O turismo passou completamente despercebido nos debates das eleições presidencial e do Governo do Estado do Rio. Tive a ligeira impressão que não fazia parte das prioridades e não merecia assim ser alvo de discussão e de questionamento. Tal fato mostra que ainda não há nem sequer um entendimento da importância econômica do setor, por parte daqueles que nos governam. Embora a criação de um Ministério e de uma Secretaria de Estado sejam pontos importantes, o setor foi gerenciado por políticos, que vislumbravam a reeleição, nos últimos anos, excetuando nos últimos meses.
O Brasil vive de grandes planos nacionais de turismo, que gastam dinheiro público e tempo mas que pouco colaboram com o aumento de turistas estrangeiros, por exemplo que não passa de 6 milhões e que não representa nem 1% de todos aqueles que viajam. Falta investimento e menos discurso e fóruns de participação coletiva. Minha grande vontade é que 2015 nasça com um Turismo fortalecido, embora esteja perdendo um pouco as esperanças.Vejo que o setor público é muito bom para contratar shows e fazer obras em estádios mas muito deficiente para obras vitais necessárias.
"Cursos de idiomas que duram uma semana e que depois engrossam relatórios de prestação de contas não atingem nenhum objetivo palpável" |
Um dos primeiros pontos que merece uma análise mais profunda são as políticas de estruturação de produtos turísticos, que devem se basear em capacitação, infraestrutura, segurança e promoção. Cursos de idiomas que duram uma semana e que depois engrossam relatórios de prestação de contas não atingem nenhum objetivo palpável. Capacitar significa adequar mão de obra a prestação de serviço globalizada,buscando padrões de competitividade. É o serviço, um dos grandes diferenciais da sobrevivência dos prestadores de serviço. Não seria o caso do governo incentivar a conscientização turística nas escolas, programas de atendimento ao consumidor final e preparação das forças de segurança para o turismo? Um grande programa de capacitação demanda escolas técnicas preparadas com corpo docente oriundo do mercado laboral e verdadeiros laboratórios dentro das instituições. Não podemos formar no cuspe e giz, como tem ocorrido nos últimos programas. Fora as faculdades de Turismo que passam por uma situação de penúria, com cada vez menos alunos e menos interesse, e com salários em algumas áreas não atrativos. Não seria o momento de criar um conselho nacional de capacitação turística para centralizar atividades desenvolvidas em tantas áreas governamentais, que perdemos o controle?.
A promoção também não conseguiu aumentar o número de turistas e o discurso chapa branca que hoje temos turista de melhor qualidade não é a resposta que vem dos operadores de receptivo. O marketing tem que trabalhar o mercado nacional com mais ênfase e priorizar mercados prioritários, utilizando também nossos Consulados e Embaixadas, no exterior, para informação e realização de workshops e participação em eventos. Não seria o caso de incluir na formação dos diplomatas uma matéria voltada ao turismo e ao marketing turístico? Seria uma formação complementar, que muito ajudaria a imagem do Brasil, pela alta qualidade e competência de nossos diplomatas.
Um fator decisivo para o sucesso turístico do Brasil é a sinalização turística através de um grande programa do governo federal. Não seria o caso de priorizar tal atividade, levando em consideração que quase 65% dos turistas que nos visitam, chegam aqui por conta própria? Poderiam iniciar com um case de sucesso tematizado num Estado brasileiro, como por exemplo a região do Vale do Café, no Rio de Janeiro e partir para um programa nacional.
"Não seria o caso de incluir na formação dos diplomatas uma matéria voltada ao turismo e ao marketing turístico?" |
Acho que precisamos de um 2015 com vontade política, com pequenas providências, não pensando apenas em obras faraônicas de estádios sem serventia após a Copa ou aeroportos de primeira linha em cidades sem fluxo real de passageiros. Sonho com um Brasil turístico, de forma que tenhamos orgulho de nossa alegria, que tanto encanta o mundo mas que carece de uma gestão racional e prioritária em nossas políticas públicas.
* Bayard Do Coutto Boiteux é professor do curso e MBA em Turismo da UCAM, preside o Site Consultoria em Turismo e gerencia o setor de Turismo do Preservale.