Uma Volta ao Mundo da Patagônia no Via Australis – II

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Texto: Paulo Atzingen – Fotos: Wanderley Mattos Jr. 

Baia de Wulaia  (terça-feira, 7 de abril) – Desembarcamos em uma das ilhas da Baia de Wulaia na manhã do segundo dia.  Os zodíacs – lanchas com casco inflável – levaram os cerca de 70 passageiros divididos em grupos de oito a dez.  A tripulação tem o cuidado de separá-los de acordo com sua nacionalidade para não criar sobre os botes uma babel flutuante. O céu e as estrelas da noite anterior já haviam dado o recado, mas como na Patagônia o tempo é imprevisível, só na manhã deste segundo dia a mensagem chegava com mais clareza: o dia estava radiante, ótimo para caminhadas e fotografias.

A expedição em terra foi dividida em duas modalidades: passeio leve que consistia em caminhar em torno de algumas centenas de metros às margens da ilha, e o passeio meio-pesado – o mais emocionante – que é subir a montanha até um mirante com cerca de 300 metros de altura e a cerca de dois quilômetros de distância. Escolhemos o segundo.

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A expedição em terra foi dividida em duas modalidades: passeio leve e o passeio meio-pesado – o mais emocionante
A expedição em terra foi dividida em duas modalidades: passeio leve e o passeio meio-pesado – o mais emocionante

Na caminhada, a guia Mônica Rivera nos dá uma aula de botânica e explica os tipos de flora desta floresta subantártica. Espécies de Nirre (Nothofagus antarctica), de lenga (Nothofagus pumilio) de Calafate (Berberis microphilla) ou o pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) são os mais comuns por aqui. “O pão de índio era um dos principais alimentos dos yamanas, os primeiros habitantes desta região; a lenga e a nirre são utilizadas para inúmeras coisas, como por exemplo, para construção civil”, explica a guia.

Pérola de chumbo sobre o espelho

Os clicks das máquinas fotográficas se multiplicavam à medida que íamos subindo a montanha. A imagem do navio Via Australis flutuando sobre aquele espelho d´água é impactante. Natureza e homem se encontrando para um relacionamento de algumas horas. O contorno e as cores do barco passam a fazer parte de uma paisagem  idílica, paradisíaca, apenas por algum tempo. Aves, ao longe, se agitam e contornam o navio como a fazer festa.

Ao atingirmos o ponto alto da montanha a paisagem se abriu ainda mais. Um conjunto de montanhas salpicadas de gelo e neve combinadas com um verde escuro e um azul marinho profundo
Ao atingirmos o ponto alto da montanha a paisagem se abriu ainda mais. Um conjunto de montanhas salpicadas de gelo e neve combinadas com um verde escuro e um azul marinho profundo

Ao atingirmos o ponto alto da montanha a paisagem se abriu ainda mais. Um conjunto de montanhas salpicadas de gelo e neve combinadas com um verde escuro e um azul marinho profundo contornando as ilhas e, no meio deste azul, – o Via Australis –  uma pérola de chumbo e tinta planando sobre o espelho.

Línguas se calam

A luminosidade do dia e o horário – não passava de 10 da manhã – criaram um ambiente excepcional para os olhos. Os guias de expedição fazem um pedido em meio ao alvoroço que a paisagem causara: “Por favor, vamos fazer um minuto de silêncio?” “Please , let’s take a moment of silence… “

Todos se calam e passam, apenas, a contemplar a paisagem. O olhar não consegue captar tudo e percorre da direita para a esquerda, do alto para baixo, do céu para a terra, cerca de 180º de pura beleza. E silêncio.

“Por favor, vamos fazer um minuto de silêncio?” "Please , let's take a moment of silence "
“Por favor, vamos fazer um minuto de silêncio?” “Please , let’s take a moment of silence “

Baia de Wulaia – paradisíaca

Intocada, preservada, sem a presença do homem, a Baia de Wulaia está aqui há milênios, há centenas de séculos. Nada afeta o balanço do ar, a intensidade das cores, a fluidez das águas, a penetração dos raios de sol sobre as superfícies. Tudo está aqui, irretocável e o silêncio faz seu império. A baia de Wulaia mostra-se inteira para olhos que talvez sejam ou estejam limitados de tanta cor e contrastes e intensidade. E ainda assim, ela permanecerá com esta beleza; e acima, abaixo e adentro de toda interpretação continuará sendo bela, magnífica em dias limpos como este e continuará sendo inóspita, violenta e sombria em dias de tempestade. Deve haver uma forma de compensação para tanto equilíbrio, mas isso é apenas um pensamento. O que importa é que esta beleza permanecerá na retina de muitos que estão agora, aqui, olhando-a.

A baia de Wulaia mostra-se toda para olhos que talvez sejam ou estejam limitados de tanta cor e contrastes e intensidade
A baia de Wulaia mostra-se inteira para olhos que talvez sejam ou estejam limitados de tanta cor e contrastes e intensidade

O barco partirá e ela ficará ali, com seus bosques, com seu mar, com suas ilhas e prainhas particulares, com suas neves sobre os picos e o seu tempo incompreensível.

O museu do homem patagônico

Na volta, entramos na casa do Instituto de História e Ciências do Chile, um instituto que se dedica especialmente ao habitat e ao homem patagônico. A casa é um marco que simboliza a passagem de Charles Darwin neste lugar durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle, em 23 de janeiro de 1833. Com muitas informações, o que se destaca é uma canoa utilizada pelos nativos Yámanas.

A casa é um marco que simboliza a passagem de Charles Darwin neste lugar durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle,
A casa é um marco que simboliza a passagem de Charles Darwin neste lugar durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle,

Rumo ao Cabo Horn

Ao meio dia desta terça-feira estávamos no centro da Baia de Nassau, uma grande vastidão de mar que separa todos os blocos maiores de terra do continente americano (a grande Ilha Navarino), das últimas ilhas, mais ao sul (as ilhas Wollaston).  Por volta das 14 horas, durante o almoço, somos surpreendidos pelo navio Stella Australis, que retornava do Cabo Horn.  O navio, que integra a frota da Cruceros Australis, é bem maior que o Via Australis e pode acomodar até 210 passageiros.

Por volta das 14 horas, durante o almoço, somos surpreendidos pelo navio Stella Australis, que retornava do Cabo Horn
Por volta das 14 horas, durante o almoço, somos surpreendidos pelo navio Stella Australis, que retornava do Cabo Horn

A previsão de chegada ao Cabo Horn é por volta das 16 horas. Navegávamos agora pelo canal Franklin. O tempo é excelente nestes mares do sul.

* O jornalista Paulo Atzingen viajou à Patagônia convidado pela Cruceros Australis

LEIA MAIS: Uma volta ao mundo da Patagônia – I

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A baia de Wulaia mostra-se toda para olhos que talvez sejam ou estejam limitados de tanta cor e contrastes e intensidade
A baia de Wulaia mostra-se toda para olhos que talvez sejam ou estejam limitados de tanta cor e contrastes e intensidade
Os grupos foram divididos dependendo da disposição. Caminhada leve, à margem da ilha e caminhada média-pesada, montanha acima
Os grupos foram divididos dependendo da disposição. Caminhada leve, à margem da ilha e caminhada média-pesada, montanha acima
Nada afeta o balanço do ar, a intensidade das cores, a fluidez das águas, a penetração dos raios de sol sobre as superfícies.
Nada afeta o balanço do ar, a intensidade das cores, a fluidez das águas, a penetração dos raios de sol sobre as superfícies.

 

Os guias de expedição fazem um pedido em meio ao alvoroço que a paisagem causara: “Por favor, vamos fazer um minuto de silêncio?” "Please , let's take a moment of silence "
Os guias de expedição fazem um pedido em meio ao alvoroço que a paisagem causara: “Por favor, vamos fazer um minuto de silêncio?” “Please , let’s take a moment of silence “
Ao atingirmos o ponto alto da montanha a paisagem se abriu ainda mais. Um conjunto de montanhas salpicadas de gelo e neve combinadas com um verde escuro e um azul marinho profundo
Ao atingirmos o ponto alto da montanha a paisagem se abriu ainda mais. Um conjunto de montanhas salpicadas de gelo e neve combinadas com um verde escuro e um azul marinho profundo
O  pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) era o alimento principal dos Yamanas
O pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) era o alimento principal dos Yamanas
Na caminhada, a guia Mônica Rivera nos dá uma aula de botânica e explica os tipos de flora desta floresta subantártica
Na caminhada, a guia Mônica Rivera nos dá uma aula de botânica e explica os tipos de flora desta floresta subantártica
A casa é um marco que simboliza a passagem de Charles Darwin neste lugar durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle, em 23 de janeiro de 1833
A casa é um marco que simboliza a passagem de Charles Darwin neste lugar durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle, em 23 de janeiro de 1833
Espécies de Nirre (Nothofagus antarctica), de lenga (Nothofagus pumilio) de Calafate (Berberis microphilla) ou o pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) são os mais comuns por aqui.
Espécies de Nirre (Nothofagus antarctica), de lenga (Nothofagus pumilio) de Calafate (Berberis microphilla) ou o pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) são os mais comuns por aqui.
Espécies de Nirre (Nothofagus antarctica), de lenga (Nothofagus pumilio) de Calafate (Berberis microphilla) ou o pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) são os mais comuns por aqui.
Espécies de Nirre (Nothofagus antarctica), de lenga (Nothofagus pumilio) de Calafate (Berberis microphilla) ou o pão de índio (Dihueñe del Corhue comestible) são os mais comuns por aqui.
O retorno ao navio Via Australis é feito nos botes zodiacs
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