Dentro do tradicional bairro do Bixiga, próximo ao Hospital Beneficência Portuguesa e à avenida 23 de Maio, um conjunto de prédios antigos sempre chamou a atenção por sua arquitetura eclética e sem restauração. Ora com bandeiras de ocupação, ora com ar de abandono total, o espaço tem nome de batismo – Vila Itororó – e há três anos ganhou uma renovação desejada há um século: seu idealizador sempre sonhou em fazer dali um centro de cultura para moradores e comunidade, mas nunca conseguiu. Hoje o local se veste de Centro Cultural.
Aqui, um pouco da história da Vila Itororó e um relato de uma jornalista que conheceu o espaço em uma noite de inverno para ver um show de rock. Uma boa combinação e uma grata surpresa.
*Por Clara Ribeiro, do DIÁRIO
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Você, paulista, conhece a Vila Itororó? Pouco divulgado, o local hoje é um Centro Cultural gerido pela Prefeitura de São Paulo, mas suas construções com estilos arquitetônicos variados datam do início do século XX. Localizado na Rua Maestro Cardim, esse espaço exótico foi palco do show do ícone gaúcho Marcelo Gross na sexta-feira (12), que antecedeu o Dia Internacional do Rock, celebrado todo 13 de julho.
Gross, guitarrista e fundador da banda Cachorro Grande, que comemora 25 anos de estrada, tocou sucessos da carreira solo e alguns compostos para a banda, em meio a edificações pitorescas carregadas de muita história. Parte intactas, parte desgastadas ou até desmoronadas, as construções levam o visitante de volta a mais de cem anos.
Música e história
O palco fica em uma área coberta, perfeito para shows intimistas, como foi o caso da apresentação da turnê Grossroads, em que o músico está acompanhado por Eduardo Barretto, Lucas Leão e Jimmy Pappon. Houve quem quisesse assistir sentado e, ao fundo, houve quem preferisse curtir em pé. A acústica excelente garantiu a satisfação de quem aprecia rock and roll, sem precisar estourar as caixas de som. A equalização estava milimetricamente bem feita.
No entorno, ao bom e alto som da banda liderada por Gross, uma volta a 1922 – o ano que simboliza o destaque do Modernismo brasileiro -, quando começaram a ser construídos os prédios sob a liderança de Francisco de Castro, um empreiteiro português. O nome da vila vem do Riacho Itororó que por ali passava e que depois foi canalizado. No lugar, uma grande piscina, moderna para a época, foi construída para uso público. Aliás, Castro queria no local uma vila em que se pudesse oferecer cultura à comunidade.
Decadência e renovação: um presente para SP!
O objetivo dos edifícios nunca foi concretizado até então. Somente serviu como moradia. Na década de 1940 a vila foi ‘invadida’ e se tornou uma espécie de cortiço. Em 1970, os sinais de deterioração tomaram conta dos prédios e ficou abandonado. Outras invasões ocorreram até que se tornou patrimônio histórico e desapropriada para fins culturais em 2013.
As obras de restauro tiveram início em 2016, com a primeira etapa entregue em 2019. Enfim, o Centro Cultural Vila Itororó nasceu no mês de setembro de 2021, num pós-pandemia que pedia por mais espaços públicos a céu aberto para quem quer respirar arte e cultura.
Além de apresentações musicais, como show do Marcelo Gross, a casa hoje oferece uma agenda diversa, gratuita e sem necessidade de agendamentos. Há teatro, cinema, circo, oficinas, ativações e demais ações para todos os gostos e idades.
E tudo no lugar é aproveitado. O que parece ser escombro, vira um espaço para arte. Até mesmo a enorme piscina, citada aqui anteriormente, faz as vezes de um cinema peculiar a céu aberto ou então um palco para espetáculos únicos.
Apesar de escondido em meio a uma vastidão de prédios modernos e a pressa de todo dia, a Vila Itororó é um lugar que vale a pena ser descoberto e usufruído. Para conferir a programação, siga o Centro Cultural nas redes sociais e conheça mais em seu site oficial.
*Fotos do dia da visita por Luciana Morgado
