No cenário básico dos analistas, a economia não recuperará no próximo ano a queda prevista para 2020, os juros não subirão tanto e o cenário para as contas públicas continuará suscetível a intempéries e sem aprovação de reformas estruturantes, combinação que deixa o real apenas com o vento favorável do exterior.
“O real deve voltar à casa de 5 (por dólar), 5,05”, disse Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia da gestão macro da gestora AZ Quest. “A imagem do Brasil ainda está afetada, não só pela questão fiscal, mas também pelas políticas ambientais. Isso é um fator para o estrangeiro”, completou.
O real cai 22,4% ante o dólar, em termos nominais, neste ano. É o segundo pior desempenho numa lista de 33 rivais do dólar, melhor apenas que o peso argentino, que despenca 28%. O dólar estava em 5,1922 reais nesta terça-feira.
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Pelas estimativas do Bank of America, o real apreciará 1,4% em 2021, enquanto as principais moedas emergentes da Ásia –que já foram menos golpeadas em 2020 que os pares– vão subir em média 3%.
O rublo russo ganhará quase 9% (após perder 16% neste ano), o rand sul-africano ficará praticamente estável (depois de queda 5% em 2020) e o peso mexicano cairá quase 10%, após recuar 5% neste ano.
A perspectiva de que a moeda brasileira continuará sem muita força em 2021 ocorre mesmo considerando que ela estaria barata, segundo modelos de taxa de câmbio “justa”, que levam em conta dados macroeconômicos como termos de troca, diferencial de juros, diferencial de crescimento econômico, preços das commodities, entre outros.
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) calcula que o desalinhamento negativo do real é o maior entre as principais divisas emergentes. O IIF vê taxa “justa” de 4,50 por dólar e, pelas cotações atuais, o real está 13% abaixo desse patamar.