Turismo Religioso: boas práticas podem ajudar o destino a não ficar para trás

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por Amadeu Castanho*

Muitos destinos de Turismo Religioso acreditam que para ter sucesso basta ter atrações que atraiam visitantes. Alguns vão além e tratam de ter sanitários, áreas de estacionamento, sinalização, segurança e estrutura de hospedagem e alimentação. Uma minoria chega mais longe e prepara materiais informativos e promocionais, participa de feiras e eventos e até investe em publicidade.


 
No entanto, o mercado é muito dinâmico e o que atrai os visitantes hoje muito provavelmente deve atrair menos amanhã, até porque a população envelhece, novos destinos e atrações aparecem sem cessar, e atualmente atenção e tempo são cada vez mais limitados e concorridos.
 
Vamos fazer um rápido exercício? Que tal listar os destinos nacionais ou internacionais mais procurados há dez anos atrás e compará-los com os que estão no topo da lista atualmente? Tomando como exemplo só alguns destinos internacionais, quantos brasileiros visitavam a Turquia, as Ilhas Maurício, Bali ou San Andrés em 2009 e quantos visitam hoje?
 
Esses são exemplos de destinos de turismo de lazer e não de turismo religioso ou espiritual, mas pode ter certeza de que as mesmas regras se aplicam. Talvez alguém possa argumentar que Aparecida era o destino de turismo religioso mais visitado no Brasil há vinte anos, continuou sendo há dez anos e continua sendo até hoje.

Notáveis Melhorias

Não há como discordar desse argumento, mas, ao mesmo tempo, vale a pena lembrar de que o Santuário Nacional de Aparecida é bem diferente hoje em relação ao que era há vinte anos atrás. Nesse período, ele recebeu notáveis melhorias de estrutura e um grande número de novas atrações.
 
Se antes Aparecida e o Santuário Nacional, sua maior atração, eram exemplos típicos de destinos “bate e volta”, hoje existem atividades e atrações de sobra para ajudar a manter os visitantes por mais tempo na cidade.

Em média a cada dois anos é inaugurada uma nova atração ou feita uma melhoria em Aparecida (Crédito Amadeu Castanho)

É o caso da Cidade do Romeiro, dos Bondinhos de Aparecida, dos observatórios na Torre Brasília e no Morro do Cruzeiro, do Trem do Devoto, do Caminho do Rosário, do Memorial da Devoção e de melhorias como a visita à Cúpula do Santuário, o novo Campanário e a restauração da Matriz Basílica.
 
Com certeza quase a totalidade dos visitantes de Aparecida deve ignorar isso, mas em média a cada dois anos é inaugurada uma nova atração ou feita uma melhoria significativa. A comparação é abusiva, mas é mais ou menos o que a Disney, a Universal e o Sea World fazem em Orlando, criando motivos para que quem já visitou uma vez queira fazer uma nova visita.

Outros destaques

Mas os exemplos de estruturação e melhorias no produto turístico não se limitam a Aparecida: em Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, depois de instalar no alto de um morro uma impressionante estátua de Santa Rita de Cássia com 42 metros, que com o resplendor e o pedestal somam 56 metros de altura, o governo local deve inaugurar em breve um teleférico ligando a estátua a uma estação ao lado da Igreja Matriz da cidade.
 
Em Salvador, a Pastoral do Turismo da Arquidiocese, em parceria com operadores receptivos e o governo local, criou diversos roteiros de turismo religioso, qualificou guias, ajudou a criar materiais informativos e de divulgação, e ajudou a qualificar as históricas igrejas da cidade para receber adequadamente os visitantes.
 
Com o mesmo fim foram feitas diversas melhorias no Memorial Irmã Dulce, no santuário e na infraestrutura da região para acomodar o aumento de fluxo de visitantes gerado pela canonização de Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres.

Peças e relíquias deixadas por Irmã Dulce (Crédito: DT)

No Exterior, Fátima e Lourdes são exemplos de destinos com ações que deveriam ser estudadas e copiadas por destinos de lazer e de turismo religioso. No caso de Fátima, a ACISO – Associação Empresarial Ourém – Fátima promove anualmente no início de março os Workshops Internacionais de Turismo Religioso, respeitado evento que reúne cerca de 150 buyers de todo o mundo representando operadoras e grandes agências em mercados interessantes para o destino, outros 150 fornecedores e cerca de 40 expositores, além de especialistas em turismo religioso, jornalistas, formadores de opinião e autoridades.

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Santuário de Fátima

Com uma programação que combina conteúdo técnico, uma ativa bolsa de contatos e eventos sociais, o evento chega este ano à sua oitava edição e ajuda a de forma objetiva a gerar negócios para o destino, para os meios de hospedagem e para os fornecedores locais e regionais e, obviamente, a atrair mais visitantes para o Santuário de Fátima.
 
Os compradores convidados têm todas as suas despesas de transporte, hospedagem e alimentação cobertas pelo evento, além de poderem participar depois de visitas de familiarização a Fátima e sua região, bem como às diversas regiões turísticas de Portugal, numa bem sucedida parceria a Turismo de Portugal e as entidades de turismo regional. No final dessa programação, ainda podem aproveitar para visitar a BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa por conta da feira.

Santuário de Fátima, em Porttugal (Crédito: Viagens de Fé)

Enquanto em Fátima o Santuário cede instalações e é um dos muitos apoiadores do evento, em Lourdes é o próprio Santuário que realiza anualmente o evento Dias de Fevereiro de Lourdes, que reúne os 700 diretores de peregrinação e presidentes de hospitalidades.
 
Se o exemplo anterior reforça a geração de negócios e a atração de novos peregrinos, o evento francês tem um foco mais voltado para ajudar as peregrinações a terem um conteúdo espiritual afinado com o tema pastoral escolhido pelo Santuário em 2020: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
 
No período de 8 a 10 de fevereiro, os participantes terão oportunidade de explorar o novo tema pastoral através de palestras e diálogos, assim como de conhecer melhor a equipe do Santuário e parceiros em “stands de orientação”, aproveitando para abordar todos os aspectos logísticos referentes às suas peregrinações, como transporte, acomodação, planejamento de programas, voluntariado, acolhimento de doentes, etc.
Quem sabe esses exemplos possam servir de referência para alguns dos nossos destinos, tanto religiosos quanto de lazer.


AMADEU CASTANHO – TURISMO RELIGIOSO
Amadeu é jornalista, trabalhou em publicações de renome no Brasil e no Exterior e se especializou na cobertura de nichos do mercado de turismo, como o religioso, o de luxo, o de incentivo e o corporativo. Edita revista eletrônica Viagens de Fé (www.viagensdefe.com.br), única publicação brasileira focada em viagens religiosas, destinos religiosos, romarias e peregrinações. Amadeu é diretor da Keris Comunicação Editorial, especializada em publicações eletrônicas segmentadas e geração de conteúdo. Tem cursos de especialização em Hotelaria, Marketing e Publicidade, entre outros, tendo atuado como profissional e como consultor nessas três áreas. É palestrante em sua especialidade, turismo religioso.

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