Vale dos Vinhedos: Ano 2025 – (3)

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Fazendo-me de Turista nos últimos 10 dias pelo Vale dos Vinhedos, acompanhei a filha e o genro holandês pela região. Juntos tivemos a oportunidade de conversar com proprietários de vinícolas, donos de restaurantes e pousadas, bem como produtores, portanto, muitos dos atores do Vale. Há pessimistas, otimistas e esperançosos pelo Vale!

por Werner Schumacher*


Muitos não acreditam que todos oito investimentos anunciados não sairão, pois dependem de investidores externos, ou seja, os projetos não contam com recursos próprios. Alguns parecem estar já ansiosos, pois colocaram vendedores nas ruas e estradas do Vale para atacarem os passantes e promoverem seus projetos, inclusive, com certa agressividade, como bem mostrou reportagem do Jornal Serra Nossa.

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Mas esses investimentos matarão a GALINHA DOS OVOS DE OURO do Vale dos Vinhedos?

A bem da verdade, são muitas as galinhas de ovos de ouro e no modesto pensar deste que escreve, são as seguintes:

1. PAISAGEM
2. MORADORES
3. PRODUTORES
4. VINHO
5. ATENDIMENTO
6. ALIMENTAÇÃO & HOSPEDAGEM

A paisagem é o patrimônio Nº 1 do Vale dos Vinhedos, mas pouco se está cuidando dela. Não resta dúvidas de que a maioria dos turistas que visitam o Vale desejam estar em meio à natureza. Deveria se ter um maior controle sobre o que se quer fazer e o que se poderia fazer dentro de um plano arquitetônico e paisagístico do Vale. Há outdoors, placas de sinalização de toda espécie, poluindo a paisagem de forma absurda e agressiva. Enfim, não há controle, é a casa da mãe Joana e, como digo há décadas, o Vale corre o risco de virar o bairro Santa Felicidade de Curitiba, antes com vinhedos e vinícolas, hoje totalmente urbanizado.

Os moradores ou aqueles que verdadeiramente criaram o Vale dos Vinhedos são pessoas muito hospitaleiras. Lembro um festival de balonismo que os balões desceram nas propriedades de alguns moradores e, uma família recebeu o pessoal do balão, convidou pra tomarem café, provar o vinho colonial, etc. e tal, aproveitaram pra vender queijo e salame e seus produtos… e outro uma senhora agradeceu terem escolhido a propriedade dela, pois estava depressiva e uma alegria brotou do seu coração ao ver tão belo balão, dá até poesia. Nas comunidades se realizam muitas festas, duas ou três por ano em cada uma, são muitas, mas muito pouco aproveitadas do ponto de vista turístico.

De certa forma o Vale dos Vinhedos meio que ignorou os moradores e produtores!
Já os produtores, é um problema à parte, pois poucos são, pra não dizer nenhum, que produz uvas para fornecer as vinícolas locais e isto é um grave erro, uma vez que o turismo, principalmente, em um meio rural, é um esforço comunitário e, por outro lado, a inveja, um pecado capital, poderá fazer moradores falarem mal uns dos outros, entre outras. As comunidades não são mais os centros de soluções de problemas, de projetos e discussão de assuntos de interesse comunitário.

A Denominação de Origem Vale dos Vinhedos deveria incluir os produtores do Vale!

O vinho, por sua vez, é o centro das atenções, mas única e exclusivamente o produto, não a região, mais precisamente, o terroir, o produtor, a cultura local, entre outras, diferentemente do que ocorre na Borgonha, onde até as festas religiosas estão relacionadas nos eventos da região demarcada. Uma melhor remuneração dos produtores poderia, no mínimo, manter os jovens no meio rural e este é outro grave problema que favorece a especulação imobiliária.

Resilientes

O atendimento & recursos humanos é sumamente importante. Em um local em que tudo é feito corpo a corpo, nada é “self service”, é preciso ter gente especializada, cada vez mais difícil de se encontrar. Conheço uma moça que em menos de um ano já trocou três vezes de emprego no Vale por passar a ganhar mais; Ótimo, mas está se formando uma verdadeira batalha entre empresas na contratação de mão de obra. Proprietário de restaurante disse que treina funcionários e três meses depois o perde porque outro deu 100 ou 200 reais a mais. Em um restaurante aqui no Vale, sem menu ou carta de vinhos, apenas acessível pelo celular, onde uma única operadora está, mesmo com wi-fi, há de se considerar que muitas pessoa ainda têm dificuldades em ser hábeis com celulares e se não bem configurado, pode ser difícil ler. Pior, a garçonete estava há uma semana no restaurante, não sabia exatamente nada. A espera pelo prato era de 1 hora… menos mal que a comida foi boa e preferimos beber apenas água, nos adaptamos à situação, fomos resilientes.

O atual Vale dos Vinhedos (Crédito: Werner Schumacher)

Satisfatório

Alimentação e hospedagem são bons atributos, muito embora haja certa falta de diversidade, a gastronomia colonial e italiana está muito presente, salvo raras exceções, é a tônica. Nos últimos anos surgiram cafeterias e, mais recentemente, wine bar. Em matéria de hotéis e pousadas, ambos com boa taxa de ocupação, estamos bem servidos, surgindo novos empreendimentos, digamos a contento ou satisfatório.

As galinhas dos ovos de ouro não morrerão, mas a produção de ouro pode ser afetada. É preciso entender que a vida é um eterno aprendizado, eternamente mutante, a receita de ontem, pode não ser a de hoje.


*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.

Vale dos Vinhedos: Ano 2025

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