O turismo pet friendly é um nicho em crescimento, mas ainda carece de capacitação e profissionalização do setor.
O turismo pet friendly está em plena ascensão no Brasil, impulsionado pelo crescente número de famílias que consideram seus animais de estimação como membros da família. Segundo dados do IBGE, há mais de 68 milhões de cachorros no Brasil, superando o número de crianças nos lares brasileiros. Além disso, 80% dos tutores consideram seus pets como parte integral da família. Esse cenário reflete um mercado com um potencial gigantesco: no Booking.com, por exemplo, 46% das buscas no Brasil utilizam o filtro “aceita pet”, o que revela a demanda crescente por serviços que acolham esses companheiros de quatro patas. Diante disso, o turismo pet friendly surge como uma oportunidade significativa, mas que também traz desafios, principalmente em relação à capacitação dos profissionais que atuam no setor.
A Falta de Capacitação no Turismo Pet Friendly
Embora o Brasil tenha um mercado pet robusto, movimentando cerca de R$ 60 bilhões anualmente, o turismo pet friendly ainda carece de uma abordagem mais profissional e estruturada. O que vemos atualmente é um mercado emergente, onde a falta de capacitação compromete a qualidade do serviço, resultando em experiências frustrantes para os tutores e seus pets. Isso ocorre, em grande parte, pela ausência de uma formação específica para profissionais que desejam atuar com pets.
Quando falamos de turismo, pensamos em diferentes públicos: crianças, idosos, casais, LGBTQIA+, e cada um desses grupos tem suas necessidades e desejos específicos. O mesmo vale para as famílias multiespécies, onde os pets são verdadeiros membros da família. Para que uma experiência de turismo pet friendly seja bem-sucedida, é necessário que os profissionais entendam essa dinâmica e estejam preparados para atender tanto os tutores quanto os pets, garantindo que todos tenham uma experiência agradável e segura.
Veja também as mais lidas do DT
Os guias de turismo, por exemplo, desempenham um papel crucial no atendimento às famílias com pets. Eles precisam conhecer as regras ambientais e de segurança da região, estar atentos ao comportamento animal, e saber reconhecer sinais de estresse, hipertermia e desconforto nos pets. Agir de forma preventiva para evitar conflitos é essencial. Em casos de emergência, o guia deve estar capacitado para agir rapidamente, sabendo como pegar ou carregar o pet corretamente, além de oferecer primeiros socorros quando necessário. Essas habilidades não são apenas um diferencial, mas uma necessidade básica para garantir a segurança e o bem-estar dos pets e seus tutores.
Saber que o passeio adequado a um border collie é diferente do passeio ideal para um pug, assim como receber um cachorro em um hotel é diferente de receber um gato, é um exemplo da complexidade do universo pet friendly.
A Hotelaria e a Necessidade de Preparo para o Turismo Pet Friendly
Na hotelaria, a falta de preparo também pode gerar situações problemáticas. Receber hóspedes com pets vai muito além de permitir a presença de animais. Os profissionais precisam estar preparados para oferecer um atendimento de qualidade. Isso inclui desde a oferta de comodidades específicas, planejamento do espaço e da jornada do cliente, até a orientação sobre as regras de convivência e o manejo de conflitos. Infelizmente, muitos profissionais ainda desconhecem a diferença entre um cão-guia e um pet, o que é preocupante.
A falta de capacitação no setor abre espaço para problemas maiores. Quando um empreendimento se declara pet friendly sem estar verdadeiramente preparado para lidar com as necessidades desse público, a experiência pode ser decepcionante para todos. Tutores frustrados, pets estressados e uma equipe despreparada são uma receita para o fracasso. Isso pode levar os estabelecimentos a desistirem de ser pet friendly, resultando em uma perda significativa para o mercado e para os tutores.
Por outro lado, a carência de profissionais qualificados tem permitido que pessoas sem a formação e experiência necessária se tornem “referências” no turismo pet friendly, muitas vezes baseadas apenas em experiências pessoais. É comum ver influenciadores e grupos informais ganhando espaço em um mercado que deveria ser ocupado por guias de turismo credenciados e capacitados. Isso reflete uma falta de seriedade na abordagem do turismo pet friendly, que ainda é visto por muitos como um nicho secundário, quando na verdade possui um potencial gigantesco.
O Futuro do Turismo Pet Friendly no Brasil
Um estudo realizado pelo Sebrae em 2022 mostrou que o mercado pet no Brasil tem crescido a uma taxa de 13,5% ao ano, e o turismo pet friendly tem seguido essa tendência. No entanto, para que esse crescimento seja sustentável, é necessário investir na profissionalização do setor. O turismo pet friendly não deve ser tratado como uma moda passageira, mas como uma realidade que veio para ficar. E, para isso, precisamos de profissionais qualificados, capazes de oferecer experiências adequadas para as famílias multiespécies.
Investir em capacitação é a chave para o sucesso desse mercado. Os profissionais precisam estar preparados para lidar com as especificidades do turismo pet friendly, desde o entendimento das dinâmicas familiares até o conhecimento sobre bem-estar animal. Isso inclui não apenas guias de turismo e funcionários de hotelaria, mas todo o trade de turismo, que precisa estar alinhado com as necessidades desse público.
É hora de levar o turismo pet friendly a sério, reconhecendo seu potencial e investindo na formação de profissionais qualificados. Só assim poderemos garantir que esse mercado continue a crescer, proporcionando benefícios não apenas para os tutores e seus pets, mas para toda a cadeia do turismo, incluindo empresários, comunidades e o meio ambiente.