Nas Igrejas os Vitrais se tornaram ferramentas utilizadas para evangelizar
por Paulo Atzingen*
A arte dos vitrais é muito antiga e desembarcou no Brasil no século 19, oriundo da França, Alemanha e Itália. No entanto, somente no final do século passado a produção e o uso nas construções, nos museus, nas casas e nas igrejas tiveram início em cidades brasileiras e, evidentemente, onde ocorreu a colonização de países com a tradição vidreira. Foi o caso de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
O DIÁRIO, em recente visita àquela cidade, esteve na Catedral de Petrópolis e lá conheceu a pesquisadora Elizabeth Maller, pós-graduada em História, Social, Política e Econômica do Brasil- UCP. Elizabeth deu uma aula sobre essa arte utilitária, tão bela, quanto transcendental e misteriosa. “O interesse pelos Vitrais surgiu da necessidade de aprofundar meus conhecimentos no campo da Liturgia, já que a função dos Vitrais é refletir a palavra de Deus através da luz”, disse Elizabeth na entrevista concedida ao DT. Durante a visita, Elizabeth explicou detalhadamente a história contida em quase todos os 38 vitrais da catedral. Desta entrevista, fizemos a síntese desta experiência:
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DIÁRIO – Quais as principais igrejas, além da Catedral, que possuem vitrais representativos em Petrópolis?
ELIZABETH MALLER – Alem da Catedral de São Pedro de Alcântara temos a Igreja do Sagrado Coração de Jesus; Igreja de Santo Antonio; Santa Sant’Anna e São Joaquim e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Todas com características Neo Góticas.
DIÁRIO – Você acredita que a arte é transcendental e dialoga com todas as fés?
ELIZABETH MALLER – A arte por si só é transcendental. Ela se perpetua através da interpretação do autor a cerca de um fato ou de uma narrativa. No caso das Igrejas, os Vitrais se tornaram ferramentas utilizadas para evangelizar.
DIÁRIO – Fale especialmente dos principais vitrais da Catedral.
ELIZABETH MALLER – A Catedral possui 38 Vitrais, incrustados nas paredes e nos para-ventos. Alguns foram confeccionados na França, no Atelier Champigneulle e doados pela família imperial, os de São Pedro de Alcântara, padroeiro do Império Brasileiro e do Brasil e Santa Elizabeth de Hungria. Vale mencionar o de São Francisco de Assis e Santa Teresa D’Avila, também confeccionados na França. Os primeiros Vitrais que vieram de Paris, em número de quatro, confeccionados sob o desenho de X. Josso, entre 1928 e 1933 no Atelier Champgneulle. Os Vitrais do Mausoléu da Família Imperial, localizado no Interior da Catedral, representam além da liturgia um pouco da História do Brasil e de nossa Cidade. Nele encontramos em destaque, o Vitral confeccionado pela Casa Alberto, em 1939, onde podemos contemplar o Jesus Crucificado e a seus pés um escravo cujas correntes do pulso estão arrebentadas, fazendo alusão ao sofrimento dos negros escravizados e comparando-o ao do Crucificado. As gotas de sangue que caem da fronte de Jesus quebram as correntes do escravo. Ao fundo a Serra dos Órgãos, o Morro da Alcobaça e as colunas da Catedral de Petrópolis, no inicio de sua construção. Ao centro a rosa de Ouro, presente do papa leão XIII a Princesa Isabel pela Abolição da Escravatura. Outra característica são os poemas que D.Pedro II escreveu no exílio. Um para D.Teresa Cristina e o outro para expressar seu amor pelo Brasil.
O Vitral de São Pedro de Alcântara possui característica peculiar. O Santo é erguido por um anjo. Foi à forma na qual o autor encontrou para descrever o “Dom” de levitar de São Pedro de Alcântara.
O da Santa Eucaristia, localizado atrás do Altar primitivo da Catedral, também merece destaque. Nele o autor retrata Jesus na Eucaristia com os Apóstolos, e coloca no mesmo cenário, obscuramente, a figura de Judas, que observa a todos atentamente. Cada Vitral possui a representação de um trevo de quatro folhas, que representam os quatro Evangelistas.
Há também, um Vitral que retrata do batismo do Rei Clovis, Rei dos Francos. O de Santa Rosa de Lima, Padroeira do Peru, a primeira Santa das Américas.
Os Vitrais localizados no Batistério são também muito importantes. Nele estão retratados o Batismo de Constantino, ao qual atribuímos o Credo Niceno e o Batismo do índio Diogo pelo Santo Padre Jose de Anchieta e o Batismo de Jesus Cristo por João Batista.
Concluindo, podemos afirmar que a Catedral de São Pedro de Alcântara simbolizada a Glorificação de Deus, num verdadeiro tesouro artístico, o entusiasmo religioso do povo petropolitano que superou todas as dificuldades e obstáculos à sua construção.
A Catedral de São Pedro de Alcântara é um local de contemplação cuja beleza arquitetônica nos eleva ao Divino.
DIÁRIO – Quando essa sua especialidade surgiu?
ELIZABETH MALLER – Na verdade me considero uma pesquisadora. O interesse pelos Vitrais surgiu da necessidade de aprofundar meus conhecimentos no campo da Liturgia, já que a função dos Vitrais é refletir a palavra de Deus através da luz.
Quem é Elizabeth Maller
Elizabeth Maller é bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Historia- UCP, Pós-graduada em História, Social e Politica e Econômica do Brasil- UCP; juiza de Paz, Associada Titular do Instituto Histórico de Petrópolis cadeira número 31 e Membro da Comissão Diocesana de Liturgia e Patrimônio Cultural da Diocese de Petrópolis.
*Matéria publicada originalmente dia 21 de junho de 2018