Podemos dizer que as estradas principais do Vale dos Vinhedos formam um Y (ípsilon), ou uma tulipa de espumante, ambas pavimentadas e constituem os principais acessos a região e seus atrativos.
Por Werner Schumacher – fevereiro de 2022
Nem sempre foi assim, muito pó se comeu e muitos turistas desistiam de visitar as poucas vinícolas há época existentes, e repetidamente se ouvia: não coloco meu carro em estrada de chão (a moda do SUV estava distante).
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Onde se vê no mapa abaixo “você está aqui” é o acesso pela RS-444, estrada intermunicipal que leva aos municípios de Monte Belo do Sul e Santa Tereza. Quando da fundação da Aprovale em 1995 esta estrada não tinha pavimentação, como a tem hoje.
Este acesso é conhecido como Linha Graciema e foi o asfaltado em parte até onde hoje se localiza a Cave do Sol e ainda dá acesso à concentradora de sucos Tecnovin, ligando assim esta linha a Linha Leopoldina, que dá acesso ao Vale logo acima da pipa pórtico de Bento Gonçalves, ou antes, pra quem vem de Veranópolis.
O acesso pela Linha Leopoldina é asfaltado até onde hoje está a vinícola Peculiare e depois segue com paralelepípedos até a Tecnovin, desta até a RS-444 é asfalto. Há ramificações nesses dois caminhos.
Questões
Dito isto, cabe perguntar: tais caminhos suportarão o fluxo de carros em 2025?
Pouco se pode fazer no acesso pela Linha Leopoldina, pois a linha está quase que toda urbanizada, de lado a lado da estrada. Há a possibilidade de se fazer um acesso a partir da RS-444, próximo às vinícolas Torcello e Vallontano, costeando o riacho até a vinícola Peculiare, mas tal acesso pouco ajudará no fluxo de veículos.
Já a RS-444 sequer tem acostamento até o município de Monte Belo do Sul e se trata de uma estrada que é muito utilizada por ciclistas. Essa estrada foi abraçada pelo município de Bento Gonçalves com a promessa de uma ciclovia, oxalá aconteça.
Nesta época do ano o trânsito de caminhões é intenso transportando a colheita da uva. Quando se pega um a frente, não tenha pressa, poucas são as possibilidades de ultrapassagem, além de ser uma estrada cuja velocidade máxima é 60 km/hora.
Some a isto os finais de semana: lembre que não é possível sambar quando se trabalha com uva – uva colhida ou uva podre – cabe pensar o que será este carnaval.
Um médico sofreu grave acidente de bicicleta no ano passado. Por sorte, um que outro caminha ou corre pela estrada. O problema de segurança viária é realmente grande. Menos mal que as vinícolas cobram as degustações, isto ajuda a evitar bebedeiras.
Poucas são as vinícolas que podem receber um ônibus de turismo e é bem provável que este tipo de turismo aumente substancialmente, fala-se em hotéis com 400 apartamentos, portanto, poderão ser forçados a receber grupos a fim de cobrir custos, simples assim.
Não creio que os varejos e salas de degustação das vinícolas terão capacidade para um fluxo muito maior de turistas.
Devemos lembrar ainda que o Vale dos Vinhedos não tem saneamento básico, o tratamento é local através de fossas, sumidouros, etc., com certeza será um problema futuro. A coleta de lixo deverá ser reavaliada.
Vários são os equipamentos que estão a perfurar poços artesianos aqui no Vale, cabe questionar: teremos água suficiente?
Enfim, as dúvidas são muitas e cabe às autoridades municipais olharem para frente e quiçá obterem compensações desses novos empreendimentos, como fez o hotel e centro de convenções, que construiu um acesso para a linha Garibaldina.
Coisas fáceis de resolver? Até pode ser que sim, mas quando se depende da vontade política e de tirar recursos dos investidores, nada fica fácil….
*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.