apresenta condições ideais de armazenamento, graças ao uso de vácuo e a bolsa plástica no interior da caixa fica no escuro, como se fosse num porão. Uma vez aberta a embalagem, as qualidades organolépticas permanecem inalteradas por 1 mês. Sem o risco do vinho ter gosto de rolha.

É fácil de manusear, guardar e transportar, pois as medidas para a embalagem de 3 litros são 17x10x21 cm, pesando 3,2 kg e substituem 4 garrafas normais de 750 ml.

Também simplifica sem a necessidade de saca-rolhas, assim como, pode ser levada na quantidade necessária e não se corre o risco de desperdício.

O melhor do BIB é o preço, normalmente uns 30% mais em conta que em garrafa, em função da redução dos custos de engarrafamento: 4 garrafas, 4 rolhas, 4 rótulos, 4 cápsulas, etc. a menos.

É ainda uma solução mais verde, pois reduz os custos de transporte reduzidos. Menos embalagem para a mesma quantidade de produto. Materiais que impactam menos o meio ambiente e são mais fáceis de reciclar do que o vidro.

No Brasil, infelizmente o consumo de BIB não deslanchou, há inclusive uma boa variedade de produtos, mas ninguém comenta, ninguém diz que bebe vinho BIB. Até chegamos a ter um “Assemblage” e um “Reserva”, como podem ver somos criativos, entendemos o BIB “Premium” muito antes, mas o que tem de persistente um viticultor, um vinicultor parece não ter nada.

Sinceramente, na minha modesta opinião, os BIBs aqui são muito caros. Difícil encontrar na venda ao consumidor uma embalagem de 5 litros por menos R$ 15 a 20,00 o litro.

Outro problema que vejo em alguns BIBs é o conteúdo em sulfitos, as vezes elevado, mas requerido um teor um pouco maior em função da embalagem.

Uma terceira questão, talvez relacionada a segunda, seria o fato dos BIBs importados que já vi, acomodarem bolsas plásticas laminadas e metalizadas, que acredito deve influir na conservação do produto, proporcionando maior durabilidade e, provavelmente, menor dosagem de sulfito.

Em 2014 se comercializou 1,07 milhões de litros de vinho de mesa em BIB, mas caiu para 612 milhões em 2019. Já os vinhos finos caíram de 783 mil litros em 2016 para 563 mil em 2019, como podem ver números ridículos, quando a comercialização gira em torno de 200 milhões de litros por ano.

Cabe a pergunta: se a média comercializada é esta? Como passamos a consumir quase 3 litros por cabeça?

Por fim, creio que os números acima mostram as vantagens do uso da embalagem BIB, cabe agora as vinícolas brasileiras entenderem onde estão ERRANDO, pois não creio que o consumidor brasileiro seja um ENOCHATO, como o descrito no início deste texto.


*Werner Schumacher estudou Economia na PUC/RS e é um dos responsáveis pela profissionalização da vitivinicultura no Brasil.


 

 

 

 

 

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