No mundo do vinho se acredita em muitos indícios, nada provado cientificamente, constituindo-se em meras evidências e uma dessas evidências é que os melhores vinhos são produzidos por vinhas velhas.
por Werner Schumacher*
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Após 25 ou 30 anos de produção um vinhedo é arrancado e substituído por um novo, pois deixa de ser economicamente rentável. Por outras razões que não a econômica, alguns vinhedos resistiram a essa demanda e ainda estão em produção até os dias de hoje.
Não há uma definição clara do que é uma vinha velha, alguns atribuem a aquela com mais de 30 anos, outros com mais 50 anos e há ainda as centenárias.
Entre as centenárias há uma vinha velha em Maribor, na Eslovênia, que dizem ter sido plantada na Idade Média, portanto com mais de 400 anos e certificada com o Guinness – Livro dos Records.
Para tanto, medições profissionais com ajuda de um microscópio foram feitas por professores da Faculdade de Biotecnia de Ljubljana, cuja contagem de anéis de crescimento revelaram em 1972 que a vinha velha tinha pelo menos 350 anos.
A contagem de anéis também determina quantos anos a cortiça de um sobreiro cresceu para poder virar rolha.
A vinha velha Maribor sobreviveu a invasão otomana, a incêndios, a 2ª Guerra Mundial e a devastação devido ao piolho filoxera, pois suas raízes profundas no cascalho do rio Drava, não foram atingidas pelo parasita.
Em 1963, uma barragem foi construída e surgiram graves problemas para a vinha velha, pois o nível do rio começou a subir e o equilíbrio de longa dará do sistema radicular foi prejudicado. Felizmente, um grupo de especialistas impediu a retirada da vinha e a demolição da casa, também revitalizaram a vinha velha e ela sobreviveu, muito embora seu fim tenha chegado perigosamente perto.
O recorde é questionado por alguns que afirmam estar em Santorini na Grécia vinhas mais velhas e outros atribuem estar na China.
Eurocentrismo ou não, o que importa é que no final de 2020 a vinha velha se tornou um Símbolo da Amizade, pois 228 enxertos dela haviam sido plantados em todos os continentes abrangendo 29 países.
Quanto às vinhas velhas produzirem melhores vinhos ou não? Veremos mais adiante.
Vale dos Vinhedos, 4 de outubro de 2021
*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.