Podemos afirmar que o progresso e o desenvolvimento caminham juntos, no entanto, o progresso pode trazer consigo modificações para pior, sejam essas sociais, ambientais e econômicas, enquanto que no desenvolvimento está intrínseco modificações para melhor.
por Werner Schumacher*
Como diz Mario Quintana, o nosso grande poeta: “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”.
Já Oscar Wilde nos diz: “A insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de uma nação”.
Niestzche vai mais longe: “A sensualidade ultrapassa muitas vezes o crescimento do amor, de forma que a raiz permanece fraca e arranca-se facilmente”.
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Freud avança no sentido do desenvolvimento: “A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana”.
E John Dewey arremata o que é desenvolvimento: “A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”.
Esse preâmbulo serve para refletirmos se a região demarcada do Vale dos Vinhedos está progredindo, ou crescendo e se desenvolvendo?
É de fato uma Denominação de Origem Protegida?
O Vale dos Vinhedos, enquanto distrito de Bento Gonçalves, surgiu quando da emancipação de Monte Belo em 1992 e poucos anos depois alguns moradores do distrito começaram a conversar sobre a criação de uma associação para buscar uma indicação de procedência e desenvolver o enoturismo.
Há época, sequer havia o asfalto da estrada que leva a Monte Belo do Sul e a Santa Tereza. As escolas eram pequenas e instaladas em cada comunidade, com a presença de professores monodocentes, isto é, lecionavam para crianças em uma mesma sala o ensino básico, da 1ª a 5ª série.
Sequer havia um hotel ou pousadas, menos ainda um restaurante. A Casa Valduga promovia almoços e jantares para grupos. O tempo foi passando e o Vale dos Vinhedos foi se desenvolvendo.
Logo chegou o asfalto e, principalmente, foi construída a escola Loris Reali para o distrito, onde cada turma tinha a sua sala de aula e sua professora.
Pousadas surgiram, hotéis se instalaram aqui, igualmente restaurantes e outros atrativos tornando o Vale dos Vinhedos uma grande atração enoturística.
Esse Vale, o da região demarcada, cresceu territorialmente, pois incluiu a sua área parte dos municípios de Garibaldi e Monte Belo do Sul, por pertencerem a uma mesma região geográfica, não só política.
Consideração
Essa região demarcada, como consequência de iniciativas individuais ou grupos econômicos, não levou em consideração o distrito do Vale dos Vinhedos e de seus moradores, seus legítimos e verdadeiros criadores.
Pouco a pouco essa gente vem sendo excluída do vale, pois se rendem ao cantar das sereias da especulação imobiliária.
Novos e grandes empreendimentos despontam no horizonte deste vale, comprometendo sua belíssima paisagem e pondo em risco o que é a galinha dos ovos de ouro para nós e muitos dos turistas que nos visita, a mãe natureza.
Não se diz aqui, que os investimentos não são válidos, o relatado é o fato de um total descompromisso com a gente do distrito do Vale dos Vinhedos, de Bento Gonçalves.
É comum ver hoje em dia projetos sendo realizados e uma contrapartida contemplando o entorno da área que receberá o investimento. Exemplo pode ser a Arena do Grêmio que deveria implantar melhorias no seu entorno, melhorias de fato, não dar tintas para pintarem as casas em tom tricolor.
Povo do Vale
O pensamento cartesiano, pautado exclusivamente pela razão do lucro é um caminho, mas não o único. Todo prefeito deseja atrair uma grande indústria ou um grande empreendimento para o seu município, mas é o único caminho?
Para a grande maioria das pessoas é o único caminho!
Perguntas
Hoje a população rural representa muito pouco do ponto de vista político. Quiçá 10% dos eleitores são rurais ou colonos, como queiram e 90% da população é urbana, justo a que elege os políticos.
Qual a população do Vale dos Vinhedos distrito? A faixa etária dessa população? Cada vez mais envelhecida!
Qual a arrecadação que essa comunidade confere aos cofres públicos? Como ter um maior retorno?
Como reverter o êxodo rural? Como fixar esta gente na sua origem, no seu território?
Qual o nível educacional dessas pessoas? Como se pode contribuir nesse sentido? Como torna-los mais capacitados profissionalmente? Não poderiam ser mão de obra qualificável para trabalhar nesses empreendimentos?
Se a paisagem é um patrimônio? O que é possível fazer pra preservá-la?
Conheces algum produtor rural que entrega uva para uma vinícola do Vale dos Vinhedos? Se sim, conte pra nós, pois tudo indica não há nenhum.
As comunidades sempre foram o local de reunião das comunidades, de ajuda mútua, da realização de festas, mas perde a importância, pois não são consultadas para nada.
No ano de 2021, entre mais de 30 anos que vivo no Vale dos Vinhedos, Diogo Siqueira o atual Prefeito de Bento Gonçalves realizou, no início de seu mandato uma reunião com a comunidade aqui de Santa Lúcia, para ouvir de seus moradores o que gostariam que ele fizesse para melhorar a comunidade. Não fizemos um balanço ainda das reivindicações, mas foi uma iniciativa elogiável do prefeito.
Enfim, o que é possível fazer por essa gente?
Não se trata de COITADISMO, é gente muito valorosa e trabalhadora, não é a toa a bela paisagem e autenticidade desta terra, no mínimo merecem todo o respeito e deveriam fazer parte deste desenvolvimento, caso contrário teremos apenas progresso.
Com o avanço das terras de uns em detrimento das terras de tantos!
*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.